HISTÓRIA REGIONAL 2 - RO

por Emmanoel G.da Silva


EMMANOEL GOMES DA SILVA É PROFESSOR, HISTORIADOR E MEMBRO DA ACADEMIA VILHENENSE DE LETRAS.


Fonte: http://folhadevilhena.com.br/
emmanoel-mardulce@hotmail.com









MADEIRA MAMORÉ CEM ANOS DE AGONIA E DESPREZO.
EMMANOEL GOMES É HISTORIADOR,
PROFESSOR, ESCRITOR E MEMBRO DA AVL.
 ACADEMIA VILHENENSE DE LETRAS
emmanoel-mardulce@hotmail.com



Sou tentado a escrever sobre o centenário de um dos mais importantes patrimônios históricos do estado de Rondônia. É com profunda ternura que informo ao precioso leitor que as palavras que se seguem são de alguém que ao lado de uma significativa lista de professores, artistas, intelectuais e historiadores, sofrem com o rumo dado ao nosso patrimônio público.
Gostaria de construir um texto alegre e festivo, porém, estranhamente, no centenário dessa ferrovia muito pouco temos a comemorar.
A Estrada de Ferro Madeira Mamoré atinge o seu primeiro centenário e, fora a saudade do apito anunciando sua existência, o ar de modernidade que ela transmitia em região tão isolada, a ideia de cidade ativa, múltipla e viva que um dia existiu, hoje, se transformou em um monte de entulho entre Porto Velho e Guajará.
A “modernidade” levou a paz, levou também o ambiente pacato e saudosista de tempos em que as pessoas se conheciam ao longe quando se viam. A cidade de outrora foi transformada em um ambiente frustrante de violências e mazelas de toda a sorte.
A trajetória da Madeira Mamoré foi marcada por problemas, sofrimentos e momentos fantásticos. Na atualidade a marca é a do desprezo e descaso por parte de uma geração que não aprendeu a degustar os valores da memória e cultura historiográfica que sua sociedade congrega.
A construção desse mito amazônico ocorreu em uma condição tão terrível que ao lado do canal do Panamá, é vista por alguns, como uma das obras mais difíceis de ser realizada na história humana.
O número de mortos lembra uma grande guerra, não existe uma única estatística séria que dê contas do número das vítimas dessa grande epopéia.
Manoel Rodrigues Ferreira em sua obra “A Ferrovia do Diabo” se atêm as vítimas que passaram pelo Hospital da Candelária anunciando o número de mortos entre 1907 e 1912 em 1.552. Mais tarde, na mesma obra aumenta o número dos mesmos, numa espécie de correção ou dor de consciência, para 6.208.
Lembro, que nas estatísticas, não estão incluídos os milhares e milhares de índios que eram vistos como inimigos da civilização e que foram mortos sem grandes problemas.
Não tivemos na história da Madeira Mamoré um padre como Antônio Vieira, que deixou na literatura portuguesa um legado em defesa dos índios brasileiros e da região Amazônica no período colonial.
O único personagem histórico dessas bandas a tentar civilizar os povos indígenas foi Rondon, porém não atuou durante a construção da estrada de ferro Madeira Mamoré, pois estava ocupado no estudo das fronteiras e construção do telégrafo.
O fato, é que a desgraça rondou a história dessa ferrovia, que ainda é envolvida em grandes esquemas de pilantragens e corrupção.
A Madeira Mamoré custou muito caro aos que ousaram enfrentar a realidade amazônica do final do século XIX e início do século XX.
Dessa forma, não podemos deixar de reconhecer sua importância histórica e cultural. A ausência de postura dos governos, autoridades e demais pessoas que colaboraram e colaboram para seu abandono deve ser questionado sempre.
A história da Amazônia é marcada por esse tipo de situação, muitos dos delírios capitalistas milionários manifestos aqui viraram pó.
Podemos citar uma infinidade de obras que por falta de estudo, pesquisa, planejamento, seriedade e respeito aos valores da floresta, rios, seus povos, culturas e sua realidade, produziram desgraças que feriram carnes, ossos, sentimentos e espíritos dos que aliciados ficaram desprotegidos em tão terrível absurdo mundo inóspito.
O Real Forte do Príncipe da Beira, estrutura gigantesca construída em meio à selva entre os anos de 1776 e 1783, não chegou a ser utilizada, sua construção foi equivocadamente autorizada no período em que as minas entravam em declínio e os espanhóis por sua vez não possuíam mais interesses na região em crise.
A Fordlândia, outra catástrofe, localizava-se no estado do Pará em Itaituba, próximo a Santarém, não resultou em outra coisa que não fossem grandes prejuízos.
Usina Hidrelétrica de Balbina que gera a energia elétrica mais cara do Brasil, o rio Uatumã é completamente incompatível com o projeto, um dos maiores problemas ambientais da Amazônia foi gerado ali, pois a região é completamente plana e o lago formado foi muito maior que o planejado e previsto.
Transamazônica, essa história resultante da “inteligência militar brasileira” é bem conhecida de todos, milhões foram investidos em um projeto rodoviário que não recebeu os assentamentos e um ano após foi destruído pelas chuvas torrenciais.
Neste cenário de irresponsabilidade podemos Alencar, infelizmente, mais de uma centena de projetos bilionários que alimentam lobbies, corrupção e todo o tipo de mazela.
Ainda hoje investimentos são feitos através de mega projetos que deixam um rastro de destruição e caos social.
Infelizmente se enquadra nesse cenário a Madeira Mamoré, projeto que ao ser concluído, viu os preços da borracha despencar no cenário econômico e sua utilidade desaparecer.
Uma história com dramas humanos dessa proporção mereceria um destino que não fosse o lixo, pois ela é uma prova da força e coragem e determinação humana.
Ver a ponte do Jaci dentro do rio e parte significativa do barranco do Madeira assorear, em função da irresponsabilidade de grandes empresas, em um período onde as condições tecnológicas permitem todo o tipo de ensaio e previsão é no mínimo criminoso.
As ações públicas que estão sendo feitas no pátio da Madeira Mamoré são simplesmente eleitoreiras, não foram discutidas com a sociedade, nem mesmo com os militantes que por décadas defendem a reativação e restauração de parte da ferrovia.
Os vagões estão sendo usados por drogados e mendigos como banheiros, e para piorar, nossas autoridades não conseguem impedir que a localidade ao longo dos trilhos entre a Praça Madeira Mamoré e Santo Antônio das Cachoeiras amargue altos índices de violência, prostituição e tráfico de drogas.
Quadro que ofende profundamente o morador simples e pacato do “Triangulo” que tem sido a grande vítima de todo o processo amargo e sofrido, no tal “desenvolvimento urbano e social de Porto Velho”.
Uma vez, é claro que não vão lembrar, defendi junto à prefeitura de Porto Velho que qualquer ação de restauro, reconstrução, maquiagem, ou algo parecido, precisaria ser precedida de uma ação que garantisse ao cidadão segurança, paz e tranquilidade. Coisa que nunca aconteceu.
 Sugeri a construção nas proximidades de uma estrutura que pudesse dar condições de trabalho aos policiais militares, pois até eles evitam a região nas noites em finais de semana.
Visitem os armazéns número um e dois, que foram recentemente restaurados e que consumiram ao lado da praça alguns milhões de reais, estão precisando de um novo restauro. Visitem o cemitério da Candelária que também foi restaurada é vergonhosa.
A atuação pública em relação ao nosso patrimônio público foi pífia, amadora, coisa de pilantras ou no mínimo de gente com muita má fé.
Em Rondônia boa parte das autoridades parecem ter feito um pacto contra a saúde, educação, segurança e contra os patrimônios históricos.
Na atualidade, a prefeitura está em conjunto com a empresa Santo Antonio Energia restaurando a rotunda e o galpão onde funcionou a oficina, novamente milhões serão muito mal gastos, pois sem uma política social e cultural contínua e sem a presença de uma ação policial humana que garanta segurança e bem estar dos de bem, estaremos preparando novos banheiros para os degredados e marginais que tomaram posse da localidade.
Não gostaria de construir um texto tão duro e mal humorado, porém não posso entrar na fila dos cegos, surdos e mudos, sempre soube que fui manco! Cego, surdo e mudo social, jamais.
Quem se cala, se faz de gato morto, ajuda aos que se beneficiam com o triste rumo dado ao nosso rico patrimônio histórico e cultural.

  





O professor, historiador e servidor do Tribunal de Contas do Estado de Rondônia Emmanoel Gomes, uma pessoa que milita em prol da cultura amazônica, rondoniana e rondoniense, estará oferecendo ao grande público de Rondônia a primeira obra voltada para o público infanto-juvenil contando toda a história de Rondônia. O livro é uma obra prima, ficou realmente muito bonito colorido e homenageia grandes personagens da nossa história. O professor em recente entrevista afirmou que a obra na verdade possui vários responsáveis, em uma hora de entrevista no jornalismo da rede Bandeirantes em Vilhena o professor deu um show de simplicidade, humildade e carinho quando citou os vários amigos que são presentes em sua caminhada e homenageados no livro, alguns já partiram e deixaram muita saudade, fiz questão de lembra-los, afirmou. Citou o professor Antônio Candido, Abnael Machado, Lúcio Albuquerque, Hugo Evangelista, Esron de Menezes, Escalércio Pires, Mário Miléo, Assis Canuto, Zé-Katraca, Josér Alvarez, Átila Ybanez França, Antônio Campanari, Dadá, Manelão, Rita Queiroz, Miquéliton, Selma Hernandez, Luiz Antônio etc.
Emmanoel ainda trabalha de forma simplificada os grandes personagens da nossa história, Rolim de Moura Tavares, Ricardo de Almeida Serra, Tereza de Benguela, Rondon, Aluísio Ferreira, Teodore Hoosevelt, Teixerão etc. Segundo o historiador Rondônia precisa atingir o público infantil com seriedade.
“Se perguntar-mos aos nossos alunos sobre bichos, plantas, frutas e nomes comuns, elas buscam referenciais de outros locais”, façam a experiência em casa, nossos filhos conhecem mais os leões, girafas e zebras, frutas como maçã, uva e pêra, nomes de pessoas como Ivo, Alessandra etc. Procurei mostrar nossos animais, nossos frutos, culinária, e como somos influenciados por várias culturas, somos um pouco nordestinos, sulistas, índios, negros e europeus etc.
Sabemos que nossa cultura musical poética e literária está cantando esse momento fantástico da miscelânia cultural, afirmou o historiador.
O professor Emanoel é uma pessoa com qualidades raras, tranzita com facilidade entre os produtores culturais de todas as áreas, durante a entrevista recebeu apoio de escritores, historiadores, músicos, alunos e professores, o programa nunca recebeu tantos telefonemas em apoio ao entrevistado.




O POPULISMO BRASILEIRO E SUAS PRINCIPAIS INFLUÊNCIAS NA REGIÃO QUE COMPREENDE O ATUAL ESTADO DE RONDÔNIA


“Bossa nova mesmo é ser presidente
Desta terra descoberta por Cabral.
Para tanto basta ser tão simplesmente
Simpático, risonho, original.
E depois desfrutar da maravilha
De ser o presidente do Brasil.
Voar da Velhacap pra Brasília,
Ver a alvorada e voar de volta ao Rio.


