quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Escola Pública João Bento da Costa já começa oficializar aprovações vestibular 2011 no seu projeto terceirão

Alunos do Colégio João Bento fazem História no Acre


           
            A UFAC, Universidade Federal do Acre, divulgou nesta semana o resultado do seu último Concurso Vestibular. Diferentemente de anos anteriores, mas já mostrando uma forte tendência de muita procura, o Concurso Vestibular da UFAC/2011 teve nesta sua última edição vários vestibulandos de outros estados, principalmente de Rondônia.  A Escola João Bento da Costa, líder absoluta dentre as escolas públicas do nosso Estado, em aprovações no vestibular da UNIR, a Universidade Federal de Rondônia, também se fez representar por vários alunos do Projeto Terceirão no concorrido vestibular do nosso vizinho Estado. Cursos como Medicina, Engenharia Florestal, Engenharia Civil e Medicina Veterinária foram os mais concorridos naquela Instituição de Ensino Superior.
            Porém os alunos do JBC demonstraram na prática o real valor deste Projeto e não fizeram por menos. Lucas Francisco de Souza foi aprovado em Medicina Veterinária, Railson Rigamonte Liza em Saúde Coletiva, Guilherme Piassa Ferreira em Engenharia Civil, Ruan de Souza Matos em Engenharia Florestal e Thiego Maia de Menezes, ex-aluno do JBC, conseguiu a tão sonhada aprovação no concorrido curso de Medicina daquela universidade pública.
            É importante ressaltar que estas aprovações não aconteceram por acaso. O aluno Ruan de Souza, por exemplo, de uma das turmas da tarde do João Bento, ficou em segundo lugar no seu curso, enquanto Thiego Menezes, num feito inédito, superou todos os seus concorrentes e alcançou nada menos do que o Primeiro Lugar no curso de Medicina da UFAC. "Primeiramente devo agradecer a Deus, aos meus familiares e aos professores do JBC, que foram bastante importantes para este grande feito", frisou o mais novo acadêmico de Medicina.
             Thiego enfrentou uma concorrência de quase 1.800 candidatos para apenas 40 vagas. Mais de 44 candidatos por vaga. Ele fez também o vestibular para Medicina na UNIR e também espera ser aprovado já que também se preparou em um cursinho. "Estudar mais perto de casa junto aos familiares é mais tranqüilo", finalizou. Residente no Bairro Eletronorte, zona sul da capital, Thiego é oriundo de família humilde e completa, junto com o Ruan e tantos outros "feras", o extenso time de alunos vencedores que já passaram pelo Projeto Terceirão do Colégio João Bento da Costa. "Quero o meu nome escrito no muro do colégio e com o destaque merecido: 1º lugar em Medicina na UFAC", exigiu o acadêmico Thiego ao diretor Suamy Lacerda do JBC.
            O professor Suamy acredita que vai faltar espaço nos muros da Escola professor João Bento da Costa para colocar tantos nomes de alunos aprovados em vestibulares pelo Brasil afora neste ano de 2010. "Esperamos para janeiro próximo uma aprovação de pelo menos 150 alunos somente no vestibular da UNIR. Temos também vários alunos concorrendo pelo PROUNI e ainda muitos outros, a exemplo destes que foram aprovados no Acre, que fazem vestibulares em várias outras universidades públicas do Brasil", completou o Diretor. "O sucesso do Thiego, do Ruan, do Cristiano Danúbio, da Gabriele Veiga, também alunos de Medicina e de tantos outros, é o sucesso da família JBC e de um trabalho que só alegrias tem dado a Porto Velho e ao Estado de Rondônia", concluiu Suamy.

Obs.: Para àqueles que ainda NÃO acreditam que o Projeto Terceirão  funciona na Escola Pública basta conferir os resultados na lista oficial da UFAC no línk 
http://www.ufac.br/vestibular/vestibular2011/lista_classificacao_fase2_preliminar.pdf

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Aos leitores deste blog

Todos os anos a natureza se embeleza...
Para tornar mais feliz e bela...
Para que todos tenham um motivo a mais...
Para que a esperança se
mpre alcance...
Para que a compreensão chegue a razão...
Para que o mundo sinta a realização...
Para que o próximo ano tenha soluções
Para que crianças sejam amparadas...
Para que as drogas sejam apagadas...
Para que predomine a solidariedade...
Para que os casais entendam a responsabilidade...
Para que a espiritualidade seja sempre amada...
Para que o pobre tenha mais bem acolhida.
..
Para que a justiça seja justa com mais benevolência...
Para que cada cristão cumpre seu dever...
Para que a política tenha mais ética...
Para que a sociedade seja mais fraterna...
Para que os meios de comunicação tragam soluções...
Para que os pais saibam que os filhos serão eles...
Para que o natal seja mais belo...
Para que a noite se estenda fora da capela...
Para que o menino Deus seja louvado...
Para que todos tenham um Feliz Natal! 

Aos leitores,alunos e todos os demais que passaram por este blog um super Natal a todos, felicidades sempre e foco para que 2011 seja maravilhoso!

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

JBC - Diretor Suamy encerra sua administração com chave de ouro


 "Medalha Mérito Marechal Rondon coroa uma administração de sucesso no JBC"

A Medalha de Mérito Marechal Rondon para o Estado de Rondônia foi criada através de Projeto de Lei, de autoria do executivo estadual, e aprovada na Assembléia Legislativa (Ale), para homenagear pessoas ou instituições nacionais e estrangeiras que tenham se destacado pela notoriedade do saber ou com relevantes serviços prestados ao Estado.

Desse modo foi que em 1982, foi instituída a Comenda que tem como seus ícones maiores a Cruz dos Templários, a efígie de Rondon e o contorno estelar do Real Forte Príncipe da Beira.Essa tríade representa a fé,coragem e a História, pilares sobre os quais se assentou o desenvolvimento e progresso de Rondônia.Por quase três décadas, a Ordem do Mérito Marechal Rondon enalteceu com justiça rondonienses que trabalharam com idoneidade,civismo,entusiasmo ,otimismo e respeito ao próximo.Neste ano o Diretor da Escola Estadual Prof. João Bento da Costa – Sr. SUAMY VIVECANANDA LACERDA DE ABREU será um dos homenageados  no próximo dia 22/12/2010, sendo indicado por vários segmentos da sociedade que reconhecem o brilhante trabalho efetivado na área da Educação no Estado de Rondônia com a implantação do Projeto Terceirão em sua administração fazendo a inclusão de alunos carentes da comunidade nas Universidades Federais do país e nas faculdades Privadas através do PROUNI.

Um trabalho digno de respeito e da maior condecoração do Estado,embora já tenha sido agraciado com diversos prêmios no decorrer de sua gestão naquela Instituição de Ensino.

Suamy V.L. de Abreu mostrou de forma surpreendente junto com sua equipe que a diferença pode acontecer no âmbito das  Escolas Públicas, pois em 08 (oito) anos à frente da Direção daquela Escola juntamente com Elba Cerquinha  enceram seus trabalhos em 2010 com uma média de 1.200 (um mil e duzentos) alunos aprovados para as Universidades Federais e pelo Prouni e cerca de 1.500 com o FIES sem contar ainda os que serão aprovados neste ano,visto que o resultado só sairá em final de janeiro/2011.

Suamy V.L. de Abreu é um vencedor e encerra sua administração com chave de ouro.

Parabéns Prof. Suamy!

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

LOCAL DE PROVA VESTIBULAR UNIR 2011 JÁ DISPONÍVEL

Os locais de prova para o vestibular da UNIR dia 05/12 já estão disponíveis no link abaixo.

ATENÇÃO: Verifique se o curso para o qual você fez inscrição corresponde ao que está no cartão,pois já foi constatado por alguns alunos cursos diferentes,caso isso ocorra entre em contato com a UNIR imediatamente,antes da prova no próximo dia 05.


http://www.processoseletivo.unir.br/index.php?pag=concursos&id=81


Copie e cole no seu navegador link acima.

sábado, 20 de novembro de 2010

A consciência Negra e a busca de uma verdadeira humanidade

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Talvez seja conveniente começar examinando por que é preciso pensarmos coletivamente sobre um problema que nunca criamos. Ao fazer isso, não quero me ocupar desnecessariamente com as pessoas brancas da África do Sul, mas para conseguir as respostas certas precisamos fazer as perguntas certas; temos de descobrir o que deu errado - onde e quando; e precisamos verificar se nossa situação é uma criação deliberada de Deus ou uma invenção artificial da verdade por indivíduos ávidos pelo poder, cuja motivação é a autoridade, a segurança, a riqueza e o conforto. Em outras palavras, a abordagem da Consciência Negra seria irrelevante numa sociedade igualitária, sem distinção de cor e sem exploração.

