terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Cândido Portinari – um pintor digno de todas as homenagens


 
                                     Pintura a óleo sobre tela 100x 81 cm
                    “Lavrador de café” Portinari. 1934 (Fonte: imagem do Google)

Cândido Portinari (Brodowski, 29 de dezembro de 1903 — Rio de Janeiro, 6 de fevereiro de 1962) foi tema da Escola de Samba Mocidade Independente de Padre Miguel na Sapucaí no Rio de janeiro. Embora as pessoas continuem não valorizando os grandes nomes da arte,Portinari vem sendo lembrado neste ano de 2012 ao ter completado 50 (cinquenta) anos de sua passagem deixando inúmeros trabalhos marcantes na história da pintura brasileira sendo um dos pintores brasileiros a alcançar maior projeção internacional.


“O Lavrador de café” acima faz menção à temática social das mais recorrentes em Portinari que, só sobre esse tema, realizou cerca de 50 obras, tendo recebido, em 1935, a 2ª Menção Honrosa do Carnegie Institute, em Pittsburgh, nos EUA pela tela “Café”, hoje pertencente ao Museu Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro. É uma das telas mais famosas de Cândido Portinari , cuja data é confusa,mas  para o MASP (onde encontra-se esta tela) ela teria sido elaborada em 1939, mas para o Projeto Portinari  a obra data de 1934.


No sentido de destacarmos o valor de seu trabalho reproduzo aqui uma análise feita em meu blog (Arte-Fonte de Conhecimento) destinado a alunos do Ensino Médio, pois é importante observar os pormenores do quadro para entendê-lo melhor. "O Lavrador de Café", pintura que mede 1 metro por 80 centímetros retrata um trabalhador negro em uma fazenda de café do início do século XX e, está entre as obras mais conhecidas do artista e é importante representação desse interesse de Portinari pela temática nacional.


No quadro O Lavrador de Café o modelo aparece bem mais musculoso do que o normal.  A figura deformada com pés e mãos enormes é o que aproxima do Pintor Portinari o expressionismo. Aumentar o tamanho do corpo de seus personagens era o jeito que o artista usava para mostrar a importância do trabalhador brasileiro.


 Essa deformação expressiva, notadamente a dos pés e das mãos de grandes figuras dramáticas e comoventes pode ser considerada uma das características marcantes do pintor. Em primeiro plano, centralizada, aparece a figura do lavrador com os detalhes dos pés e das mãos disformes expressos de maneira exagerada. Pode-se mesmo comparar o tamanho das mãos e dos pés com o tamanho da cabeça. Destaca-se também a enxada em sua mão direita, com a base de tamanho exagerada, assim como seus pés e mãos. As calças brancas do lavrador contrastam com o chão escuro. Sobra pouco espaço acima e abaixo do lavrador, no quadro. O pintor nos mostra a forte atuação do trabalhador rural na lavoura do café.


A árvore decepada, a direita conota desmatamento, fim da mata natural. É a mudança da paisagem proporcionada pela cultura do café. Em segundo plano, aparecem os montes dos grãos já colhidos. A iluminação ressalta os picos dos montes, na cor amarelada. Entre eles, um dos montes aparece na cor verde e nele estão presentes algumas arvorezinhas.


Ao fundo temos inúmeras figuras de pés de café, tanto na superfície plana como nos morros. Percebe-se que parte das plantações dos pés de café já está indo em direção ao espaço reservado para seleção e ensacamento. Com esses detalhes, percebe-se a superprodução ai registrada. O olhar do lavrador é expressivo e nele predomina a preocupação. Tem-se a impressão de que ele sente a ação devastadora da exploração que o homem faz na natureza.


Quando se observa esses detalhes que compõem o quadro, começamos a entender o efeito da figura do lavrador que de imediato se destaca na paisagem. A cena que é colocada numa colina da qual se vê uma extensa e longínqua paisagem com uma faixa de céu ao fundo, destaca a parte superior do lavrador. A grande plantação que se estende para além da colina é relativamente pequena em contraste com o tamanho do lavrador.
Outro elemento presente no quadro é o trem, colocado entre os pés de café e os montes de grãos. Sabe-se que era o trem o meio de transporte utilizado para enviar a produção cafeeira até Santos para ser exportada aos diversos países, em especial, aos Estados Unidos.


A figura do trem nos permite refletir sobre a história de município, pois como registra Lima (LIMA, Roberto Pastana Teixeira. Amparo: Flor da Montanha. São Paulo: Nova América, 2006.), "o café e a ferrovia sempre andaram juntos."


Observar as obras de Portinari, entendê-las em seus vários contexto é um exercício que vale a pena. O Lavrador de Café é uma das obras mais felizes da pintura social de Portinari, pela concretude que o artista passa em relação ao trabalho humano, a realidade ante ao instrumento desse labor, nessa obra Portinari fundi diversos momentos do trabalhador, tanto agrícola quando operário da construção, quando ele coloca outra paisagem que contrasta com a natureza transformada pelo homem, uma paisagem que surge com o modernismo que é a estrada de ferro e o trem, para Fabris é outra dimensão do trabalho desenvolvido pelo homem que diz: ”O escultório negro da enxada, cuja fisionomia parece derivar daquela do carregador de Café, ergue-se dominador numa paisagem em que o esforço humano é visível no trabalho já feito (cafezal) e no trabalho por fazer (terra roxa ainda não plantada). A presença do trem é um recurso significante de que se serve o pintor: é a outra dimensão do trabalho humano, é a mesma presença do homem lavrando a terra ou abrindo estradas.”

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