PRESIDENTE BOSSA NOVA, CANÇÃO DE JUCA CHAVES, O MENESTREL DO BRASIL

Com o término da Segunda Guerra Mundial em 1945, os Países que compunham o eixo Nazi-Fascista, foram derrotados, os Aliados saíram vitoriosos, e uma nova Ordem Mundial teve origem.
A Guerra Fria; de um lado, os americanos e seu Capitalismo Liberal, do outro, a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, e sua economia “Socialista”.
O restante dos países vão se organizar de três formas: ou se alinham com a proposta capitalista liberal americana ou com o Socialismo Russo. Ainda existia uma terceira possibilidade: a postura Independente. A verdade é que de alguma forma a chamada Guerra Fria atingiu a todas as nações entre 1948, ano em que foi criado o Estado de Israel e 1989, quando ocorreu a queda do Muro de Berlim.

O Brasil, após a II Guerra Mundial tentou se organizar através de uma democracia Populista, o que ficou conhecido como: República Populista 1945 – 1964.

Populismo no Brasil


Nesta fase republicana tivemos seis presidentes foram os Governos de: Eurico Gaspar Dutra, 1946 -1951, que ficou marcado pelo plano SALTE; Saúde, Alimentação, Transporte e Energia. Getúlio Dorneles Vargas, que retornou ao Governo e acabou se suicidando em 1954, nesta fase foi criada a PETRABRAS em outubro de 1953, através da Lei 2004, para executar as atividades do setor petrolífero no Brasil em nome da União. Coube a Café Filho o término do mandato. Juscelino Kubtschek, 1956 – 1961, foi responsável pelo PLANO DE METAS, entre essas metas estava à construção de uma nova capital para o Brasil, no embalo, por insistência do Governador do então território Federal de Rondônia Paulo Nunes Leal veio à principal rodovia do nosso Estado, responsável pelo desenvolvimento recente de toda a nossa região, incluindo o Acre.   Jânio da Silva Quadros, 1961 -1962, ele acabou renunciando ao mandato presidencial após seis meses de Governo e foi substituído por João Goulart que ficou no Poder até 1964, quando ocorreu o Golpe Militar instituindo a ditadura no Brasil até 1985.

Durante a República Populista, o Brasil adotou uma política internacional dúbia, ora parecia apoiar os Estados Unidos e sua política liberal, em outro momento assumia uma independência que causava estranheza aos americanos. Por outras vezes, tomou atitudes que claramente afrontava a doutrina política do Tio Sam, como no caso da condecoração a Chê Guevara, e ao primeiro astronauta Russo Yuri Gagarin.
Sem falar da aproximação do então Vice-Presidente João Goulart com a China de Mao Tse Tung, é claro que estávamos vivendo um momento raro de democracia, mais a postura de liberdade não era condizente com nossa história de dependência aos Estados Unidos.
A postura “independente” afrontava o ideal americanizado de grande parte das forças armadas Brasileira. Precisamos lembrar que o temor comunista era mais dimensionado ainda em função da revolução Cubana ocorrida em 1959.

Durante esta fase de Governo, quem mais marcou a nossa região, o Território Federal de Rondônia foi o Presidente Juscelino Kubitschek.
No dia 17 de fevereiro de 1956, foi aprovada, a lei que autorizava a mudança do nome do Território Federal do Guaporé, para Território Federal de Rondônia, foi também no Governo JK, que ocorreu a obra de abertura da BR 029, que se tornaria mais tarde a BR 364.
Muito antes, o então Governador do Território Federal do Guaporé, Coronel Aluízio Pinheiro Ferreira iniciara a abertura de uma rodovia, atingindo a marca dos 55 km, como nos informa o Escritor Vitor Hugo em sua obra “Cinqüenta Anos do Território Federal do Guaporé”, na página 54:


“Foi no dia 13 de janeiro de 1945: nesta data, Aluízio Ferreira, primeiro Governador do Território Federal do Guaporé menos de um ano, portanto, desde a sua instalação a 29-01-44 a criação da 2° Companhia Rodoviária Independente, cuja missão era construir uma rodovia de segunda classe que ligasse Porto Velho à Vilhena, no extremo sul do Território, cerca de 800 quilômetros dando assim o primeiro passo concreto para sair do isolamento terrestre com o resto do Brasil”.

No ano de 1960, o Presidente Juscelino Kubitschek iniciou as obras de abertura dessa estrada que foi fundamental para o desenvolvimento do futuro Estado de Rondônia e para Porto Velho. Não podemos deixar de citar o grande empenho do Coronel Paulo Nunes Leal, que à época Governava o Território Federal de Rondônia.
Com a rodovia aberta, também se abriram os caminhos para um novo surto migratório, agora, promovido pelos Governos Militares e sua estratégia de proteção, colonização e defesa da Amazônia.
Juscelino Kubitschek fez uma visita ao local onde mais tarde surgiria o município de Vilhena para, simbolicamente, derrubar uma árvore na divisa entre o território de Rondônia e o Mato Grosso.
Vamos conhecer um pouco mais a história deste presidente que muito marcou nossa história.

 

Juscelino Kubitschek de Oliveira nasceu em 22 de agosto de 1902 em Diamantina, Minas Gerais. Filho de um caixeiro-viajante e de uma professora formou-se como médico na cidade de Belo Horizonte, em 1927. Fez curso e estágio complementares em Paris e Berlim em 1930 e casou-se com Sara Lemos em 1931.

Juscelino e Sara Kubitschek.


Começou a trabalhar como capitão-médico da Polícia Militar, quando fez amizade com o político e futuro governador Benedito Valadares. Nomeado interventor federal em Minas, em 1933, Valadares colocou o amigo como seu chefe de gabinete. A seguir, Kubitschek foi eleito deputado federal 1934-1937, nomeado prefeito de Belo Horizonte em 1940-1945 e realizou obras de remodelação da capital.
Após uma gestão como deputado constituinte, em 1946, pelo PSD (Partido Social Democrático), foi eleito governador de Minas Gerais na gestão de 1950 a 1954. Venceu a eleição para presidente da República com 36% dos votos, numa coligação PSD-PTB com o slogan “Cinqüenta Anos em Cinco”.

Na presidência, construiu hidrelétricas, estradas, promoveu a industrialização e a modernização da economia. Um de seus principais feitos foi a construção da cidade de Brasília e instituição do Distrito Federal, que marcou a transferência da capital federal (até então no Rio de janeiro) em 21 de abril de 1960. Numa era pós-Vargas, seu governo foi marcado por mudanças sociais e culturais como os festivais de música e a moda da bossa-nova. 

Quando terminou o mandato, JK, como era conhecido, foi eleito senador por Goiás em 1962, mas teve seu mandato cassado e os direitos políticos suspensos em 1964 pelo regime militar. Em 1966 tentou organizar uma frente pela redemocratização do país, junto com Carlos Lacerda e João Goulart mas não voltou mais ao poder. Afastou-se da política e dedicou-se ao trabalho como empresário. Morreu em um desastre automobilístico na Via Dutra, na altura da cidade fluminense de Resende, em 20 de agosto de 1976.





Origem de Porto Velho


  MAPA  DE  PORTO  VELHO CAPITAL DO ESTADO DE RONDÔNIA
“Quem te vê assim Porto das Esperanças. O barranco onde os cabrais enfincam âncoras em busca de uma história de alamedas e vãos. Parque das mangueiras e dos araçás aprendi na canção. E colhi teus sinais sobre a dança das correntezas.” Porto das Esperanças -  Bado

Vamos refletir sobre a história de Porto Velho, iniciando pelo nome dessa cidade com trajetória histórica ímpar, e, de imediato, gostaria de contestar a informação de que o nome de nossa capital tenha origem em função da figura de “um certo Senhor Pimentel”.

Essa afirmação não tem qualquer sustentação histórica, inclusive, alguns “historiadores” ainda cometem o absurdo de afirmar que a figura do “Velho Pimentel” é lendária. Muitos seringueiros caçadores, comerciantes, pescadores, com nomes de Raimundo, João e Severino se instalaram nas margens do madeira na localidade que viria a ser um dia a capital do nosso Estado, se houve um Pimentel, com certeza ele teria vários vizinhos com importância na ocupação da localidade.

As lendas e mitos se originam numa manifestação profundamente séria, nos arquétipos construídos pelas experiências populares, ao longo do tempo nas sociedades. Devemos respeitar profundamente as lendas e os mitos. Não criamos lendas e mitos quando queremos, afirmar que a história do velho Pimentel é uma lenda é desvalorizar todas as lendas existentes, pois sua “história” é carente dos elementos característicos nos mitos e lendas.

As lendas são marcadas pela presença de elementos viscerais, absurdos, sobrenaturais e fantásticos. São um capítulo fundamental na rica cultura amazônica.

Vista panorâmica de Porto Velho, início da década de 50. A rua ao centro é a 
Avenida Sete de Setembro. Atual centro comercial de Porto Velho RO

O nome da capital do Estado de Rondônia, Porto Velho está relacionado com a Guerra do Paraguai ocorrida entre os anos de 1864 e 1870.

O conflito ocorreu durante a segunda metade do século XIX, ainda no II Reinado, quando esta jovem nação estava organizava politicamente através de uma Monarquia e tinha como imperador Dom Pedro II, que governou o Brasil entre os anos de 1940-1989.
A Guerra do Paraguai envolveu além do Brasil, o Uruguai e a Argentina, com o apoio da maior economia da época, a Inglaterra. Do outro lado, o Paraguai, que após seis anos de luta acabou sendo completamente arrasado.

Os motivos que levaram à eclosão da guerra foram o interesse brasileiro pela livre navegação do Rio Paraguai, que acabou impondo uma aliança com o Uruguai e a Argentina. A Inglaterra que possuía interesses imperialistas na região.
Por último, o Paraguai, que ambicionava ver suas fronteiras ampliadas tomando posse de parte do território brasileiro localizado no centro oeste, no Mato Grosso.
Foi nesse contexto de conflito armado que surgiu o nome daquele que, mais tarde, se tornaria Porto Velho município do Estado do Amazonas em 1914. Um pouco depois Porto Velho Capital do Território Federal do Guaporé em 1943. Mais tarde muda para capital do Território Federal de Rondônia em 1956 e em 1981 com promulgação em 1982, capital do Estado de Rondônia, hoje nossa cidade.
              PANORAMA CHUVOSO E NOTURNO DA CIDADE DE PORTO VELHO

Com uma conjuntura que apontava para o conflito armado, Dom Pedro II e o comando militar, ficaram preocupados com a fragilidade das fronteiras no extremo oeste do Brasil. Essa preocupação levou a decisão de proteger a região, instalando um contingente militar próximo sete quilômetros da primeira cachoeira a montante do rio Madeira, na vila de Santo Antônio. Localidade pertencente à Província do Mato Grosso, com sua origem ligada ainda ao período colonial fundada por um jesuíta chamado João Sampayo, no ano de 1728.