Ela é relevante aqui porque acreditamos que uma situação anômala é uma criação deliberada do homem.
Não há dúvida de que a questão da cor na política da África do Sul foi introduzida originalmente por razões econômicas. Os líderes da comunidade branca tinham de criar algum tipo de barreira entre os negros e os brancos, de modo que os brancos pudessem gozar de privilégios à custa dos negros e ainda se sentirem livres para dar uma justificativa moral para a evidente exploração, que incomodava até as mais empedernidas consciências dos brancos.

No entanto, diz a tradição que, sempre que um grupo de pessoas experimenta os agradáveis frutos da riqueza, da segurança e do prestígio, começa a achar mais confortável acreditar numa mentira óbvia e aceitar como normal que só ele tenha direito ao privilégio. Para acreditar seriamente nisso, o grupo precisa se convencer da veracidade de todos os argumentos que sustentam essa mentira. Portanto, não é de estranhar que na África do Sul, depois de séculos de exploração, as pessoas brancas em geral tenham chegado a acreditar na inferioridade do negro, a tal ponto que, embora o problema racial tenha começado como conseqüência da ganância econômica demonstrada pelos brancos, agora transformou-se num problema sério em si mesmo. As pessoas brancas agora desprezam as pessoas negras, não porque precisam reforçar sua atitude e, assim, justificar sua posição privilegiada, mas porque de fato acreditam que o negro é inferior e mau. Esse é o fundamento sobre o qual os brancos atuam na África do Sul e é isso o que faz com que a sociedade sul-africana seja racista.
O racismo que encontramos não existe apenas numa base individual; ele também é institucionalizado, para que pareça ser o modo de vida sul-africano. Embora ultimamente tenha havido uma tentativa frágil de encobrir os elementos abertamente racistas no sistema, ainda é verdade que esse mesmo sistema é sustentado pela existência de atitudes antinegro na sociedade. Para dar uma vida ainda mais longa à mentira, é necessário que se negue aos negros qualquer oportunidade de provar acidentalmente que são iguais aos brancos. Por essa razão, há reserva de emprego, falta de treinamento em tarefas especializadas e um círculo restrito de possibilidades profissionais para negros. Absurdamente, o sistema retruca afirmando que os negros são inferiores porque entre eles não há economistas, não há engenheiros etc, embora os negros tenham sido impossibilitados de adquirir esses conhecimentos.
Para dar autenticidade à sua mentira e demonstrar a retidão de suas pretensões, os brancos vêm desenvolvendo esquemas detalhados para "resolver" a questão racial neste país. Desse modo, foi criado um pseudo-Parlamento para os "mestiços", e vários "Estados bantus" estão em vias de ser estabelecidos. Estes são tão independentes e afortunados que não precisam gastar nem sequer um centavo em sua defesa, pois não têm nada a tremer da parte da África do Sul branca, que sempre virá socorrê-los em caso de necessidade. É impossível não ver a arrogância dos brancos e seu desprezo pelos negros, mesmo em seus esquemas de dominação modernos e bem planejados.
A estrutura de poder branco vem obtendo sucesso total em conseguir unir os brancos em torno da defesa do status quo. Jogando de modo habilidoso com o espantalho imaginário - o swart gevaar -, conseguiu convencer até os liberais obstinados de que há algo a temer na idéia de o negro assumir seu lugar legítimo no leme do barco sul-africano. Assim, após anos de silêncio, podemos ouvir a voz familiar de Alan Paton dizendo, lá longe, em Londres: "Talvez valha a pena tentar-se o apartheid". "À custa de quem, Dr. Paton?", pergunta um inteligente jornalista negro. Por isso os brancos em geral se apóiam mutuamente - embora se permitam algumas desavenças moderadas - quanto aos detalhes dos esquemas de dominação. Não há dúvida de que não questionam a validade dos valores brancos. Não enxergam nenhuma anomalia no fato de estarem discutindo sozinhos sobre o futuro de 17 milhões de negros - numa terra que é o quintal natural do povo negro. Quaisquer propostas de mudança provenientes do mundo negro são encaradas com a maior indignação. Até mesma a assim chamada oposição, o Partido Unido, tem a ousadia de dizer aos mestiços que eles estão querendo demais. Um jornalista de um jornal liberal como o Sunday Times, de Johannesburgo, descreve um estudante negro - que está apenas dizendo a verdade - como um jovem militante impaciente.
Não basta aos brancos estar na ofensiva. Acham-se de tal modo mergulhados no preconceito que não acreditam que os negros possam formular os próprios pensamentos sem a orientação e a tutela dos brancos. Assim, até mesmo os brancos que vêem muitos erros no sistema tornam para si a responsabilidade de controlar a reação dos negros à provocação. Ninguém está sugerindo que não é responsabilidade dos brancos liberais se opor a tudo o que há de errado. No entanto, parece coincidência demais que os liberais - poucos como são - não apenas estejam determinando o modus operandi dos negros que se opõem ao sistema, como também se achem em sua liderança, apesar de envolvidos com o sistema. Para nós, seu papel define a abrangência da estrutura do poder branco: embora os brancos sejam o nosso problema, são outros brancos que querem nos dizer como lidar com esse problema. Eles fazem isso procurando desviar nossa atenção de inúmeras maneiras. Dizem-nos que a situação é mais a de uma luta de classes que uma luta racial. Eles que procurem Van Tonder no Free State e digam isso a ele. Nós acreditamos que sabemos qual é o problema e vamos continuar fiéis à nossas conclusões.
Quero aprofundar um pouco mais nessa discussão porque está na hora de acabar com essa falsa coalizão política entre negros e brancos enquanto estiver fundamentada numa análise errônea de nossa situação, é preciso lutar para acabar com ela. Quero acabar com ela por outra razão: porque, no momento, constitui o maior obstáculo à nossa união. Ela acena aos negros ávidos por liberdade com promessas de um grande futuro, para o qual ninguém nesses grupos parece trabalhar com muito afinco.
Os brancos liberais apontam o apartheid como o problema fundamental da África do Sul. Argumentam que, para lutarmos contra ele, é necessário que formemos grupos não raciais. Entre esses dois extremos, proclamam, encontra-se a terra do leite e do mel pela qual estamos trabalhando. Alguns grandes filósofos consideram a tese, a antítese e a síntese os pontos cardeais em torno dos quais gira qualquer revolução social. Para os liberais, a tese é o apartheid, a antítese é o não racismo, mas a síntese é muito mal definida. Querem dizer aos grupos que encontram na integração a solução ideal. A Consciência Negra, no entanto, define a situação de maneira diferente: a tese na verdade é um forte racismo por parte do branco e, portanto, sua antítese precisa ser, ipso facto, uma forte solidariedade entre negros, a quem esse racismo branco pretende espoliar. A partir dessas duas situações, então, podemos ter a esperança de chegar a algum tipo de equilíbrio - uma verdadeira humanidade, onde a política de poder não tenha lugar. Tal analise define a diferença entre a velha e a nova abordagem. O fracasso dos liberais se encontra no fato de que sua antítese já é uma versão diluída da verdade, cuja proximidade da tese vai anular o equilíbrio pretendido. Isso explica o malogro das comissões do Sprocas que não conseguiram nenhum progresso, porque já estão procurando uma "alternativa" aceitável para os brancos. Todos os que integram as comissões sabem o que está certo, mas todos eles procuram o modo mais conveniente de se esquivar da responsabilidade de dizer o que está certo.
Enxergar essa diferença é bem mais importante para os negros que para os brancos. Precisamos aprender a aceitar que nenhum grupo, por melhores intenções que tenha, poderá um dia entregar o poder aos vencidos, numa bandeja. Precisamos aceitar que os limites dos tiranos são determinados pela resistência daqueles a quem oprimem. Enquanto nos dirigirmos ao branco mendigando, com o chapéu na mão, nossa emancipação, estaremos lhe dando mais autorização para que continue com seu sistema racista e opressor. Precisamos nos conscientizar de que nossa situação resulta de um ato deliberado da parte dos brancos, e não de um engano, e que nem milhares de sermões morais podem persuadir o branco à "corrigir" esse estado de coisas. O sistema não concede nada a não ser que seja exigido, porque formula até seu método de ação com base no fato de que o ignorante aprenderá, a criança se transformará em adulto e, portanto, as exigências começarão a ser feitas. O sistema se prepara para resistir às reivindicações da maneira que lhe parecer adequada. Quando alguém se recusa a fazer essas exigências e prefere ir a uma mesa-redonda mendigando sua libertação, está atraindo o desprezo daqueles que têm poder sobre ele. Por esse motivo precisamos rejeitar as táticas de mendigos que estamos sendo forçados a usar por aqueles que querem aplacar nossos senhores cruéis. É aqui que a mensagem e o grito da SASO: "Negro, você está por conta própria!" se torna relevante.
