sábado, 18 de fevereiro de 2012

Noventa anos de Semana da Arte Moderna - FEV 1922-FEV 2012


Um dos cartazes da «Semana», satirizando os
grandes nomes da música, da literatura e da pintura... (fonte:imagem do Google)
    
Entre as datas importantes de 2012 a Semana da Arte Moderna é destaque, pois nos dias 13,15 e 17 marcam-se os noventa anos do movimento revolucionário na Literatura Brasileira com um grupo de artistas, que embora sem consciência clara e definida do que desejavam,sentiam que era preciso renovar nossa literatura, mas mesmo assim,sem saber exatamente o que queriam, tinham por objetivo “arejar” o ambiente cultural nas primeiras décadas do século XX. A História consagrou o acontecimento como marco fundamental da introdução da arte moderna no Brasil.

Grandes nomes fizeram parte desse movimento, tais como Oswald de Andrade, Menotti Del Picchia, Mário de Andrade, Ronald de Carvalho, Villa Lobos, Graça Aranha entre outros que embora divergissem profundamente quanto às ideias da renovação pretendida uniram-se em favor da arte moderna. Um fato marcante acontecido anteriormente que segundo Mário de Andrade provocou “uma primeira consciência de revolta e de coletividade em luta pela modernização das artes brasileiras” foi a exposição realizada por Anita Malfatti, na época com 21 anos, que recebeu uma crítica de Monteiro Lobato com grande repercussão fazendo com que os quadros vendidos no primeiro dia de exposição fossem devolvidos, assim gerando aproximação desses novos artistas que se uniram em defesa das novas formas de expressão. Monteiro Lobato comparou a arte de Anita Malfatti aos desenhos feitos pelos loucos nos manicômios, em seu artigo intitulado “Paranóia ou mistificação?”

No fim de 1921 intensificaram-se os contatos entre os jovens artistas de São Paulo e Rio de Janeiro que resolvem aderir às novas ideias culminando na semana da Arte Moderna em 1922 com exposição no salão do Teatro Municipal em SP dos artistas Victor Brecheret, Anita Malfatti, Di Cavalcanti, Vicente Rego Monteiro entre outros. No dia 13/02/1922 Graça Aranha abre a Semana com a palestra “Emoção Estética na obra de Arte” propondo a renovação das artes e das Letras,seguido de apresentações de Villa-Lobos e conferência de Ronald de Carvalho sobre pintura.No dia 15 foi a noite da polêmica com a palavra de Menotti Del Picchia sobre a “Arte Moderna”,onde reivindicava com palavras enfáticas liberdade e renovação nas artes provocando vaias e solicitação de apartes. No intervalo, perante um público espantado com as obras expostas no salão Mário de Andrade faz uma rápida palestra sobre a arte moderna nas escadarias e é vaiado e o povo começou a caçoar das obras causando um grande tumulto. Nesse mesmo dia Ronald de Carvalho declamou o poema “Os Sapos” de Manuel Bandeira que ridicularizava o Parnasianismo com suas formas perfeitas  e foi acompanhado também de vaias,assovios gerando uma gritaria geral. No dia 17, data de encerramento da Semana mais um escândalo gerando alvoroço na platéia que achou  provocação do compositor Villa-Lobos apresentar-se de casaca e chinelos... mas o motivo dessa estranha combinação nada mais era que o fato do mesmo estar sofrendo com um calo no pé não tendo condições de usar sapatos.                                                                                                                                                                                                                                     
 
O que esses jovens artistas queriam na realidade nada mais era que uma arte nacional, afinada com as tendências vanguardistas da Europa, pois pretendiam redescobrir o Brasil, libertando-o das amarras que o prendiam aos padrões estrangeiros; negavam a arte “acadêmica” em favor de uma arte nitidamente brasileira.
 
Marcos Augusto Gonçalves para celebrar os 90 anos da Semana da Arte Moderna lançou recentemente o livro "1922 - A Semana que Não Terminou" (Companhia das Letras) onde conta boas histórias dos bastidores da Semana da Arte Moderna bem como expõe as contradições da semana que virou marco do modernismo e inclui ainda entrevistas com intelectuais a exemplo de Antonio Cândido, e audição de depoimentos de artistas como do pintor Di Cavalcanti.

Texto publicado no Fato Constante

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