O contingente militar se instalou no ano de 1865 para corresponder aos interesses militares belicosos da época.
Os militares, na guerra do Paraguai, abriram uma clareira e montaram acampamento na margem direita do Rio Madeira.
Localidade onde em 1865 os militares abriram a clareira e montaram o acampamento que deu origem a cidade de Porto Velho.

Localidade onde em 1865 os militares abriram a clareira e montaram o acampamento
que deu origem a cidade de Porto Velho.
A margem esquerda do rio, nesta época, pertencia à Bolívia. Um pouco mais tarde, com a assinatura do Tratado de Ayacucho em 1867, a margem esquerda do Madeira, entre Vila Murtinho, atual Vila Nova do Mamoré, e a localidade de Calama, passou a compor o território brasileiro.
Os militares ali instalados, onde se localizam hoje os barracões do ponto inicial da Estrada de Ferro Madeira Mamoré permaneceu até o final da guerra, em 1870.

Com o fim da ameaça, da guerra não havia mais necessidade de sua permanência, logo, se retiraram.
Os seringueiros, caucheiros e caçadores, passaram a chamar a localidade de Ponto Velho dos Militares, mais tarde, Porto Velho dos Militares.
Essa é a verdadeira origem do nome da capital do Estado de Rondônia. Se depois disso apareceu alguma pessoa com o nome de Pimentel, não importa, pois o nome já estava definido.
A cidade se desenvolveu em um ritmo lento, seguindo a marcha mansa das águas dos grandes rios amazônicos, acompanhando a locomotiva da impressionante ferrovia.

A história segue seu curso, e, do sopro iniciado pela construção da ferrovia, veio então um povoado. Em função da grande estrutura montada para atender às necessidades da ferrovia o povoado cresceu e aquela pequena localidade foi promovida pelo Governo do Amazonas a município com a Lei n° 752, de dois de outubro de 1914.

Segundo afirma Esron Penha de Menezes, em sua obra “Retalhos Para a História de Rondônia”, página 45.

“Excluída a área que pertencia à Estrada de Ferro Madeira Mamoré, a povoação de Porto Velho se aprofundava na atual Presidente Dutra, que anteriormente se chamava Avenida Divisória, até o “Sítio do Espanhol”, cortado por um igarapé, situado onde foi o Horto Municipal, área limitada hoje pela Rua Afonso Pena e Avenida Sete de Setembro, Rua Gonçalves Dias e Avenida Campos Sales”. “No sentido norte sul, limitava-se pela atual Avenida Almirante Barroso, pela margem esquerda do igarapé das lavadeiras e pela Rua José do Patrocínio”.
                   PANORAMA DE PORTO VELHO EM MEADOS DO SÉCULO XX

Os primeiros bairros de Porto Velho foram Alto do Bode, assim chamado pelos nordestinos que, por não entenderem a língua Inglesa comumente falada na época, afirmavam que os moradores daquela localidade “bodejavam”, pura ignorância.

Baixa da União era outro bairro que mais tarde se desenvolveu próximo à ferrovia, surgiram outras localidades, como a Favela, Arigolândia e Mocambo.

Com a crise atingindo os seringais a nova cidade foi sobrevivendo pacatamente.


O tratado de Ayacucho e Petrópolis


"Vivemos numa época perigosa. O homem domina a natureza antes que tenha aprendido a dominar-se a si mesmo."Albert Schweitzer



Ao centro, o Barão do Rio Branco, articulador político do Tratado de Petrópolis.


Ao estudarmos o Primeiro Ciclo da Borracha, dois tratados destacam-se: Tratado de Ayacucho, assinado em 1867, e o Tratado de Petrópolis 1903. Ambos surgem como iniciativas diplomáticas que objetivavam contornar os litígios existentes entre Brasil e Bolívia nesta longínqua região que se tornara alvo dos interesses internacionais em função de seus ricos e vastos seringais.

O Tratado de Ayacucho de 1867, conhecido também como Munhoz Neto, foi promovido dentro do contexto da Guerra do Paraguai 1864-1870. O Brasil, em função da conjuntura da guerra, precisava se aproximar da Bolívia, o que ocorreu quando da aprovação deste tratado que também ficou conhecido como: tratado de navegação, amizade, limites, fronteiras e extradição. A Bolívia, por sua vez, concedia um vasto território que percorria a margem esquerda do rio Madeira entre Calama, a jusante do rio Madeira um povoado de Humaitá, a montante do rio Madeira em Vila Murtinho, hoje Vila Nova do Mamoré. Antes do tratado a margem esquerda, referente ao trecho citado no rio Madeira, era então boliviana.
Outra questão importante também no tratado era que já se negociava a construção de uma ferrovia superando as cachoeiras e corredeiras do Madeira, para o transporte e posterior comércio da borracha. A questão da ferrovia será ratificada pelo Tratado de Petrópolis em 1903.

Com o advento da borracha, milhares de nordestinos foram aliciados com o objetivo de resolver o problema da falta de mão de obra nos seringais. Problemas relacionados à seca que historicamente assolam a região nordestina, aliada à falta de emprego e renda, tornaram esses pobres trabalhadores um alvo fácil para os aliciadores pagos pelos Coronéis de Barranco, nome dado aos grandes latifundiários proprietários dos seringais na Amazônia.

Os pobres coitados chegavam acabados, esfarrapados, famintos, doentes e mal vistos, rapidamente distribuídos para as colocações, nome dado às localidades onde eram assentadas as famílias.
Os novos visitantes logo percebiam a realidade cruel da nova vida em meio à imensidão verde. Lentamente aprendiam a lidar com a floresta e seu universo, a vida difícil seguia o ritmo moroso das águas desses rios preguiçosos, onde remo e canoa eram como que uma extensão de seus braços e pernas, os rios eram as estradas, principais caminhos amazônicos.

As terras que um dia se chamariam Rondônia começaram receber pessoas, as margens dos rios foram ocupadas, Guaporé, Mamoré, Madeira, Cabixi, Piolho, Corumbiara, Jamari, Jacy, Machado, Pimenta etc.
Todas as localidades dessa terra receberam as marcas dessa nova atividade econômica.
Os novos homens aprendiam também a utilizar a faca de cortar seringa, manipular as ervas, a poronga e todo o processo de defumação da borracha na montagem das pelas. Os homens e mulheres eram inseridos em um mundo diferente onde as normas eram impostas pelos Coronéis de Barranco, seus jagunços a floresta equatorial e seus profundos mistérios.
O ponto de encontro era o barracão, uma espécie de bodega onde os seringueiros comercializavam a borracha e onde os preços favoreciam sempre ao Coronel de Barranco, causando uma eterna dependência econômica.
Foi nesse contexto, que os trabalhadores dos seringais, acabaram por invadir a Bolívia, gerando um grave problema diplomático, envolvendo as fronteiras de cada país.
Com a incapacidade de promover seus seringais e deles extrair lucros, a Bolívia decidiu arrendar a região do “Aquiri”, como era conhecido o Acre, para um agrupamento empresarial multinacional, formado por belgas, franceses e americanos, entre outros.

Após alguns conflitos em que se destacaram as figuras de Galvez, “O Imperador do Acre” e Plácido de Castro “O Libertador do Acre”, a questão se resolveu através da assinatura do “Tratado de Petrópolis”, em 1903.

Uma fotografia de Plácido de Castro, em Carapatá, Acre, tirada por Percy Fawcett, Norte Americano que desapareceu no norte do Mato Grosso, quando buscava vestígios de um povo desconhecido. Em homenagem a ele, mais tarde surgiu o personagem Indiana Jones, em sua trilogia marcada por muitas aventuras.

Segundo o tratado, o Brasil, que foi representado pelo Barão do Rio Branco, se comprometeu a pagar a Bolívia, dois milhões de libras esterlinas, e a construir a Estrada de Ferro Madeira Mamoré para que a mesma tivesse uma saída rumo ao oceano Atlântico, transportando assim os seus produtos.
Outro problema surgiu, o Brasil teve ainda que pagar uma outra indenização no valor de 114 mil libras esterlinas, em função do arrendamento da área em litígio, ao Bolivian Sindicate que nunca atuou na região.
O Brasil assumiu o compromisso de construir a ferrovia. Logo deu início ao processo licitatório, para o mais rápido possível entregar a obra e ficar bem com seu vizinho, a Bolívia.

Uma licitação foi aberta para que se contratasse a empresa construtora da Ferrovia. O vencedor da licitação foi o brasileiro Joaquim Catramby, que logo repassou a concessão ao mega empresário, o norte americano Percival Farquar, que era conhecido como o “Dono do Brasil”, pois possuía vários e grandiosos empreendimentos em diferentes regiões no nosso país.
A Estrada de Ferro Madeira Mamoré, era apenas mais um dos vários empreendimentos do Grupo Farquar no Brasil.
Fraudes, negociatas e corrupção, marcaram os negócios que envolveram a Estrada de Ferro Madeira Mamoré desde o seu início.








LEITURAS PERIGOSAS
 TIRADENTES: LADRÃO DE DENTES DE OURO DOS MORTOS.
A FARSA EM TORNO DE NOSSO PRINCIPAL HERÓI.

EMMANOEL GOMES É PROFESSOR DE HISTÓRIA, HISTORIADOR E MEMBRO DA ACADEMIA VILHENENSE DE LETRAS.

A história do Brasil precisa ser revisitada em quase tudo. Tenho feito essa afirmativa em todas as minhas palestras. Neste artigo gostaria de refletir sobre a história deste que seria o maior herói de nossa pátria.
O título pode até chocar a maioria das pessoas que conhecem somente a versão oficial da história desse personagem, porém a afirmativa é ou deveria ser conhecida dos historiadores e professores de história. Não é nenhum exagero afirmar que este personagem é uma ficção dos republicanos e maçons do final do século XIX e inicio do século XX.

A maioria dos nossos personagens pátrios são projeções daquilo que nossas elites gostariam de ter sido e não foram.
Vários autores como: Dr. Otto de Alencar de Sá Pereira, livre-docente da Universidade Católica de Petrópolis, autor do livro “Diálogos Monárquicos”. Hipólito da Costa "Narrativa da Perseguição". Martin Francisco Ribeiro de Andrada III com o livro "Contribuindo" editado em 1921, entre outros, lançam as dúvidas que derrubam o heroísmo histórico do personagem ora visto.
Além desses autores, uma gama enorme de novos estudiosos vem revelando o quanto nossa história é composta por grande quantidade de eventos e personagens resultado da pura intenção de se legitimar os ideais elitistas e coronelescos deste país.
Os historiadores “oficiais” insistem na idéia do “documento” como instrumento legitimador da história. Como se os interesses de grande parte dos poderosos, alheios a ética e verdade, não pudessem escrever nos “documentos” aquilo que era dos seus interesses. 