O conceito de integração, cujos méritos são muitas vezes elogiados nos círculos de brancos liberais, está cheio de suposições não questionadas que seguem os valores brancos. É um conceito que há muito tempo foi definido pelos brancos e que os negros nunca examinaram. Baseia-se na suposição de que o sistema caminha muito bem, exceto por um certo grau de má administração exercida por conservadores irracionais da cúpula. Até mesmo os que argumentam em favor da integração muitas vezes se esquecem de escondê-la sob sua pretensa capa de harmonia. Dizem uns aos outros que, não fosse pela reserva de empregos haveria um excelente mercado a ser explorado. Esquecem que estão se referindo a seres humanos. Consideram os negros apenas alavancas adicionais para algumas máquinas industriais complicadas. É esta a integração do honrem branco - uma integração baseada nos valores de exploração, em que o negro competirá com o negro, um utilizando o outro como a escada que o conduzirá aos valores brancos. É uma integração na qual o negro terá que provar a si mesmo em termos desses valores antes de merecer a aceitação e a assimilação final, e na qual os pobres se tornarão mais pobres, e os ricos mais ricos, num país em que os pobres sempre foram negros. Não queremos ser lembrados de que somos nós, o povo nativo, que somos pobres e explorados na terra em que nascemos. Estes são conceitos que a abordagem da Consciência Negra quer arrancar da mente dos negros, antes que nossa sociedade seja conduzida ao caos por pessoas irresponsáveis provenientes do contexto cultural da Coca-Cola e do hambúrguer.
A Consciência 'Negra é uma atitude da mente e um modo de vida, o chamado mais positivo que num longo espaço de tempo vimos brotar do mundo negro. Sua essência é a conscientização por parte do negro da necessidade de se unir a seus irmãos em torno da causa de sua opressão - a negritude de sua pele - e de trabalharem como um grupo para se libertarem dos grilhões que os prendem a uma servidão perpétua. Baseia-se num auto-exame que os levou finalmente a acreditar que, ao tentarem fugir de si mesmos e imitar o branco, estão insultando a inteligência de quem quer que os criou negros. A filosofia da Consciência Negra, portanto, expressa um orgulho grupal e a determinação dos negros de se levantarem e conseguirem a auto-realizacão desejada. A liberdade é a capacidade de autodefinição de cada um. Tendo como limitação de suas potencialidades apenas a própria relação com Deus e com o ambiente natural, e não o poder exercido por terceiros. O negro quer, por tanto, explorar por conta própria o ambiente em que vive e testar suas potencialidades - em outras palavras, conquistar a liberdade por quaisquer meios que considerar adequados. Na essência desse pensamento está a compreensão dos negros de que a arma mais poderosa nas mãos do opressor é a mente do oprimido. Se dentro de nosso coração estivermos livres, nenhuma corrente feita pelo homem poderá nos manter na escravidão; mas se nossa mente for manipulada e controlada pelo opressor a ponto de fazer com que o oprimido acredite que ele é uma responsabilidade do homem branco, então não haverá nada que o oprimido possa fazer para amedrontar seus poderosos senhores. Por isso, pensar segundo a linha da Consciência Negra faz com que o negro se veja como um ser completo em si mesmo. Torna-o menos dependente e mais livre para expressar sua dignidade humana. Ao final do processo, ele não poderá tolerar quaisquer tentativas de diminuir o significado de sua dignidade humana.
Para que a Consciência Negra possa ser usada de modo vantajoso como uma filosofia a ser aplicada as pessoas que estão numa situação como a nossa, é necessário observar alguns aspectos. Como pessoas existindo numa luta contínua pela verdade, precisamos examinar e questionar velhos conceitos, valores e sistemas. Tendo encontrado as respostas certas, iremos então trabalhar para que todas as pessoas sejam conscientizadas, a fim de que tenhamos a possibilidade de caminhar no sentido de pôr em prática essas respostas. Nesse processo, precisamos desenvolver nossos próprios esquemas, nossos modelos e estratégias, adequados para cada necessidade e a situação, mantendo sempre em mente nossos valores e crenças fundamentais.
Em todos os aspectos do relacionamento entre negros e brancos, agora e no passado, vemos uma tendência constante por parte dos brancos de descrever o negro como alguém que tem um status inferior. Nossa cultura, nossa história, na verdade todos os aspectos da vida do negro foram danificados até quase perderem sua forma no grande choque entre os valores nativos e a cultura anglo-bôer.
Os missionários foram os primeiros que se relacionaram com os negros da África do Sul de um modo humano. Pertenciam à vanguarda do movimento de colonização para "civilizar e educar" os selvagens e apresentar-lhes a mensagem cristã. A religião que trouxeram era completamente estranha para o povo negro nativo. A religião africana em sua essência não era radicalmente diferente do cristianismo. Nós também acreditávamos num só Deus, tínhamos a nossa comunidade de santos por meio da qual nos relacionávamos com nosso Deus, e não considerávamos que era compatível com nosso modo de vida prestar a Deus um culto separado dos vários aspetos de nossa vida. Por isso o culto não era uma função especializada que se expressava uma vez por semana num prédio especial, mas aparecia em nossas guerras, ao bebermos cerveja, em nossas danças, em nossos costumes em geral. Sempre que os africanos bebiam, primeiro se relacionavam com Deus derramando um pouco da cerveja como símbolo de sua gratidão. Quando algo ia mal em casa ofereciam a Deus um sacrifício para apaziguá-lo e para reparar seus pecados. Não havia inferno em nossa religião. Acreditávamos na bondade inerente do homem e, por isso, tínhamos certeza de que todas as pessoas, ao morrerem, se juntavam à comunidade dos santos - portanto, mereciam nosso respeito.
Foram os missionários que confundiram as pessoas com sua nova religião. Assustaram o nosso povo com suas histórias sobre o inferno. Descreveram o Deus deles como um Deus exigente que queria ser adorado, "senão...". As pessoas tinham que pôr de lado suas roupas e seus costumes, para serem aceitas na nova religião. Sabendo que os africanos são um povo religioso, os missionários incrementaram sua campanha de terror sobre as emoções das pessoas, com seus relatos detalhados a respeito do fogo eterno, do arrancar de cabelos e do ranger de dentes. Por alguma lógica estranha e distorcida, argumentavam que a religião deles era cientifica, e a nossa uma superstição - apesar da discrepância biológica que está na base da religião deles. Para o povo nativo essa religião fria e cruel era estranha e provocava freqüentes discussões entre os convertidos e os "pagãos", porque os primeiros, tendo assimilado os falsos valores da sociedade branca, foram ensinados a ridicularizar e a desprezar aqueles que defendiam a verdade de sua religião nativa. Depois, com a aceitação da religião ocidental, nossos valores culturais foram por água abaixo!
Embora eu não deseje questionar a verdade fundamental que esta no centro da mensagem cristã, há um forte argumento em favor de um reexame do cristianismo. Tem provado ser uma religião muito adaptável que não procura acrescentar nada às ordens existentes, mas - como qualquer verdade universal - encontrar um modo de ser aplicada a uma situação específica. Mais que ninguém, os missionários sabiam que nem tudo o que faziam era essencial à propagação da mensagem. Mas a intenção básica ia muito além da mera propagação da palavra. Sua arrogância e seu monopólio sobre a verdade, sobre a beleza e o julgamento moral os fizeram desprezar os hábitos e as tradições dos nativos e procurar infundir seus próprios valores nessas sociedades.
Aqui temos, então, o argumento em favor da Teologia Negra. Como não quero discutir a Teologia Negra a fundo, basta que eu diga que ela procura relacionar mais uma vez Deus e Cristo com o negro e seus problemas cotidianos. Ela pretende descrever o Cristo como um Deus lutador, e não coma um Deus passivo que permite que uma mentira permaneça sem ser questionada. Ela enfrenta problemas existenciais e não tem a pretensão de ser uma teologia de absolutos. Procura trazer Deus de volta para o negro e para a verdade e a realidade de sua situação. Este é um aspecto importante da Consciência Negra, pois na África do Sul existe um grande número de pessoas negras cristãs que ainda se encontram atoladas em meio à confusão, uma conseqüência da abordagem dos missionários. Portanto, todos os sacerdotes e ministros religiosos negros têm o dever de salvar o cristianismo, adotando a abordagem da Teologia Negra e, assim, unindo o negro outra vez a seu Deus.
Também é preciso examinar atentamente o sistema de educação para os negros. No tempo dos missionários, essa mesma situação tensa já existia. Sob o pretexto de cuidarem da higiene, de adquirirem bons modos e outros conceitos vagos, as crianças eram ensinadas a desprezar a educação que recebiam em casa e a questionar os valores e os hábitos de sua sociedade. O resultado foi o que se esperava: as crianças passaram a encarar a vida de um modo diferente dos pais e perderam o respeito por eles. Ora, na sociedade africana, a falta de respeito pelos pais é um pecado grave. No entanto, como se pode impedir que a criança perca esse respeito quando seus professores brancos, que sabem tudo, a encenam a desconsiderar os ensinamentos da família? Quem pode resistir e conservar o respeito pela tradição, se na escola todo o seu ambiente cultural é sintetizado numa só palavra: barbarismo?