A maioria dos historiadores e professores de história deve lembrar que foi essa mesma elite que manteve a maldita escravidão, a infame concentração de terras e rendas, o atual sistema tributário que denigre a todos nós, os autoritários sistemas políticos que por centenas de anos impediram a democratização da sociedade brasileira.
A mesma elite política que desde o tempo de Cabral já se utilizava de instrumentos como a mordaça, degredo, cinismo e corrupção para seu enriquecimento.
Os documentos históricos produzidos por essa ótica devem ser profundamente questionados dentro dos princípios da transparência, razoabilidade, criticidade, politicidade e verdade.
Vamos refletir a história de Tiradentes buscando esses conceitos. Ele foi membro da Inconfidência Mineira ocorrida no ano de 1789, na cidade de Vila Rica, atual Ouro Preto Minas Gerais. Foi transformado em herói pelo movimento republicano brasileiro, movimento que criou um modelo de república tão ruim que entrou para a história do Brasil como “República Velha ou República dos Coronéis”. A prática política era tão corrupta ou até pior que a praticada no período imperial do Brasil.
Nosso maior herói, membro pobre da maçonaria, foi personagem de uma conspiração que nem chegou a acontecer, pois foi delatada, dedurada, por Joaquim Silvério dos Reis, um dos maçons que era membro do tal levante.
Não tenho a intenção de diminuir ou ridicularizar a nossa história, pois temos centenas de milhares de grandes figuras históricas que merecem nosso respeito, poderia citar: Antônio Cândido, o Almirante Negro da Revolta da Chibata, Zumbi do Palmares, Tereza de Benguela a Rainha Negra do Vale do Guaporé, Candido Rondon, um dos maiores sertanistas do mundo, Ajuricaba da tribo dos Manaós, Lucas Dantas, Luiz Gonzaga das Virgens, Manuel Faustino dos Santos Lira e João de Deus Nascimento, ambos integrantes da Revolta dos Alfaiates na Bahia, Manoel Barbeiro, Patriota, Joaquim Antônio, membros da Cabanagem ocorrida no Pará, Plácido de Castro o Libertador do Acre, os fortes homens e mulheres que lutaram pelo ideal de Canudos etc.
Esses possuíam muitos defeitos para as elites, ou eram negros, índios e pobres, ou ainda, lutaram contra o modelo tupiniquim de República retrograda do Brasil do café com leite.
Se olharmos para os heróis nacionais de outros países, veremos que marcaram seu tempo e país com atos de bravura, expondo suas valorosas qualidades, como a honra, solidariedade, defesa dos ideais de liberdade etc. Podemos citar a Joana Darc na França, Gandhi na Índia, El Cid na Espanha e Abrahan Lincoln nos EUA.
Nosso Tiradentes não ficou conhecido nem pelo nome verdadeiro e sim por um apelido. Existe uma série de dúvidas sobre este personagem, muitos autores revelam coisas terríveis, há quem afirme que nosso “herói”, recebeu este apelido em função de roubar os dentes de ouro dos mortos. Segundo alguns textos nosso herói não teria sido enforcado e nem sofrido o esquartejamento.
Em 1969, o historiador carioca Marcos Correa estava em Lisboa quando viu fotocópias de uma lista de presença na galeria da Assembléia Nacional francesa de 1793. Correa pesquisava sobre José Bonifácio de Andrada e Silva e acabou encontrando a assinatura que era o objeto de suas pesquisas. Próximo à assinatura de José Bonifácio, também aparecia a de um certo Antônio Xavier da Silva. Correa era funcionário do Banco do Brasil, se formara em grafotécnica e, por um acaso do destino, havia estudado muito a assinatura de Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes. Concluiu que as semelhanças eram impressionantes.
Tiradentes foi preso no Rio de Janeiro, na Cadeia Velha, e seu julgamento prolongou-se por dois anos. Durante todo o processo, ele admitiu voluntariamente ser o líder do movimento, com culpa exclusiva, uma atitude tipicamente de um “bode” maçônico, e mesmo porque tinha a promessa que livrariam a sua cabeça na hipótese de uma condenação. Em 21 de abril de 1792, com a ajuda de companheiros da maçonaria, foi trocado por um ladrão. O carpinteiro Isidoro Gouveia.
O ladrão havia sido condenado à morte em 1790 e assumiu a identidade de Tiradentes, em troca de ajuda financeira à sua família, oferecida a ele pela maçonaria. Gouveia foi conduzido ao cadafalso e testemunhas e testemunhas que presenciaram a sua morte se diziam surpresas porque ele aparentava ter bem menos que os 45 anos de idade que tinha Tiradentes.
No livro, de 1811, de autoria de Hipólito da Costa, “Narrativa da Perseguição” é documentada a diferença física de Tiradentes com o homem que foi executado em 21 de abril de 1792. O escritor Martim Francisco Ribeiro de Andrada III escreveu no livro “Contribuindo”, de 1921: “Ninguém, por ocasião do suplício, lhe viu o rosto, e até hoje se discute se ele era feio ou bonito.
O corpo do ladrão Gouveia foi esquartejado e os pedaços espalhados pela estrada até Vila Rica, atual Ouro Preto, cidade onde ocorreu a Inconfidência Mineira. A cabeça foi salgada e colocada em uma gaiola presa numa estaca no centro da Praça de Santa Quitéria, hoje Praça Tiradentes. Foi roubada no dia seguinte, por membros da maçonaria, para que a farsa não fosse descoberta.

IMAGEM DE TIRADENTES OU IMAGEM DE JESUS CRISTO?
Gostaria de convidar o leitor para comigo, fazer uma pequena comparação histórica. Tiradentes teve sua imagem construída em profunda semelhança com a de Jesus Cristo. É até complicado separar um do outro. Jesus era acompanhado por seus apóstolos. Tiradentes era acompanhado por seus inconfidentes. Tanto entre os apóstolos como entre os inconfidentes não existiam mulheres. Jesus foi traído por Judas em troca de um punhado de moedas de ouro. Tiradentes foi traído por Joaquim Silvério dos Reis por um punhado de moedas de ouro. Jesus assumiu toda a responsabilidade, acabou sendo executado sozinho. Tiradentes assumiu toda a responsabilidade e teria sido executado também sozinho. Judas se enforcou por conta do profundo arrependimento. Joaquim Silvério dos Reis também se enforcou.
Meus queridos alunos, sem rodeio, sem ingenuidades, sabendo o país que temos os dirigentes políticos que temos os historiadores a serviço da legitimação dos ideais, patriarcal, branco, latifundiário, cristão, autoritário que temos. Fica a pergunta: até quando vamos levar esta farsa?


UM BREVE COMENTÁRIO PARA O PROFESSOR NAZARENO

EMMANOEL GOMES, PROFESSOR, HISTORIADOR, MEMBRO DA ACADEMIA VILHENENSE DE LETRAS


Professor Nazareno, meu amigo. Sinto, já há algum tempo, o desejo de escrever sobre suas opiniões em relação ao nosso Estado, Porto Velho e essa cultura e história “beradeira”. Creio que esse seja o momento oportuno.
Tive a honra de conviver com o senhor quando lecionava em Porto Velho. Primeiro, no Coopeduc e depois no Classe A. Hoje estou residindo na cidade de Vilhena, onde mantenho minha militância em prol da cultura, história do Brasil e da Amazônia. Acompanho os seus textos com muita atenção, pois os considero de excelente qualidade, porém, gostaria de fazer alguns comentários sobre algumas opiniões que, a meu ver, não combinam, coadunam com sua postura equilibrada e humanitária com a qual convivi.
Em primeiro lugar, gostaria de lembrar que concordo com a maioria das afirmativas feitas em relação a Porto Velho, Rondônia e mesmo ao Brasil. A questão é, que seus textos, que são suas tentativas de ser e estar no mundo, assim como os meus ou os textos de qualquer pessoa séria, transmitem a idéia de que absolutamente tudo em Rondônia é profundamente ruim e de mau gosto.
Desculpe se estou exagerando, mas é o que sinto ao ler algumas afirmativas, como a comparação feita entre órgãos sexuais de jumento e as três caixas d’água que simbolizam a cidade de Porto Velho. Poderia citar outros exemplos de afirmativas que me fazem sentir seu profundo desprezo e até ojeriza pelos elementos históricos e culturais de Rondônia.
Quero lembrá-lo que na maioria das afirmativas o senhor acerta e possui o meu respeito. Porto Velho, realmente, é uma cidade possuidora de terríveis mazelas. A cidade e seus munícipes realmente penam por conta do gigantesco desrespeito praticado por governantes e por boa parcela da própria população.
O problema, professor, é que muitas coisas para serem boas ou ruins dependem dos olhos do observador e sua consciência crítica. Esse olhar é amalgamado pela caminhada cultural de cada um, que a meu ver, pode ser criticada, porém, precisa ser respeitada.
Temos, concretamente, a realidade dessa cidade, e deste Estado. Provavelmente seremos sepultados por essas terras e pouco restará de nós, nosso legado depende de nossas ações no hoje.  Em função disso, devemos fazer uma opção, ou ajudar para que as coisas melhorem, ou empurrar de vez para o fundo do precipício. Acredito, que por ter escolhido viver aqui, é muito mais coerente atuar para que a primeira opção se concretize.
Tenho a mais clara noção de que, tanto em Porto Velho quanto em Rondônia, existem elementos inspiradores que qualificam de alguma forma esse torrão e essa cultura em franca transformação, no qual elementos de várias regiões, inclusive o nosso Nordeste se entrelaçam. Gostaria de exemplificar: apesar do terrível quadro educacional, carregado de mazelas, sei da existência de professores que praticam um modelo de educação de altíssima qualidade. Para não ser injusto cito três exemplos de escolas em Rondônia que seriam modelo para o restante do Estado e até para a região Norte: João Bento, escola estadual de Porto Velho, Classe A, escola também de Porto Velho, onde, inclusive, o senhor leciona e com muita qualidade. Cito ainda a escola do Professor Vanks, aqui em Vilhena, educandário com características impressionante. São experiências educacionais que se diferenciam em muito de centenas de outras escolas rondonienses e brasileiras.
Professor, na história do Brasil, não existe e nem existiu uma região com tantas dificuldades para sua ocupação e colonização como Rondônia. As coisas por aqui só estão começando. Porto Velho possui menos de cem anos e os demais municípios rondonienses em média trinta anos. Só para lembrar, existem algumas centenas de cidades no Sul, Sudeste e Nordeste do Brasil que possuem mais de trezentos e cinquenta anos que não passam de vilas miseráveis, com toda a sorte de males e chagas.
As pessoas que um dia resolveram carregar suas “matulas” para esse pedaço de Brasil, como você, eu e a maioria das pessoas que fazem parte de nossa geração, buscam ainda hoje reflexões sobre o homem, a natureza, o rio e a terra. Procuram um encontro com um mundo que ainda está em formação, um mundo não concluso, com dezenas de máculas, ferimentos, tragédias, porém, com experiências fantásticas que precisam ser ressaltadas para serem repetidas, preservadas etc.
As pessoas que se aventuraram nessas terras não possuíam ideia do que enfrentariam em relação a dificuldades e sofrimentos: a distância exaustiva, o calor equatorial, doenças com índices de mortalidade medieval, povos indígenas lutando por seus valores, em fim, uma cultura absurdamente diferente, contraditória, surrealista. Uma floresta, às vezes, alagada, outras enxuta; num momento, silenciosa, noutro ensurdecedora, comparada, num período com o paraíso, noutro com o inferno verde, que engole homens e coisas.
Um mundo carregado pelo sagrado e profano, fantástico, incoerente e mágico. Permeado por absurdos impraticáveis que misturam o novo com o velho, o mitológico com o real, o claro com o obscuro. As pessoas de ontem e de hoje não podem dar conta do espaço resultante desses conflitos.
Hoje, esse mesmo mundo, é ocupado e castigado por uma imensidão de mazelas praticadas por coronéis políticos e seus jagunços, lacaios, escondidos pela proteção dos altos cargos, alimentados pela prática excludente e parasitária desse Estado tão nocivo ao seu pobre e ignorante povo.  Políticas que perpetuam as práticas culturais que assolam e assaltam os valores éticos, morais e humanos aqui e nas periferias existentes em todo o planeta.
Professor, ocorre que aqui também tem gente boa, pessoas nobres, beradeiros e beradeiras, que em suas simplicidades vivem seu mundo com dignidade, trabalhadores, agricultores, professores, feirantes, cantores, aliás, temos uma musicalidade que até os mocos reconhecem. Sei que sua visão não se seduz pelo por do sol seja do Guaporé, Mamoré, Madeira ou Cabixi, mas acredite, milhares de pessoas são seduzidas, inclusive este pobre e claudicante historiador.
Talvez eu cometa o pecado de gostar mais do por do sol, das curvas dos nossos rios, dessa floresta equatorial do que das obras de Oscar Niemeyer, as pinturas de Cândido Portinari ou das praias nordestinas. Gosto dos textos do Antônio Serpa do Amaral, nosso querido Bazinho, Paulo Queiroz, Professor Nazareno, Zola Xavier, Antônio Cândido, Francisco Matias, Kafka, Montezuma Cruz, Nietzsche, Borges, Alberto Caldas, Júlio Hiriarte, Carlos Moreira, Hugo Evangelista, Shakespeare etc.
Gosto muito das toadas de Boi do Silvio Santos, Chico da Silva, musicalidade do Binho, Bado, Gilson, Betânia, Baaribú, Chico César, Paulinho Pedra Azul, Ceissa, Keila, Chico Buarque, Nilson Chaves, Rogério Cabal, Miléo, Gonzagão, Torrinho, Zeca Baleiro, Gil, entre tantos outros.
Talvez eu seja indesculpavelmente ridículo ao ser assim, mas sou e não posso negar. Gosto dos temperos de Rondônia, como gosto do sabor da Bahia e do Pará.
Tenho apego aos eventos históricos dessa terra. Tenho profundo apego a este “gueto”, esta tribo, este lugar. Viajo pelo mundo e sinto saudades daqui. Desculpe se isso é atraso cultural, literário e musical, é o meu jeito de ser e sentir o mundo.
Acredito que você, amigo, já sabia disso tudo, pois acompanhou um pouco minha caminhada no Barco Escola, na Estrada de Ferro Madeira Mamoré, que mesmo apodrecida insiste em sobreviver. Você conhece minha luta em prol do pobre Forte, enfraquecido e abandonado pelo cinismo desmedido dos homens, minha militância que tenta recontar, relembrar aos jovens o abandonado cemitério da Candelária. Em fim, você sabe que tudo pode ser refletido, revelado com grandiosidade, até aquilo que parece em sua estética com algo sem valor ou sem importância.  
Tenho desenvolvido uma militância exaustiva em prol de nossa musicalidade, história, poesia. Professor, assim como você, constantemente sou convidado a me calar, sofro enxovalhos, intimidações, minha vida achincalhada, amigos e familiares ameaçados e importunados. Os donos do poder não admitem a independência o livre pensar.
Tenho atirado com minha metralhadora cultural contra uma imensidão de situações que nos desqualifica nos extermina, nos bestifica. Tenho enfrentado consequências que atingem minha filha, mulher e minha intimidade, pois vivemos numa sociedade, no qual a covardia e hipocrisia são os elemento culturais mais presentes.
Nosso Estado é infestado por “Coronéis” da pior espécie, gente que em pouco tempo de atividade política supera as práticas nefastas dos Coronéis exploradores da ignorância, seca, miséria e despolitização nordestina.
Não pretendo abandonar minhas convicções e militância em função dos problemas e retaliações sofridas ao longo dessa atuação cultural, nem desejo, meu amigo, que você abandone a sua digna, nobre caminhada. Porém, gostaria de afirmar ao amigo que podemos encontrar neste pobre Estado, lutas, militâncias, combates, guerrilhas em prol da música, história, literatura e poesia.
Existem expressões musicais dentro das toadas de boi que brotam dos sonhos e devaneios de pessoas beradeiras que desejam um mundo melhor. Os poucos elementos que compõem o nosso patrimônio arquitetônico que vive apodrecendo, são sim resultado de sonhos e devaneios de outrora. De alguma forma, os homens e mulheres do tempo das minas do Guaporé, da Fundação de Vila Bela da Santíssima Trindade, do Forte Beradeiro de Costa Marques, da Esquecida Estrada de Ferro, dos pobres prédios que compõem nossa cinzenta experiência arquitetônica, aqueles homens e mulheres que sobreviveram nos seringais em meio às onças, cobras e insetos, nunca se deram conta de que estavam abrindo o caminho para o Nordeste e demais regiões que o senhor, eu e tantos outros representamos. Eles, assim como nós, deixaram suas marcas quando parecia impossível a própria sobrevivência. E agora, quais serão as nossas marcas para os que desejarem no futuro olhar para o nosso tempo?
Uma vez Nietzsche afirmou: “... E zombei do mestre que não soube zombar de si”. Sei o quanto já zombamos de nós mesmos. Forte abraço.



O império da borracha (I parte)

Por Emmanoel Gomes

Após a independência do Brasil ocorrida no sete de setembro de 1822, tivemos o surgimento de uma movimentada atividade econômica na Amazônia, foi o I Ciclo da Borracha, que ocorreu entre os anos de 1870 e 1912. Neste período a Amazônia passou a fazer parte do cenário econômico mundial com muito mais contundência, pois com o desenvolvimento da indústria internacional no que se convencionou chamar de II Revolução Industrial, ocorrido em meados do século XIX, a borracha, Hevea brasiliensis, passou a ter uma importância maior, por se tratar de uma matéria prima de grande utilidade para a indústria nascente.

Teatro Amazonas, símbolo do I Ciclo da Borracha
Na Segunda Revolução Industrial apareceram novas formas de combustíveis que vieram a substituir o carvão. Surgiu o automóvel, o motor a combustão, o telefone, a lâmpada elétrica e descobriram o petróleo, que terá um papel cada vez mais importante no cenário econômico internacional.
As grandes potências econômicas vão atuar nesta parte do planeta com muita força, interessadas nesta importante matéria prima encontrada aqui com muita facilidade: a borracha.
No período, os governos Brasileiros, estavam completamente voltados para os interesses dos cafeicultores do sudeste, pois o principal produto, carro chefe da economia brasileira era o café. Tanto o governante do II Reinado, 1940 – 1989, quanto os governos da república velha, 1889 – 1930 tinham seus olhos fechados para as demais regiões Brasileiras. Poucas foram às ações desses governos para as demais regiões.
Para que ocorresse a busca pela Hevea brasiliensis, pesquisas e estudos foram desenvolvidos, e se destacaram entre os estudiosos:
Charles Goodyear, inventor norte-americano nascido em New Haven Conn, criador do processo de vulcanização da borracha (1839) que popularizou o uso comercial desse material. Começou a carreira dele como um sócio do pai, mas o negócio faliu (1830). Ele ficou interessado então em descobrir um método de tratar a borracha, de forma que ela perdesse sua adesividade e suscetibilidade. Procurou ampliar o campo de aplicação da borracha misturando-a com outras substâncias.
Robert Koch utilizou-se da hevea brasiliensis em vários experimentos, praticamente abandonou o consultório para cultivar bacilos e inocular em ratos, descobriu como colori-los, para ficarem bem visíveis e convencíveis, fotografando os da febre traumática, erisipela, tétano, gangrena, cólera e tuberculose. No mesmo ano, a vulcanização da borracha permitiu a produção de preservativos eficientes, práticos, baratos e não volumosos como as tripas de carneiro usadas até então. Uma verdadeira revolução sexual será mais tarde desencadeada, devido à facilidade do sexo seguro.
A Amazônia estava completamente aberta aos interesses imperialistas internacionais. É nesta conjuntura em meio a vastos seringais que surgem: Porto Velho, Vila Murtinho e Guajará Mirim, que serão estudados um pouco mais adiante.
A região que possuía os melhores seringais na Amazônia era o “Aquiri” (atualmente o Estado do Acre) localizado na Bolívia. Situada entre os Andes Bolivianos, grandes cadeias de montanhas que separam o oceano pacifico do oceano atlântico e que corta de fora a fora toda América do Sul, do outro lado, as cachoeiras do rio Madeira.
A Bolívia possuía então, uma região extremamente rica em borracha, porém isolada, sem contato com oceanos, de um lado montanhas, do outro, grandes Rios e suas cachoeiras impedindo o transporte de um produto tão importante para a economia daquele momento.
A busca para sair desse isolamento geográfico, levou os nossos irmãos Bolivianos a estudarem soluções que pudessem resolver o problema do isolamento geográfico e transportar seus produtos. As idéias começaram a surgir entre elas à construção de uma hidrovia. Para tal seriam dinamitadas as cachoeiras existentes nos Rios Madeira e Mamoré. Este projeto foi abandonado e em seu lugar veio à idéia de se construir uma ferrovia.
A reta do Abunã, região pantanosa tida como a mais endêmica de toda a ferrovia. Foi esta localidade que originou a lenda de que cada dormente representava a vida de um operário morto na construção da Madeira Mamoré, idéia difundida no livro Amazônia de João Costa Palmeira publicado em 1942. Vide Manoel Rodrigues Ferreira pág. 299. Foto Dana Merril.
O Coronel do Exército Americano, Vice Presidente da Real Sociedade Geográfica de Londres, George Earl Church, que havia combatido na guerra da secessão, e desenvolvido vários trabalhos na América do Sul, principalmente na Argentina e nos Andes, foi apresentado pelo presidente do México, Benito Juárez ao General Boliviano Quentin Quevedo. O encontro entre os dois gerou a aproximação do Coronel Church ao governo Boliviano.
Desse encontro, surgiram idéias que puderam resolver o problema do isolamento boliviano, construindo um grande empreendimento comercial na Amazônia, primeiro através da construção de uma hidrovia, onde seria feito a canalização da parte encachoeirada do rio Mamoré e Madeira. Mais tarde, essa idéia foi abandonada, surgindo uma nova opção: a construção de uma ferrovia, opção que estava na moda. O mundo inteiro estava construindo ferrovias. Essa idéia ganhou força e foi adotada pelos interessados, ficando a canalização do rio para trás.
As dificuldades eram muitas. Durante o período chuvoso, surgiam verdadeiros pântanos que desafiavam as máquinas e os homens. Trecho da reta do Abunã. Foto: Dana Mérril.
Neste grande empreendimento, se destacaria então, uma ferrovia. O coronel Church vai atuar como o principal agente motivador dessa fantástica obra, que seria erguida em meio a mais selvagem, obscura e distante floresta tropical do mundo.