Podemos, assim, ver a lógica de colocar os missionários na linha de frente do processo de colonização. Uma pessoa que consegue fazer um grupo de indivíduos aceitar um conceito estranho, no qual ela mesma é um perito, transforma esses indivíduos em estudantes perpétuos, cujo progresso nesse campo só pode ser avaliado por ele; o estudante precisa sempre se dirigir a ele para obter orientação e promoção. Ao serem obrigados a aceitar a cultura anglo-bôer, os negros permitiram que eles mesmos fossem colocados à mercê do branco e que tivessem o branco como seu eterno supervisor. Só o branco pode nos dizer até que ponto estamos nos saindo bem, e instintivamente cada um de nós se esforça para agradar esse senhor poderoso que sabe tudo. É isso que a Consciência Negra procura arrancar pela raiz.
Segundo um escritor negro, o colonialismo nunca se satisfaz em ter o nativo em suas garras, mas, por uma estranha lógica, precisa se voltar para o seu passado e desfigurá-la e distorcê-la. Por esse motivo é muito desanimador ler a história do negro neste país. Ela é apresentada apenas como uma longa seqüência de derrotas. Os xhosas eram ladrões que iniciavam uma guerra por causa de propriedades roubadas; os bôeres nunca provocavam os xhosas, mas organizavam somente "expedições punitivas" para ensinar uma lição aos ladrões. Heróis como Makana, que foram essencialmente revolucionários, são apresentados como desordeiros supersticiosos que mentiam ao povo dizendo que as balas se transformavam em água. Grandes construtores da Nação, como Shaka, são apresentados como tiranos cruéis que frementemente atacavam tribos menores sem nenhuma razão, mas por um propósito sádico. Não apenas não há nenhuma objetividade na história que nos é ensinada, mas há muitas vezes uma terrível distorção de fatos, que enojam até um estudante desinformado.
Por isso, precisamos prestar muita atenção à nossa história se nós, como negros, quisermos nos ajudar mutuamente a nos conscientizarmos. Precisamos reescrever nossa história e apresentar nela os heróis que formaram o núcleo de nossa resistência aos invasores brancos. Mais fatos têem de ser revelados, assim como é preciso enfatizar as tentativas bem-sucedidas de construir uma nação, feita por homens como Shaka; Moshoeshoe e Hintsa. Diversos pontos requerem uma pesquisa minuciosa, para que possamos desvendar alguns importantes elos perdidos. Seríamos ingênuos demais se esperássemos que nossos conquistadores escrevessem sobre nós uma história não-tendenciosa, mas precisamos destruir o mito de que ela começou em 1652, ano em que Van Riebeeck chegou ao Cabo.
Nossa cultura precisa ser definida em termos concretos. Temos de relacionar o passado com o presente e demonstrar a evolução histórica do negro moderno. Existe uma tendência de considerar nossa cultura uma cultura estática, que foi detida em 1652 e desde então nunca se desenvolveu. O conceito de "voltar para o sertão" sugere que não temos nada de que nos gabar além de leões, sexo e bebida. Aceitamos o fato de que, quando uma civilização se estabelece, ela devora a cultura nativa e deixa atrás de si uma cultura bastarda que só pode se desenvolver no ritmo permitido pela cultura dominante. Mas também precisamos nos conscientizar de que os princípios básicos de nossa cultura conseguiram em grande parte resistir ao processo de abastardamento e que, mesmo agora, ainda podemos provar que apreciamos um homem por si mesmo. Nossa sociedade é autenticamente centrada no homem, e sua tradição sagrada é a partilha. Temos de continuar rejeitando o modo frio e individualista de encarar a vida que é a pedra fundamental da cultura anglo-bõer. É necessário devolver ao negro sua tradição de valorizar as relações humanas, de respeitar as pessoas, suas propriedades, a vida em geral. Com isso, visamos reduzir o triunfo da tecnologia sobre o homem e o espírito materialista que lentamente se insinua em nossa sociedade.
Estas são características essenciais de nossa cultura negra, às quais precisamos nos agarrar. Acima de tudo, a cultura negra implica a nossa liberdade de inovar sem recorrer aos valores brancos. Essa inovação faz parte do desenvolvimento natural de qualquer cultura. E uma cultura, em essência, é a resposta conjunta de uma sociedade aos vários problemas da vida. Todos os dias experimentamos novos problemas, e tudo o que fizermos aumenta a riqueza de nossa herança cultural, desde que tenha o homem colmo seu centro. A introdução de um teatro e de uma arte dramática negra é uma dessas inovações importantes que precisamos estimular e desenvolver. Sabemos que nosso amor pela música e pelo ritmo ainda hoje é importante.
Fazendo parte de uma sociedade exploradora, na qual muitas vezes somos o objeto direto da exploração, precisamos desenvolver uma estratégia em relação à nossa situação econômica. Temos consciência de que.Os negros ainda são colonizados, mesmo dentro das fronteiras da África do Sul. Sua mão-de-obra barata tem ajudado a fazer da África do Sul aquilo que é hoje. Nosso dinheiro. que vem das cidades segregadas, faz uma viagem só de ida para as lojas e para os bancos dos brancos, e a única coisa que fazemos durante toda a nossa vida é pagar para os brancos, seja com nosso trabalho, seja com nosso dinheiro. As tendências capitalistas de exploração, unidas à evidente arrogância do racismo branco, conspiram contra nós. Por esse motivo agora sai muito caro ser pobre na África do Sul. São os pobres que vivem mais longe da cidade, e por isso têm de gastar mais dinheiro com o transporte para ir trabalhar para os brancos; são os pobres que usam combustíveis dispendiosos e impróprios, como a parafina e o carvão, porque o branco se recusa a instalar eletricidade nas áreas dos negros; são os pobres que são governados por muitas leis restritivas mal definidas e que, por isso, têm de gastar mais dinheiro em multas por causa de transgressões "técnicas"; são os pobres que não têm hospitais e assim têm de procurar médicos particulares, que cobram honorários exorbitantes; são os pobres que usam estradas não asfaltadas, têm que andar longas distâncias e, por isso, têm de gastar muito com mercadorias como sapatos, que sofrem muitos estragos; são os pobres que precisam pagar pelos livros dos filhos, enquanto os brancos os recebem gratuitamente. Não é necessário dizer que são os negros que são pobres.
Portanto, temos de estudar de novo como usar melhor o nosso poder econômico, por menor que pareça ser. Precisamos examinar seriamente as possibilidades de criar cooperativas de negócios cujos lucros sejam reinvestidos em programas de desenvolvimento comunitário. Deveríamos pensar em medidas como a campanha "Compre de Negros", que certa vez foi sugerida em Johannesburgo, e estabelecer nossos próprios bancos em benefício da comunidade. O nível de organização entre os negros só é baixo porque permitimos que seja assim. Agora que sabemos que estamos por nossa própria conta, temos obrigação estrita de atender a essas necessidades.
O último passo da Consciência Negra é a ampliação da base de nossa atuação. Um dos princípios básicos da Consciência Negra é a totalidade do envolvimento. Isso significa que todos os negros precisam se posicionar como uma grande unidade, e nenhuma fragmentação ou desvio da corrente principal de acontecimentos pode ser tolerada. Por isso, precisamos resistir às tentativas dos protagonistas da teoria dos bantustões de fragmentar nossa abordagem. Somos oprimidos, não como indivíduos, não como zulus, xhosas, vendas ou indianos. Somos oprimidos porque somos negros. Precisamos usar esse mesmo conceito para nos unir e para dar uma resposta como um grupo coeso. Precisamos nos agarrar uns aos outros com uma tenacidade que vai espantar os que praticam o mal.
O fato de estarmos preparados para assumirmos nós mesmos as armas da luta nos levará a sair da crise. Precisamos eliminar completamente de nosso vocabulário o conceito de medo. A verdade tem que triunfar no fim sobre o mal, e o branco sempre alimentou sua ganância com esse medo básico que se manifesta na comunidade negra. Os agentes da Divisão Especial não farão com que a mentira se transforme em verdade e precisamos ignorá-los. Para uma mudança significativa da situação, precisamos arregaçar as mangas, estar preparados para perder nosso conforto e nossa segurança, nossos empregos e posições de prestígio, além de perder nossas famílias: assim como é verdade que "liderança e segurança são basicamente incompatíveis", uma luta sem baixas não é luta. Temos de tomar consciência do grito profético dos estudantes negros: "Negro, você está por conta própria!".
Alguns vão nos acusar de racistas, mas se utilizam exatamente dos valores que rejeitamos. Não temos o poder de dominar ninguém. Apenas respondemos à provocação do modo mais realista possível. O racismo não implica apenas a exclusão de uma raça por outra - ele sempre pressupõe que a exclusão se faz para fins de dominação. Os negros têm tido suficiente experiência como objetos de racismo para não quererem inverter as posições. Embora possa ser relevante falar agora a respeito do negro em relação ao branco, não podemos deixar que esta seja a nossa preocupação, pois pode ser um exercício negativo. A medida que avançarmos em direção à realização de nossos objetivos, falaremos mais sobre nós mesmos e nossa luta e menos sobre os brancos.
Saímos em busca de uma verdadeira humanidade e em algum lugar no horizonte distante podemos ver o prêmio a brilhar. Vamos caminhar para a frente com coragem e determinação, extraindo nossa força da difícil condição que partilhamos e de nossa fraternidade. Com o tempo, conseguiremos dar à África do Sul o maior presente possível: um rosto mais humano.

Núcleo de Estudantes Negras “Ubuntu” / Universidade do Estado da Bahia – UNEB

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

O rio comanda a vida - Leandro Tocantis


Os poetas e escritores costumam cantar em prosa e verso as belezas e importância dos rios. Um dos maiores escritores acreanos, Leandro Tocantins, no seu O Rio Comanda a Vida, foi um deles, enquanto um dos maiores poetas do mundo, Fernando Pessoa, dizia que o rio mais bonito era o rio da sua aldeia." Não mais bonito, todavia, que o meu Rio Acre."




Do ensaísta Leandro Tocantins é lícito esperar-se que venha escrever sobre a Amazônia obra que alcance a eminência da obra-prima. Essas palavras do proeminente sociólogo Gilberto Freyre vêm confirmar o que é o livro O Rio Comanda a Vida, uma obra-prima das letras amazônicas.

O Rio Comanda a Vida veio a público em 1952 pelas mãos de Cassiano Ricardo, então diretor da extintaEditora A Noite, com o subtítulo “Panoramas da Amazônia”. Em edições posteriores a obra ganharia novos capítulos-ensaios e permutaria o subtítulo para “Uma Interpretação da Amazônia”.

É seu autor aquele que é considerado um dos mais importantes intérpretes da Amazônia, Leandro Tocantins, com toda uma vida de estudos e dedicação à cultura amazônica. Tendo nascido em Belém (PA), aos nove meses de idade viajou para o Acre onde seus pais, Van Dyck Amanajás Tocantins e Iraídes Góes, se estabeleceram, mais precisamente no rio Tarauacá, seringal Foz do Muru, de onde administravam seringais, herança da liquidação da Casa Aviadora Barbosa & Tocantins, da praça de Belém, afetada pela crise econômica da borracha. Tocantins publicou inúmeros livros, desde ensaios a poesias, e tornou-se uma referência importante para todos aqueles que se debruçam em estudar, acuradamente, a Amazônia e seus complexos.

Os 28 capítulos-ensaios (edição de 1972) que compõem O Rio Comanda a Vida podem ser lidos aleatoriariamente, sem prejuízos de compreensão para o leitor, uma vez que cada ensaio possui temáticas diferentes e independentes, embora, seja necessário ressaltar que o livro forma um todo coerente, sob o prisma de dois ângulos: o do seu substrato sociológico e histórico em quadro livro, e o da sua projeção para o futuro. O primeiro capítulo denomina-se “A água doce que entra no mar” e trata basicamente dos descobridores do caudaloso e imponente Rio Amazonas. E finaliza o livro o texto “O rio comanda a vida” que aborda a dinâmica dos rios na vida dos povos amazônicos. Em edições posteriores à primeira, o autor achou por bem incluir alguns apensos, isto é, conferências por ele pronunciadas.

O livro pretendeu ser, na época em que foi escrito, uma evocação e um testemunho de alguém que conheceu tradições, lendas, viu panoramas, observou fatos sociais. E como ressalta o próprio autor, no primeiro momento, a obra nasceu a partir de “impressões pessoais, pesquisas históricas e geopolíticas, trajetórias humanas, idéias e fatos, a que procurei dar forma e vibração, sem me afastar do real, da verdade, no intuito de fazer conhecida honestamente a Amazônia e chamar a atenção dos poderes governamentais para os problemas do vale e as necessidades de seu povo”. Nesse sentido, o livro nasceu de um sentimento brasileiro de integração da Amazônia no processo social e econômico do país.

Nas palavras do escritor, a unidade do livro se justifica na ideia de que a natureza absorve e prende o homem em suas malhas, apesar do lento e continuado esforço para humanizá-la. Daí o rio – uma das mais poderosas forças do meio – dominar a vida, que ainda é, nesta época de revolução técnica, marcada profundamente pelos fatores geográficos.

O que O Rio Comanda a Vida se pretende é interpretar algumas partes integrantes da área cultural luso-cristã, área que se distingue no extremo norte pela marca da exploração humana ditada pelo extrativismo e profundamente influída, no seu processo sócio-econômico, pela água e pela floresta. Interpreta alguns aspectos regionais, apresentando um conjunto de sugestões para a caracterização da vida amazônica.

Muitos dos anseios projetados por Tocantins em seu livro, hoje, são uma realidade. Sua obra abriu novas perspectivas para Amazônia ao chamar a atenção para a importância da integração amazônica conciliando desenvolvimento e preservação, numa conquista ampliada pelo desenvolvimento social e econômico da região, alertando as autoridades para a cobiça internacional pelo qual vinha sofrendo a Amazônia e colocando-a não só na pauta nacional, mas em discussão a nível internacional.

O Rio Comanda a Vida une a virtude literária de expressão clara e atraente ao honesto saber histórico, à acuidade na interpretação sociológica. O autor de Casa Grande e Senzala não diria essas palavras ao acaso. Portanto, ressoa mais como convite do que como testemunho, pois penetrar em estudos profundos e sérios acerca da Amazônia é semelhante a penetrar em sua própria selva.