O I° Ciclo da Borracha (Parte II): A construção da estrada de ferro Madeira-Mamoré

“Você precisa ver para saber como é que anda o trem na Madeira Mamoré”
Cd. Aldeias de Sons, Intérprete Bado.

Locomotiva no pátio da Praça Madeira-Mamoré em Guajará Mirim, Foto Nazaré, 2008.
A Estrada de Ferro Madeira Mamoré tornou-se o maior épico amazônico. A epopéia se iniciou quando o Coronel do exercito americano George Earl Church conseguiu a autorização do Governo de Dom Pedro II para que a obra fosse construída em solo Brasileiro. A única exigência de nosso Imperador foi em relação ao nome da ferrovia, ele queria que ela se chamasse Estrada de Ferro Madeira Mamoré.
Após iniciativas preliminares, o Coronel Church, com ampara boliviano, buscou os agentes financiadores em Londres, capital da Inglaterra e uma empreiteira Inglesa foi contratada, a Public Works.

Navio descarregando equipamentos e operários da empresa May Jekyll And Handolph. Foto: Dana Mérril, 1910.
A empresa inglesa Public Works se deslocou para a Amazônia em 1872, chegando em Santo Antônio das Cachoeiras não conseguiu assentar um único dormente. Frustrada, acabou se retirando em meio a um clima de espanto, pavor e assombro, pois a região era dominada pelo calor escaldante e a malária que atingia a todos gerando um grande número de doentes, inválidos e mortos.
Toneladas de equipamentos foram abandonadas na localidade. Com essa primeira tentativa de construção da ferrovia se iniciava a história do Porto Maldito que a todos afrontava com sua natureza rústica, arredia e inóspita.
O Coronel George Hearl Church diante do problema gerado pelo malogro da empresa inglesa contratou a firma norte-americana Dorsay & Caldwell. A nova empresa prometeu construir os primeiros 15 quilômetros da ferrovia sem receber pagamento por isso, pois usariam o material deixado em Santo Antônio pela empresa anterior. Assim teria os custos iniciais bem abaixo do mercado e poderia repor posteriormente, porém não chegou a montar acampamento em Santo Antônio das Cachoeiras.

Museu da Est. de Ferro Madeira Mamoré, Guajará Mirim, Foto: Nazaré, 2008.
Com este entrevero, mais uma vez o coronel do exército Americano buscou resolver o problema, ele promoveu negociações com outra empresa em 1875. Era a inglesa Reed Bros. & Co, que adquiriu a concessão da Dorsay & Caldwel que simplesmente não se interessou pela obra, (vide Manoel Rodrigues Ferreira), pois o lugar onde a mesma seria construída espantava a todos em função da má fama, distância e do amontoado de problemas oferecidos aos aventureiros construtores de ferrovia.
O Coronel Church, demonstrando uma insistência fora do normal, não se abatera apesar dos problemas obtidos com as empresas envolvidas até então no projeto. Rumou para o seu país, os Estados Unidos da América, lá, convenceu outra empresa, que também era uma das grandes construtoras de ferrovias dos Estados Unidos da América a investir no projeto da Madeira Mamoré. Tratava-se da P.T. Collins.

Antes mesmo do inicio dos trabalhos, a tragédia surgiu como se estivesse alertando aos invasores para não se aventurarem no desconhecido universo das florestas do Amazonas e alto rio Madeira, repletas de lendas, mitos e histórias fantásticas que intencionavam espantar os incrédulos que desprezavam seus mistérios e atentaram contra seus valores e tradições.
Dois grandes navios zarparam da América do Norte, o “Mercedita” que saiu de Willow Street às 13:00 horas do dia 2 de janeiro de 1878 e chegou a Santo Antônio das Cachoeiras no dia 19 de fevereiro de 1878. Alguns operários já tremiam e se lamentavam por sentirem frio em plena selva equatorial, pois já haviam contraído a malária nos portos de Belém e Manaus. Outro navio que também rumava para Santo Antonio das Cachoeiras teve um destino trágico, o “Metrópolis”, naufragou na costa da Carolina do Norte em meio a uma terrível tempestade onde setecentas toneladas de equipamentos se perderam, ele ainda carregava mais de 246 pessoas, das quais oitenta vieram a falecer. Triste realidade para pessoas que se destinavam à grande aventura nas profundezas escuras das selvas beiradeiras do Madeira.

Trabalho pesado no alagado, próximo a Guajará Mirim, na etapa final da obra, foto Dana: Mérril, 1912.
A determinação humana, porém, não conhece limites. Os homens estipularam um objetivo, uma marca a ser alcançada, Guajará Mirim, a última das cachoeiras, o troféu a ser conquistado e por mais difícil que fosse esse objetivo, ele seria buscado e conquistado.


Cemitério da Candelária 

A triste imagem da história de Rondônia



No dia 6 de junho de 2009 fiz um convite aos amigos que militam em prol da história e patrimônios culturais de Rondônia para visitarmos o Cemitério da Candelária, localidade de grande importância histórica e cultural para o nosso Estado.
Fui atendido de imediato. O professor Antônio Cândido da Silva, pessoa amável e dedicada aos estudos, autor de vários livros, artigos e poesias. Abnael Machado de Lima, Geógrafo, autor de uma rica obra, fundamental para nosso Estado, profundo conhecedor de nossa história. Lúcio Albuquerque Presidente da ACLER, Academia Rondoniense de Letras, jornalista, parceiro de muitas empreitadas e colega de trabalho. Antônio Serpa do Amaral, meu irmão Basinho, mestre da escrita sensível e sábia.
Ao chegarmos ao cemitério, nos deparamos com uma obra inacabada, abandonada e mal feita. Fizemos uma série de comentários que foi duramente recriminado pelo representante do IPHAN, Beto Bertagna. Os argumentos eram os mais variados possíveis, desde a afirmativa de que nenhum dos membros acima citados possuía conhecimento ou formação sobre restaurações, portanto não poderiam criticar a obra, até a lamentação, por não termos procurado o IPHAN antes de “fiscalizarmos” e criticarmos a referida obra de valor tão significativo para Rondônia, Brasil e o mundo.
Os produtores culturais de Rondônia devem adotar uma postura crítica em relação às obras governamentais no que se referem à cultura. O grupo que visitou o cemitério da Candelária há mais de dois anos não fez qualquer tipo de afirmativa grosseira, com interesses midiáticos, até por serem pessoas sérias e realmente preocupadas com a história e cultura rondoniense.
Beto Bertagna é um produtor cultural com uma obra reconhecida por todos, ao ser colocado na direção do IPHAN, assumiu responsabilidades pela execução de obras ligadas a sua pasta, com o devido respeito ao produtor cultural, nossas críticas são voltadas para o gerenciador da obra de restauração do Cemitério da Candelária.

Lembro-me bem que o IPHAN nos convidou uma semana depois para uma conversa. Onde foi explicado que a passarela feita de “barro” fazia parte de uma “técnica” onde, com o tempo, o material “o barro” seria integrado ao terreno do cemitério. O amigo e irmão Antônio Serpa do Amaral estava ao meu lado no momento de tal afirmativa.

O IPHAN divulgou as seguintes informações:
O projeto assinado pela arquiteta Fátima Macedo e pelo engenheiro Elexander Amaral, do Departamento de Patrimônio Material e Fiscalização – DEPAM visa estimular a preservação do bem tombado e divulgar o Patrimônio Histórico de Rondônia, possibilitando o acesso e o usufruto dos visitantes ao monumento.

Profissionais do IPHAN de Rondônia e de Brasília se envolveram intensamente com a história da EFMM e em especial com a do Cemitério da Candelária, de modo que a estrutura mínima a ser criada, que permitirá a visitação do Patrimônio pela população e pelos turistas que a queiram conhecer, sofresse a menor interferência possível.

Na época, o meu querido e prestativo amigo, professor Cândido foi criticado por ter feito o seguinte comentário: “Pelo pouco conhecimento que tenho de construção (mais como ajudante de pedreiro do que como engenheiro) poderia definir o concreto utilizado na construção daquelas passarelas como um concreto magro, não pelo reduzido “teor de cimento”, mas pelo elevadíssimo “teor de areia” o que significa dizer: uma porcaria”.

O Cândido que não é e nunca estudou restauração, assim como o Basinho, Lúcio Albuquerque, Abnael Machado de Lima e este claudicante historiador, realmente não somos formados em qualquer curso de restauração como alegou o IPHAN, mas também não somos tolos, imbecis, ingênuos e despossuídos de capacidade avaliativa.
Passados mais de dois anos, da reprovação da referida “restauração” e visita ao cemitério, convido toda a população de Rondônia para conhecerem a “restauração”, agora, acredito, concluída. Com o custo aos cofres públicos da pequena fatura de R$-84.000,00. Verdade seja dita, que placa linda, com belos dizeres de mármore anunciando a obra e divulgando o Governo Federal.

História, Cultura, Patrimônio Público, infelizmente passam longe das prioridades dos nossos governantes, isso já é até redundante! Incomoda-me profundamente saber que aquilo que é posto, pelo menos em discurso, como prioridade: educação, saúde, segurança, blá, blá, blá… Estão como estão quem dirá as outras coisas.
No dia 30 de abril, mais de dois anos após a visita com meus ilustres amigos ao cemitério que estava em fase de conclusão da restauração, convidei algumas autoridades que visitaram nossa capital para conhecerem o Cemitério “restaurado” da Candelária. …  …   … Minha nossa senhora da Candelária perdoai nossas dívidas… … … Acredito que o IPHAN é que não possui conhecimentos sobre restauração… … …  Se os espíritos dos trabalhadores da Madeira Mamoré enterrados ali, assombrarem o pessoal do IPHAN… Será bem feito… Eles fazem por merecer… Que cubram muito bem seus corpos à noite, pois poderão sentir calafrios e terem seus pés puxados por algum espírito mais Marxista, Leninista ou Trotiquista, enterrado na localidade, revoltado com a “tal restauração”.

Tem praga que pega, praga de professor cocho é um perigo!

Meus queridos amigos: Silvio Santos, Basinho, Lúcio, Cândido, Abnael, Zola, Dadá, Tatá, Bubú, Baaribú, Bado, Gilson, Ceiça, Keila, Rogério Cabral, Professora Ieda, Dante, Francisco Matias, Matias Mendes, Chicão, Ocampo, Joeser, Yriarte, Átila, Marcos Biezek, Mário Miléo, Scalercio Pires e demais amigos da história e do Patrimônio Público de Rondônia. Tenho uma informação nova para todos vocês, a terra do cemitério da Candelária não gostou do barro da tal passarela… … A passarela foi rejeitada… … Ela não se integrou ao solo como queriam os restauradores e o IPHAN… … A floresta, os bichos e espíritos reprovaram a obra do IPHAN… … Até a placa, linda e cara, está sendo encoberta pelo mato. A coisa é triste, grave. Perdemos os R$-84.000,00 investidos ali.