Galvez - O Imperador do Acre / Marcio Souza

Sinopse


"Galvez, o Imperador do Acre" conta a vida e a prodigiosa aventura de Dom Luiz Galvez Rodrigues de Aria nas fabulosas capitais amazônicas, e a burlesca conquista do território acreano contada com perfeito e justo equilíbrio de raciocínio, para a delícia dos leitores. Ambientado no fim do século XIX, mostra como o rápido avanço da revolução industrial multiplicou a demanda da borracha - motivo e fundamento do delirante boom amazônico, cujo monumento mais vistoso é Manaus, a capital da selva, a meca dos caçadores de fortuna, politiqueiros, rameiras de luxo e de outros gêneros, em suma, de visionários e aventureiros. Márcio Souza mistura com maestria dados fictícios e históricos, enredando o leitor no mundo delicioso desse andaluz de Cádiz chamado Galvez. Um audacioso amante e, segundo suas próprias palavras, "espanhol da geração melancólica". Um homem invulnerável aos golpes do destino - sejam estes emboscadas, dilúvios, doenças, canibais e flechas, amores eclesiásticos e amizades equívocas - e que funda no norte do Reino do Brasil, o efêmero império do Acre.
 
Visão Literária
 
No romance Galvez imperador do Acre, Márcio Souza, um dos romances representante do novo romance histórico no Brasil, apresenta a história da personalidade histórica citada no título partindo de dois pontos de vista: o primeiro é representado pelo próprio Galvez que narra a sua história desde a chegada ao Brasil intercalando fatos de sua história anterior a esse momento; o segundo narrador é o editor da obra que encontrou o diário de Galvez em um sebo e pretende publicá-lo com o intuito de reaver o que gastou no calhamaço.

O Galvez construído pela literatura é um espanhol mulherengo, (estabelecendo semelhanças com Dom Juan) aventureiro e que está sempre no centro das confusões. Os episódios de sua vida são decorrentes, na maioria das vezes, da bebedeira ou das amantes.

Love and Revolution



Cira não escamoteava absolutamente nada para que eu lutasse pelo seu amor. Enfrentar o imperialismo americano tendo como propelente ideológico o amor de uma mulher. E eu dizia, por favor, querida, isto não é romance de Abade Prévost! Quantas libras esterlinas temos nisso?(SOUZA, 1992, p.44)

Um dos exemplos disso é o envolvimento de Galvez na história do Acre. A literatura conta que ele só conheceu o cônsul boliviano porque estava fugindo de um marido traído e continuando essa série de eventos, é por causa de Cira (outra amante), que ele participa de uma reunião do Comitê de Defesa do Acre, e para agradá-la aceita a missão de roubar um documento que comprova o apoio americano aos bolivianos caso o Brasil entrasse em confronto com a Bolívia. Motivado pela paixão e pelo impulso Galvez dá um passo rumo a uma das maiores reviravoltas na história do Brasil.

Do momento em que Galvez “rouba” o documento e o publica, até o momento em que Galvez de fato começa a fazer parte da revolução acreana, ele vive uma série de aventuras, desde ser perseguido por policiais durante uma ópera até ter um caso com uma freira em um barco repleto de religiosos. A vida de Galvez é extremamente atribulada, mas ele ainda consegue tempo para (re) organizar uma companhia de teatro que foi desfeita por conta das confusões do próprio Galvez. Durante esse meio tempo, entre as peripécias de um aventureiro e a proclamação do Estado Independente do Acre, o protagonista vai conquistando o leitor, que se habitua ao seu jeito bem humorado de narrar e as interrupções do editor nos momentos em que julga necessário. O tom paródico e irônico do texto conduzem ao riso.

Insônia



Passei uma noite terrível. Com medo de deixar Joana na cama de folhas,decidi carregá-la para o alto da árvore. Não consegui dormi com medo que ela despencasse.(SOUZA, 1992, p. 83)

O final do romance é previsível, visto que o narrador editor já anuncia no inicio que o protagonista “no fim, morre na cama de velhice”.(Ibidem, p.13); pelo desenrolar da narrativa, não se pode esperar sucesso na empreitada do protagonista, ao contrário, é até evidente o fim trágico do Império de Galvez. Um fator interessante é a falta de conhecimento da nossa própria história, tanto que muitos só conhecem a história da anexação do Acre através do romance, ou porque leu o romance e foi pesquisar os fatos narrados ou porque simplesmente leu o romance e aceitou os fatos narrados como verídicos.

Outro aspecto relevante quanto a obra literária é que no último capítulo da terceira parte, antes da efetiva conquista do Acre, há um capítulo, aparentemente estatístico e informativo, sem marcas de autoria que revela a situação do Acre, antes da chegada de Galvez. Esses dados são comprovados pela história oficial da região na época dos fatos narrados.

A Metafísica de Aristóteles



Morriam no Acre, anualmente, oito crianças entre vinte, nos primeiros dias de vida. 20% da população ativa sofria de tuberculose. 15% de lepra. 60% estava infestada de doenças típicas de carência alimentar. 80% da população não era alfabetizada. Não havia médicos no Acre. Um quilo de café custava 0$20. 40% da borracha fina do Amazonas vinha do território acreano.(SOUZA, 1992, p.154).

De um modo geral, o romance apresenta um panorama da sociedade amazonense no final do século XVIII, época em que o comércio da borracha estava no auge e o dinheiro fluía tanto quanto o látex. É possível perceber na obra uma crítica a esse deslumbramento e desperdício causado pela abundância de capital na região, as futilidades e até mesmo as incoerências sociais são destacadas no texto de forma carnavalizada e bem-humorada.

Algumas características estruturais da obra precisam ser destacadas, tais como: a presença de dois narradores, a aparente fragmentação, a paródia de vários discursos oficiais, como atas e memorandos, os títulos de capítulos que remetem a outros textos, a interferência irônica do narrador editor, os capítulos curtos, a denominação da obra como folhetim. Todos esses aspectos acentuam o caráter social da obra e evidenciam uma visão de mundo diferente da expressa pela história, além de colocar em xeque o discurso histórico.

Concluindo

Na leitura do romance são narradas as aventuras de Luiz Galvez e, ao mesmo tempo, como é próprio do gênero burlesco, a conquista e anexação do Acre, episódio da constituição das fronteiras brasileiras e, portanto, um assunto sério, é narrada em estilo escrachado e cômico, estabelecendo-se aí a característica essencial do burlesco, que é a discrepância entre o estilo e o assunto. Além disso, reforçando o tom burlesco que marca o texto, há inúmeras passagens em que temas importantes são tratados com fingida dignidade. Se o burlesco configura-se plenamente, a caracterização da narrativa como folhetim, presente na página de rosto, não se confirma, pois o suspense, sua marca essencial, é, desde logo, rompido com a afirmação inicial do narrador: “Esta é uma história de aventuras onde o herói, no fim, morre na cama de velhice” (p. 15).

Para além da ruptura com o modelo do folhetim, a afirmação do narrador rompe igualmente com a linearidade temporal típica das narrativas históricas tradicionais.O romance tem como protagonista Luiz Galvez Rodrigues de Aria, aventureiro espanhol envolvido no movimento de ocupação das terras à época pertencentes à Bolívia, e organiza-se em torno de dois narradores, ambos em primeira pessoa: um que se coloca na pele de editor, e outro que é o próprio Galvez que, tal como ocorre no plano dos relatos autobiográficos, narra suas memórias. O narrador editor não apenas introduz e conclui a narrativa, como freqüentemente interfere no relato do narrador personagem, corrigindo-o mesmo em suas memórias, num
evidente processo de desmistificação da verdade que reivindica para si duas modalidades discursivas: a da História e a da autobiografia. Nesse sentido, ao narrar episódio em que bravamente obtivera certo documento, Galvez é interrompido pelo narrador editor, que afirma:

Perdão, leitores! Neste momento sou obrigado a intervir, coisa que farei a cada



momento em que o nosso herói faltar com a verdade dos fatos. É claro que ele



conseguiu o documento. Mas da maneira mais prosaica do mundo. (p. 45)

O mesmo narrador editor é o responsável pela natureza metaficcional que a narrativa assume em todo seu desenvolvimento, pois não são raros os momentos em que se manifesta a respeito de sua estrutura e organização. Assim, afirma ele, inicialmente, que "Esta é uma história de aventuras onde o herói, no fim, morre na cama de velhice.E quanto ao estilo o leitor há de dizer que finalmente o Amazonas chegou em 1922. Não importa, não se faz mais histórias de aventuras como antigamente.(p. 15)"

Ao mesmo tempo em que caracteriza a narrativa como história de aventuras, o narrador editor dá início à reflexão sobre o processo literário nacional, através de referência explícita ao movimento modernista, que tem, na Semana de Arte Moderna de São Paulo, de 1922, seu marco instaurador. Tal reflexão tem continuidade no parágrafo seguinte, quando diz que os manuscritos das memórias de Galvez foram encontrados num sebo em Paris e que, a exemplo do que fizera José de Alencar com o livro Guerra dos mascates, resolvera organizá-los e publicá-los.

Trata-se, evidentemente, de um discurso através do qual parodia-se procedimento composicional que, utilizado insistentemente no curso da narrativa brasileira do século XIX, tornou-se um verdadeiro clichê. O discurso paródico, assim utilizado, reveste-se de uma dupla orientação: de um lado, ilumina a tradição literária, revigorando-a; de outro, renova a prática discursiva exaustivamente explorada no campo da produção romanesca, ao conferir-lhe significado novo.
O diálogo com a história literária brasileira efetiva-se com igual força no que tange às relações com o gênero memorialístico. Nesse sentido, estabelece vínculos com Memórias de um sargento de milícias (1853), de Manuel Antônio de Almeida, via tradição da novela picaresca: assim como Leonardo, protagonista do
romance de M. A. de Almeida, Galvez caracteriza-se como um pícaro, à medida que, ao servir de elemento de ligação entre os diferentes capítulos da narrativa,garante sua unidade. Clara igualmente é a relação que estabelece com Memórias sentimentais de João Miramar (1924), do modernista Oswald de Andrade, especialmente no que diz respeito à estruturação do romance, constituído de pequenos fragmentos narrativos, e também no que se refere à farta utilização do discurso paródico e ao diálogo permanente com a tradição cultural brasileira.

A natureza intertextual de Galvez, Imperador do Acre, além do já referido,manifesta-se também através do recurso da citatividade. Nessa medida, os capítulos Commemorazzione Verdiana, Ainda Giuseppe, Radamés, Luar sobre o Nilo, A Cripta, Dueto Final e Dueto Bufo (p. 54-58) constituem uma seqüência que se organiza a partir da incorporação e citação literal de passagens da ópera Aída, de Verdi. Em outros momentos, o romance se apropria de escritos de autoria de Cervantes, Calderón de La Barca e Lope de Vega e dá continuidade ao diálogo com a tradição ibérica, antes iniciado através da vinculação à novela picaresca.

Além desses dois narradores, a instância da narração é, por vezes, ocupada por outras personagens, como no capítulo intitulado Pintura rupestre (p. 78), em que Sir Henry, cientista britânico em expedição na Amazônia, assume o relato e desenvolve toda uma teoria a respeito do Teatro Amazonas, de Manaus. Em outros momentos, faz-se presente recurso típico do texto teatral, à medida que há diálogos autônomos,que se realizam sem qualquer interferência do narrador, como é o caso dos capítulos Diálogos do 3º Mundo I (p. 169) e Diálogos do 3º Mundo II (p. 161).Outro aspecto marcante na narrativa de Márcio Souza é a forma irônica e carnavalizada por ela assumida, nos termos em que foi proposta por Mikhail Bakhtin7 . Nessa perspectiva, Galvez, Imperador do Acre reveste-se de um caráter desmascarador, ao pôr a nu as mazelas da história política brasileira, sobretudo na sua truculência e instabilidade. O mesmo destino têm as elites brasileiras, cuja falsa moralidade é objeto de um discurso permanentemente irônico.
Além disso, o romance assume uma forma carnavalizada que se manifesta através de inúmeros índices, como, por exemplo, o da profanação presente nos episódios Liturgia e Novena, nos quais o herói envolve-se com uma freira e com ela mantém relações sexuais. A coroação bufa, principal ritual da carnavalesca, aparece vinculada ao episódio histórico da anexação do Acre, quando Galvez é coroado imperador. Verdadeiro herói bufo, Galvez toma conta de Puerto Alonso, posto situado na fronteira entre Brasil e Bolívia, que era guarnecido por aproximadamente uma dezena de soldados. No dia da coroação, ocorre uma grande orgia, regada a álcool, que promove a abolição de qualquer relação hierárquica entre os homens
que dela participam, como se pode perceber na seguinte transcrição:

Quando a noite chegou, já ninguém se entendia e o álcool havia abolido as hierarquias.O interior do Palácio Imperial era um ponto sensitivo onde corpos exultavam mudos e ocupados e as almas perdiam-se em êxtases e torrentes decalor. (p. 170)

Compreendido entre os capítulos Viva o Imperador do Acre (p. 146) e Minhadeposição (p. 171), o processo de entronização e derrubada de Galvez apresenta,além disso, outros elementos típicos do carnaval, como é o caso da cena montada para sua coroação. Acompanhado por um grupo de artistas franceses, em excursão pelo Brasil, Galvez, em plena selva amazônica, incumbe o coreógrafo e figurinista da companhia, então nomeado ministro da cultura, de montar um cenário,simulando a entrada de um grande palácio que, ao final da festa, aparececompletamente destruído.

Em Galvez, o índice mais expressivo da carnavalesca é talvez aquele que diz respeito à utilização de registros discursivos da mais diversa origem. Assim, as personagens trocam cartas e telegramas entre si; Galvez, chefe das forças revolucionárias pelo Acre independente, redige ordens de serviço, que constituem capítulos
do romance, como o seguinte:

Ordem de serviço!


Do: Comandante Galvez.
Para: Intendente Chefe.


Prezado Senhor, venho por meio desta ordenar um remanejamento em nossascompras. Queira diminuir a munição em quatro caixotes de balas e adicionar duas caixas de vinho e vinte dúzias de cervejas.
Saudações revolucionárias.
Viva o Acre independente.


Galvez, Comandante-em-Chefe. (p. 115)(outros ensaios BAUMGARTEN, O novo romance...)



Galvez, recém coroado imperador, redige e faz publicar decretos que, igualmente,constituem capítulos da narrativa; seus companheiros de aventura, nomeados para altos postos militares, fazem circular ordens do dia e despachos. Há,ainda, um intenso uso da linguagem jornalística, mediante a transcrição de notícias
publicadas nas páginas de jornais. Assim como a história política brasileira e a ação de sua diplomacia são objeto de crítica ao longo da narrativa, o discurso dos movimentos de esquerda, notadamente em seus lugares-comuns, não passa impune.
Exemplos típicos dessa circunstância são as duas atas (p. 40-41) em que o movimento revolucionário pela independência do Acre registra as reuniões preparatórias para a expedição.

Em síntese, esta breve leitura de Galvez, Imperador do Acre, mostra que oromance de Márcio Souza apresenta as seguintes marcas caracterizadoras:

a – consciência da impossibilidade de determinar, por meio do discurso/palavra,a incontestável verdade histórica;
b – concepção de que a História é imprevisível, opondo-se, conseqüentemente,àqueles que vêem na História um caráter cíclico; em verdade, desenvolve-se a idéia de que os mais surpreendentes e inesperados fatos podem ocorrer;
c – consciente distorção da história por meio de omissões, exageros e anacronismos,aspecto responsável pela ruptura da linearidade temporal característica do gênero;
d – utilização de personagens históricos como protagonistas das narrativas;
e – caráter metaficcional, ou o comentário do narrador sobre o processo de criação de seu próprio texto;
f – natureza intertextual, à medida que o romance é construído como um mosaico de citações; em outras palavras, o texto pode ser visto como a absorção e a transformação de um outro texto, obrigando a leitura da linguagem poética pelo menos como dupla;
g – caráter paródico com relação a outros textos que tenham abordado ou não os mesmos fatos da história;
h – forma dialógica, irônica e carnavalizada, nos termos em que foi proposta por Bakhtin em seus estudos sobre o discurso romanesco.