Convido aos amigos e amigas relacionados a visitarem o cemitério, tem que ser logo ou a passarela vai passar de vez.
Vamos nos somar ao clamor dos espíritos ou quem sabe também seremos assombrados junto com o povo do IPHAN.
Travemos nossa batalha, combate contínuo, militância séria e sem tréguas em prol da nossa história e cultura, tenho a maior felicidade de poder contar com tantos amigos e parceiros verdadeiros nessa militância, pessoas que distante de seus egos e orgulhos realmente se preocupam com essas coisas.
Amigos que se movimentam como podem para dar a essa nobre guerrilha o enfrentamento lúcido, sincero e sensível, que não possuem a preocupação de divulgar suas ações, preocupam-se sim, com um melhor trato ao nosso rico, triste e abandonado patrimônio cultural.

  Trabalhadores que construíram a ferrovia do diabo 


Por: Emmanoel Gomes da Silva


Boa parte da elite fundiária brasileira construiu sua riqueza tendo por base a mão-de-obra escrava negra, e, ainda hoje, faz de conta que não sabe ou não viu, desconhecendo sua importância, não atuando no sentido de fazer justiça junto aos milhares de problemas gerados por essa discriminação histórica.
Ao longo de toda a história do Brasil, os governos foram, e ainda são dirigidos em sua maioria, por pessoas que aplicam políticas geradoras de desigualdades sociais, concentrando as riquezas nas mãos dos detentores de grandes posses rurais, em detrimento de uma infinita maioria que carece de quase tudo.
As pessoas que ocupam os grandes cargos nos Governos representam uma tradição elitista e, acima de tudo, branca, não atuando de forma eficaz no sentido de amenizar os problemas gerados por quatrocentos anos de escravidão e mais de cem anos de racismo velado.

Engenheiros e operários da empresa May Jeckill and Randolph. Foto: Dana Merril. 1910.
Essa afirmativa é normalmente questionada por aqueles que estão no poder, mas podemos comprovar a ineficácia das políticas sociais no que diz respeito ao povo de origem africana.
Podemos citar vários exemplos de políticas incorretas, como o caso da cota para negros nas Universidades públicas, reconhecer que o povo de origem africana é incapaz de concorrer com o branco é mais uma forma de discriminação, é também tapar o sol com a peneira, não seria melhor reconhecer o fracasso da escola pública. A escola pública carente de qualidade atenta contra todos, não só contra o povo de origem africana, temos milhões de brancos pobres em condições de abandono total, é preciso uma política social compensatória para todos. A cota para negros alimenta o ódio e o racismo na medida em que um com notas baixas toma a vaga do outro que teve notas mais altas.
Sabemos e defendemos políticas que possam ajudar os mais pobres, somos contra qualquer política que divida, diminua, trate o outro como incapaz.
No Brasil todos, somos um poço Índio, Português e Negro, como definir cor em um povo tão miscigenado.
O resultado de tantas políticas compensatórias mal feitas são os bolsões de miséria espalhados nas periferias de todo o Estado Nacional, onde em meio aos seus habitantes, se destacam as populações empobrecidas.
A Ferrovia Madeira Mamoré foi concluída em 1912. Ficou com 364 quilômetros. Em 1922 recebeu mais dois quilômetros, totalizando 366. Por muito tempo foi o centro aglutinador de pessoas em nossa região, símbolo primeiro de nossa história, um grande mito fundador da Amazônia e, conseqüentemente, de Porto Velho, a atual Capital do Estado de Rondônia.
Devemos ter em nossas mentes e corações que entre os anos de 1872 e 1912, homens ferozes, destemidos, corajosos, em sua maioria sem rosto, nome e história, pois sobre eles, poucos sabemos, deram início a uma ferrovia. Não sabiam eles que, na verdade, estavam tocando o coração de várias gerações futuras, e, hoje, cidadãos de Porto Velho e Rondônia foram acolhidos em uma localidade erguida em meio ao desespero, dor, sofrimento, saudade, sonhos e esperanças de pessoas vindas de vários lugares do Brasil e do mundo, que há mais de cem anos se debateram contra uma selva desconhecida e perigosa, em busca de um mundo melhor.
Os trabalhadores viram de mais de quarenta países, eram gregos, indianos, chineses, árabes, portugueses, alemães, italianos, espanhóis, americanos e principalmente antilhanos.
A herança desses homens para todos os que aqui residem: o Estado de Rondônia.
Com as obras da ferrovia concluídas, as pessoas que habitavam os pequenos povoados amazônicos, que surgiram ao longo de seus trilhos, pressentiam que algo estava errado, e que infelizmente a grande mola econômica que dera impulso aos vários investimentos na região dava claros sinais de decadência.
A inexistência de uma política nacional e regional, preocupada com o controle de nossas fronteiras, com o combate ao contrabando de mudas, sementes e outros produtos, permitiu que os ingleses levassem, em 1876, de nossa região, milhares de mudas e sementes de Hevea brasiliensis, a seringueira. Planta que existia somente em território americano, propriedade biológica da nossa Amazônia e de todos os seus povos. No sudeste asiático, as mudas de seringueiras, foram cultivadas pelos ingleses que produziram com grande sucesso.
Os seringais, lá do outro lado do mundo, tão distantes de nossa região, passaram a produzir a goma elástica com mais eficiência, com melhores preços e facilidades para o transporte.
O estrago foi grande em nossa economia, a região, outrora rica e próspera, pelo menos para a elite local, passou a amargar crises e problemas, atingindo uma profunda decadência.
O mercado e o sistema capitalista, não possuem pátria, não se importando com as conseqüências terríveis sofridas pelas pessoas que habitam as regiões onde são provocadas as crises. Os grandes empreendimentos capitalistas mundiais procuraram as facilidades oferecidas pelos seringais Malaios que na época eram controlados pelos ingleses. O mais importante para esse regime econômico sempre foi o lucro e nada mais.
Na Amazônia ficou um povo sem perspectivas, e, em nossa região, uma estrada de Ferro sem motivações econômicas para seu perfeito funcionamento. Estrada única no mundo, com um nível de dificuldades humanas e financeiras em sua construção, jamais enfrentadas pelo homem em outra localidade.
Trabalhadores e engenheiros da Estrada de Ferro Madeira Mamoré. Foto Dana Merril.
Na inauguração do trecho Porto Velho, Jaci Paraná.

Em meio a esse quadro, pessoas desencantadas em uma mistura de espanto, agonia e tristeza. De um momento de euforia e prosperidade ao desalento econômico, a prosperidade se foi rápido como uma chuva de verão.
Ao seu redor Porto Velho, o povoado que surgia, ia sentindo as influências das mudanças na economia, lentamente foi se acomodando com o apito, agora melancólico, do trem, seguindo seu ritmo, embalado pelo chacoalhar de seus vagões esquecidos.
Percival Farquar, que havia investido naquele projeto, antes tão promissor, percebeu o problema e tentou o mais rápido possível, se desfazer da ferrovia, acabando, mais tarde, por repassar a mesma para uma empresa Anglo- Canadense que já era concessionária da “Porto of Pará e Brasilian Railway” que eram, por sua vez, as maiores acionistas da Madeira Mamoré.

EMMANOEL GOMES DA SILVA É PROFESSOR, HISTORIADOR E MEMBRO DA ACADEMIA VILHENENSE DE LETRAS.


O Segundo Ciclo da Borracha e a criação do Território Federal do Guaporé (I Parte)

 * por Emmanoel Gomes

Fonte: folhadevilhena.com.br


“Minha vida é andar Por esse país
Pra ver se um dia descanso feliz
Guardando as recordações
Das terras por onde passei
Andando pelos sertões
E dos amigos que lá deixei”.
A Triste Partida, Patativa do Assaré.
Canção interpretada por Luiz Gonzaga.

O corte da seringa
Getúlio Dorneles Vargas foi o Presidente brasileiro que mais tempo governou, entre os anos de 1930 e 1945, retornando mais tarde para seu quarto mandato como autoridade maior da Pátria, a fase mais dramática de sua vida quando inclusive ocorreu o seu suicídio em 24 de agosto de 1954.
Getúlio Vargas se encantou com a teoria fascista, pois estávamos vivendo o período conhecido como: “O Entre Guerras”, período que separou a Primeira Guerra Mundial 1914 – 1918, da Segunda Guerra Mundial 1929 – 1945.
O Fascismo adotado pela Itália de Benito Mussolini é uma doutrina política que se assemelha ao Nazismo Alemão, defendia idéias como: nacionalismo radical, estatização da economia, poder centralizado nas mãos de um único líder, racismo, etc.
Getúlio gostou da teoria totalitária e sua política trabalhista tinha um forte apego a essas idéias.
Ao assumir o Governo Brasileiro em 1930, após um golpe de Estado, Getúlio se aproximou do movimento tenentista, que vinha atuando com muita repercussão em todo país, inclusive em função da famosa Coluna prestes 1924-1927, ao mesmo tempo, se afastou das forças políticas tradicionais e conservadoras do café com leite.
Nesse contexto surge um importante personagem de nossa história, Aluízio Pinheiro Ferreira, que vai se tornar um dos importantes caciques políticos da região. Aluísio Ferreira em 1924 participou do movimento revolucionário entre Manaus e Belém. Em 1925 Aluízio já se encontrava no seringal de Paulo Saldanha e, no ano seguinte, foi para o seringal de Américo Casara.
Apadrinhado por Getúlio e em nome do Nacionalismo Varguista nacionalizou a Estrada de Ferro Madeira Mamoré, assumindo a sua direção em 1931.

MÁQUINA 18, UMA DAS DUAS EXISTENTES E QUE PODEM SER RECUPERADAS, A E.F.M.M. RECEBEU AO TODO 22 LOCOMOTIVAS.

Diferente dos Governos anteriores, Getúlio Vargas dava inicio a um governo que enxergava as verdadeiras dimensões do Brasil, não via somente o Sul, Sudeste e Nordeste, ele traçou políticas para todo o Brasil, e especialmente para a região que se transformaria mais tarde no Território Federal do Guaporé em 1943.
A nacionalização trouxe um alento ao município de Porto Velho, pois diante do quadro desastroso da economia da borracha que estava em crise, às perspectivas de desenvolvimento regional eram péssimas, agora, com um governo patriótico, defensor dos seus filhos e filhas, os ânimos melhoravam e novos caminhos começavam a ser apontados.

“PELAS” PEÇAS DE BORRACHA EM FRENTE A ESTAÇÃO
FERROVIÁRIA DE GUAJARÁ MIRIM, DÉCADA DE QUARENTA.

Os dois primeiros Governos de Getúlio, o Governo Provisório 1930– 1934, e o Governo Constitucional de 1934-1937, foram marcados por um conjunto de crises políticas e econômicas características do “Entre Guerras”, período como ficou conhecido o momento entre a Primeira Guerra Mundial e a Segunda Guerra Mundial. O mundo passava por grandes problemas, e nosso País sofria os reflexos dessa crise.

SEM PALAVRAS

Em 1937, Getúlio Vargas deflagrou um novo golpe político, instaurando o “Estado Novo” 1937–1945. Este novo momento do Governo Vargas vai desenvolver uma grande campanha nacional chamada: “A GRANDE MARCHA PARA O O’ESTE”, tendo o objetivo de ocupar as regiões interioranas do Brasil. Foi utilizado um lema que afirmava o seguinte: “VAMOS LEVAR OS HOMENS SEM TERRA, PARA AS TERRAS SEM HOMENS”, assim se desenrola uma grande ação Governamental na ocupação territorial do grande vazio demográfico que se observava há muito tempo no interior do Brasil.
Ao mesmo tempo, o Mundo foi balançado por uma guerra que atingiu todos os níveis imaginários de terror, o homem assumiu o topo da monstruosidade, a condição de ser parasitário capaz de destruir o seu próprio planeta. Por mais que digamos, não conseguiremos demonstrar o tamanho da desgraça promovida e provocada pela Segunda Guerra Mundial, ocorrida entre 1939 e 1945.  A guerra atingiu todos os Continentes e suas conseqüências ecoarão pela eternidade.
O Brasil passava por um momento político onde Getúlio Vargas se fortalecia e detinha o controle sobre o Governo, tanto que através de mais um golpe de Estado se manteve no poder. O Golpe do Estado Novo, 1937.
Getúlio era simpático, também, ao nazifacismo, doutrina política ideológica que defendia uma brutal estatização e eliminação dos contrários. Tudo passava a ser controlado pelo Estado através de um Patriotismo doentio e o Poder centralizado na mão do Governante, para os Alemães, o Fuhrer, para os Italianos, o Dulce. Tanto o Nazismo como o Fascismo, defendiam o Anti-semitismo, perseguição aos judeus e demais povos que não possuíssem a mesma origem, neste racismo declarado, os judeus foram os mais perseguidos, segundo alguns estudos foram assassinados mais de seis milhões de judeus.
EMMANOEL GOMES É PROFESSOR DE HISTÓRIA, HISTORIADOR E MEMBRO DA ACADEMIA VILHENENSE DE LETRAS.

O segundo ciclo da borracha e a criação do território federal do Guaporé (II parte)


 * por Emmanoel Gomes


CARTAZ CONVOCANDO OS SOLDADOS DA BORRACHA DURANTE O ESTADO NOVO.
Com a deflagração da Segunda Grande Guerra 1939-1945, o Brasil foi obrigado a definir sua posição e Getúlio Vargas, estava em uma situação complicada, pois a América Latina, desde a segunda metade do século XIX, havia se tornado uma espécie de “quintal dos Estados Unidos da América”, pois as políticas americanas na América Latina foram intensas, como: a Doutrina Monroe, “A América Para os americanos”, e Política do Big-Sthick, “O Grande Porrete”.
Getúlio foi coerente com a história e apoiou os Aliados, porém esse apoio se deu após muito diálogo, ocorrendo inclusive à aprovação de um importante acordo, Os Acordos de Washington em 1942.

PROPAGANDA DA ERA VARGAS
A Amazônia e em especial a nossa região receberam importante impulso neste período da Era Vargas e Segunda Guerra Mundial, Porto Velho era uma cidade do Estado do Amazonas, havia se desmembrado do Município de Humaitá, isso como nós já vimos ocorreu em 1914. Ocorre que no inicio da guerra, o Japão que estava apoiando os Alemães e Italianos, resolveu invadir a Malásia, possessão Inglesa localizada no sudeste Asiático e grande fornecedor de borracha para as indústrias mundiais. Devemos lembrar que a Amazônia vivia a decadência de seus seringais, e agora com este problema os Aliados precisavam urgentemente de um fornecedor, assim surgiu os Acordos de Washington.
Getúlio em conjunto com os Estados Unidos, acordou o seguinte: O Brasil forneceria toda a borracha necessária aos Aliados, permitiria que os Estados Unidos instalassem bases militares no Nordeste Brasileiro, que serviriam de apoio para as suas forças militares, em troca o Brasil receberia investimentos financeiros para montagem de uma grande infra-estrutura industrial.
Foi assim que surgiram, a Companhia Siderúrgica Nacional-CSN, situada em Volta Redonda cidade do Estado do Rio de Janeiro, hoje em dia é uma das maiores produtoras de aço do mundo, a Companhia Vale do Rio Doce, uma das maiores mineradoras do mundo e a extinta Fábrica Nacional de Motores-FNM.
Nós podemos afirmar com muita tranquilidade, que o desenvolvimento Industrial Brasileiro deve muito ao trabalho dos Soldados da Borracha nos seringais amazônicos, tanto o sudeste quanto o sul do Brasil, hoje ricos e industrializados devem muito ao pobre soldado da borracha, não tenham dúvidas que parte significativa da riqueza existentes nestas regiões foram produzidas por esse personagem que tanto dignifica a Amazônia e o Brasil. Podemos afirmar também, que o papel mais importante desenvolvido pelo Brasil durante a Segunda Guerra Mundial, ao contrário do que muitos historiadores do Nordeste, Sudeste e Sul afirmam, foi desempenhado na Amazônia e não nos campos de batalhas italianos, foi a luta nas selvas para a extração da borracha, onde milhares de nordestinos enfrentando a malária, isolamento geográfico, o calor escaldante da maior floresta tropical do mundo e suas feras, muitos vieram a falecer sem o devido reconhecimento.
Muitos intelectuais, quando falam do Brasil na Segunda Guerra Mundial, viram os olhos para a Europa e só enxergam os brasileiros que foram parar na Itália, é claro que os Pracinhas Brasileiros merecem todo o nosso respeito, porém poucos reconhecem a bravura, heroísmo e importância do Soldado da Borracha.

Navio que transportava os Soldados da Borracha até o porto de Belém
O Governo Federal, na época, veio a Amazônia, através da visita do Presidente Getúlio Vargas à Belém, Manaus e Porto Velho. Infelizmente, após o fim da guerra e a nova crise dos seringais, não foi reconhecido o trabalho e importância dos pobres Soldados da Borracha, que muitas vezes para conseguirem suas aposentadorias tiveram que se humilhar junto ao INPS, (Instituto Nacional de Previdência Social). Milhares de Soldados da Borracha não conseguiram se aposentar ficando na rua da amargura, desfigurados, desprezados e solitários, o passado de glória ficou somente na triste lembrança em tempos que não voltaram mais, a demagogia política, o descaso administrativo transformou esse personagem outrora orgulhoso de sua importante missão, em um ser amargo e sem esperanças, os bravos soldados que combateram com a força de seus braços, suor, patriotismo e caráter, nas profundezas das selvas amazônicas, viram os ideais de justiça e liberdade perderem-se e sua pátria negar-lhes a retribuição necessária e devida.

CARTAZ MOTIVANDO OS SOLDADOS DA BORRACHA.
O Governo Vargas na intenção de corresponder ao acerto feito através dos Acordos de Washington criou o Serviço de Mobilização de Trabalhadores para a Amazônia – SEMTA, que recrutava os nordestinos em sua região promovendo sua mudança para a Amazônia, criou também a Comissão Administrativa de Encaminhamento de Trabalhadores para a Amazônia – CAETA, que cuidava da burocracia em relação à transferência dos Soldados da Borracha, o Banco da Borracha, hoje Banco da Amazônia S.A. que financiava a economia da borracha. O seu primeiro gerente em Porto Velho foi o Sr. Raimundo Cantuária.
Ainda tivemos o Serviço de Abastecimento do Vale Amazônico – SAVA, que se preocupou em montar toda a infra-estrutura regional oferecendo as condições para a viabilização da produção e seu escoamento na região.
A Amazônia, novamente ganhou importância e volta ao cenário Nacional e Internacional. Dentro dos planos Governamentais, serão criados cinco novos Territórios Federais: O Território Federal do Amapá, do Rio Branco, de Ponta Porã, do Iguaçu e finalmente o Território Federal do Guaporé, em 13 de Setembro de 1943.
O Território Federal do Guaporé, segundo o Pesquisador Esrom Penha de Menezes, em sua obra “Retalhos Para a História de Rondônia”, na página 153, nos informa:
“O Território Federal do Guaporé será dividido em quatro municípios, com as denominações de Lábrea, Porto Velho, Alto Madeira e Guajará Mirim; o primeiro compreenderá parte dos Municípios de Lábrea e Canutama, do Estado do Amazonas; o segundo, a área do município de Porto Velho, que pertencia ao mesmo Estado; o terceiro, parte do Município do Alto Madeira, do Estado do Mato Grosso; o quarto, a área do Município de Guajará Mirim e parte do Município de Mato Grosso, que pertenciam ao último Estado acima referido”.
Um ano depois, o Estado do Amazonas recebeu de volta o Município de Lábrea.
Depois de criado o novo território, foi nomeado seu primeiro Governante, o Coronel Aluísio Pinheiro Ferreira.
A criação do Território Federal do Guaporé foi um passo fundamental para o desenvolvimento de toda a região do Madeira, Mamoré, Guaporé e Machado, pois com essa decisão a região passou a ter mais espaço junto ao Governo Federal e suas reivindicações começariam a ser ouvidas sem atravessadores ou qualquer intermediador.
As cidades que compunham o novo Território festejaram a notícia, pois em meio a tantas dificuldades, sacrifícios e abandono político a região ganhava um grande alento.
Na ocasião foi nomeado o Prefeito do município de Porto Velho que se tornou também a capital do novo território. Foi empossado o ex-ferroviário, Mário Monteiro. A cidade possuía mais ou menos três mil habitantes na época, e a economia girava em torno da Estrada de Ferro Madeira Mamoré e da produção da borracha, pois com a Segunda Guerra Mundial, como já afirmamos, a borracha voltou ter importância, agitando economicamente a região.
Com o término da guerra em 1945, os Países que compunham o eixo Nazi-Fascista, foram derrotados, os Aliados saíram vitoriosos, e uma nova Ordem Mundial surgiu.
A verdade é que de alguma forma a chamada Guerra Fria atingiu a todas as nações entre 1948, ano em que foi criado o Estado de Israel e 1989, quando ocorreu a queda do Muro de Berlim.
O Brasil logo após a II Guerra Mundial se organizou através de uma democracia Populista, o que ficou conhecido como: República Populista 1945 – 1964.

5 comentários:

  1. MTO BOM!AMEI AS DUAS PÁGINAS DE REGIONAIS!
    UM ABRAÇO

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  2. Que legal!
    adoro o prof. Emmanoel.mto bom encontrar os textos regionais dele aqui e parabenizo-a por ter colocado essas páginas com assunto de regional,pois estudar em livros é muiiiiiiiiiito chato e o prof.Emmanoel sabe sintetizar o assunto como ninguém.

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  3. Vlw prof! isso sim me ajudará a entender mais a história de Rondônia.

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  4. gOSTO DESSAS POSTAGENS! FICA MAIS FÁCIL ENTENDER A HISTORIA REGIONAL.vLW

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  5. bem explicado,fica fácil entender a historia regional

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