Este conjunto de inovações presentes em Galvez, Imperador do Acre, de Márcio Souza, sinaliza, em verdade, para o surgimento de um novo paradigma no plano da escrita do romance histórico brasileiro, que é também compartilhado pelas obras de Deonísio da Silva, Luiz Antonio de Assis Brasil, Ana Miranda, Moacyr Scliar e de tantos outros que têm se dedicado à revisão da história oficial brasileira pelo viés da ficção.

Personagem caricatural e burlesco, Galvez é um espanhol aventureiro que se mete no Norte brasileiro a fim de fazer fortuna rápida. Depara-se com uma classe dominante alienada e perdulária que se mantém à custa da exploração da borracha, cujo ciclo estava no auge durante a passagem do século 19 ao 20, época em que a história se passa. Dispõe-se, então, a levar sua parte nas riquezas. O espanhol lidera uma expedição ao Acre, ainda território boliviano, onde consegue a independência daquelas terras e é coroado imperador. Segue-se aí um reinado rocambolesco: após chegar ao topo, o protagonista pensa em instalar uma ditadura, mas acaba se rendendo à boa vida monárquica. Perde o posto e termina ridicularizado.

Bibliografia:

http://educarparacrescer.abril.com/
Dissertação Renato Otero da Silva Júnior (NID – Núcleo de Informação e Documentação da
Fundação Universidade Federal do Rio Grande)
BASTOS, Maíra (Universidade Presbiteriana Mackenize-UPM) - II Simpósio de Pesquisas em Letras da Unioeste
SOUZA,Márcio. Galvez - Imperador do Acre

Leia mais sobre Galvez: http://blogdaamazonia.blog.terra.com.br/2008/08/13/biografo-de-galvez-identifica-sua-obra-em-minisserie-da-tv-globo/


VEJA TAMBÉM
Órfãos do Eldorado - Milton Hatoun no link:
http://reda-umquestodeestilo.blogspot.com/2009/11/milton-hatoum-esta-no-auge.html

Órfãos do Eldorado - Milton Hatoum - UNIR


Milton Hatoum está no auge. O leitor do presente talvez não saiba o que é isso. A literatura brasileira esteve no seu auge entre o fim do século XIX, início do século XX, com Machado de Assis e Euclides da Cunha; depois, em algum momento, entre os anos 30, a partir da Segunda Geração Modernista, passando pela Geração de 45, e os anos 60, com João Cabral e Guimarães Rosa (antes da invasão do audiovisual). E depois? Nunca mais? Sem uma resposta que não ofenda as gerações de 70, 80 e até 90, a literatura brasileira vive outro grande momento agora, com Milton Hatoum. Depois de ler Dois Irmãos (2000), Cinzas do Norte (2005) e, neste instante, Órfãos do Eldorado (2008) é impossível não situar a produção de Milton Hatoum na melhor tradição da literatura brasileira. Lemos Órfãos do Eldorado e temos a sensação, raríssima, de que a literatura brasileira fala, novamente, conosco. Repetindo: isso não acontece todos os anos; nem, às vezes, todas as décadas — mas só algumas vezes, a cada século... Órfãos do Eldorado faz parte da Coleção Mitos da Companhia das Letras, provando que é possível também produzir obras-primas sob encomenda. Milton Hatoum funde os mitos do Eldorado, do título, com o da Cidade Encantada, no seu cenário preferido, Manaus e a região amazônica. Condensando alguns elementos que aprendeu a dominar, Milton Hatoum escreveu suas Memórias do Subsolo, costurando uma história de sobrevivência, um grande amor, o poder, o lirismo, a poesia e a decadência. Através de uma linguagem que é sua marca registrada, dando voz a uma civilização renegada por nossos homens de letras, no Norte do Brasil. Num País sério, como diria Paulo Francis, Milton Hatoum mereceria honras de chefe de estado — e todo o nosso respeito devido ao grande escritor. >>> Órfãos do Eldorado

Julio Daio Borges

Saudades de um lugar que nunca existiu
Milton Hatoum é, sem sombra de dúvida, um dos mais talentosos escritores brasileiros da atualidade. Um dado ajuda a entender o impacto desse manauense na literatura nacional: seus três livros até agora lançados, todos eles, foram vencedores do prestigiado Prêmio Jabuti. Órfãos do Eldorado é seu quarto livro publicado.

A novela continua as obras anteriores no sentido de que desvenda a vida, a história e os modos da região Norte, um pedaço do país desconhecido dos próprios brasileiros. É ali, num cenário rodeado de água por todos os lados, que se desenrola a vida de Arminto Cordovil, ao qual somente pode ser acrescido o epíteto de “filho de Amando Cordovil”. Perdido entre a exigência de seguir os negócios da família e os prazeres da quase irrestrita liberdade, Arminto usa os espaços de sua vida vazia para contar lendas e mitos amazônicos, contos de botos que engravidam virgens e mulheres que largam o mundo para viver numa cidade encantada, no fundo do rio. E a narrativa funde essas instâncias: a real, onde Arminto luta contra a figura do pai, que o subjuga em todos os sentidos, onde ele desenvolve sua relação ambígua com Florita, mulher que o criou, onde ele escuta conselhos do advogado Estiliano; e aquela outra, quase que sobrenatural, onde ele se perde na obsessão por uma órfã misteriosa.

Comparado a Cinzas do Norte ou a Dois Irmãos, obras anteriores de Hatoum, impressionantes por sua delicadeza, Órfãos do Eldorado parece diminuído. Talvez pelo formato bem mais conciso, que não permitiu ao autor desenvolver toda a sua habitual sutileza. O resultado é que livro não convence o quanto poderia, e não emociona. Bem escrito, mas sem alma, apóia-se na nostalgia que permeia o olhar de Hatoum sobre sua região, sobre as lembranças de um tempo/lugar muito peculiar.

Talvez porque o personagem principal não chegue a criar empatia, o elemento mais fundamental da história seja a Água. É ela que fornece modo de vida à família Cordovil, que permite a fusão dos imigrantes estrangeiros e dos índios, é na água que Arminto deposita histórias de infância, esperanças e desassossegos de amor. Tudo sempre ocorre tendo a água por testemunha. Mas a água é fugidia, assim como as chances que Arminto deixa passar. Pode ter sido essa a chance que a obra deixou passar: a de unir a fluidez natural, mansa, das letras de Hatoum com sua capacidade de dialogar, partindo de um microcosmo, com os sentimentos mais universais.

Resumindo

A história é narrada por Arminto Cordovil que, velho e sozinho, às margens do rio Amazonas, relata a um viajante a trajetória de sua própria vida, que começa marcada pela morte: “Até hoje recordo as palavras que me destruíram: Tua mãe te pariu e morreu”. Criado pelo pai, que parece lhe culpar pela morte da esposa, ele mais parece um bastardo do que um filho legítimo; é, pois, duplamente órfão. Quando herda as propriedades e a empresa do pai, Amando Cordovil, grande capitalista que fez fortuna durante o Ciclo da Borracha, Arminto se mostra sem capacidade e sem disposição para administrar a herança, o que o conduz do luxo à pobreza. Seu amor por uma índia-orfã, Dinaura, não só não se concretiza como o faz delirar e aos poucos, o sonho se torna uma espécie de obsessão: “passava o dia fugindo dessas coisas irreais, absurdas, mas que pareciam tão vivas que me davam medo”. Arminto, então, começa a desejar ir para outro lugar, para um Paraíso: “Vou embora para outra terra, encontrar uma cidade melhor. Para onde olho, qualquer lugar que o olhar alcança, só vejo miséria e ruínas”.Arminto nasce enquanto a mãe morre, acontecimento que marca sua vida para sempre.

Ele é o pária em busca de identidade. Recriminado pelo pai e único herdeiro da rica família Cordovil, o protagonista é criado por Florita, espécie de segunda mãe que o familiariza com o cotidiano dos índios que moram perto. Desde pequeno, ouve as histórias fantásticas que habitam as margens do caudaloso rio, alimentando seus desejos e se afastando da trajetória familiar. A história se desenrola em largas zonas de sombra.

Nos intervalos de seu relato, Arminto dá largos goles de tarubá, cachaça que ganhou dos índios saterés-maués. O álcool e as distorções que provoca no espírito turvam ainda mais sua razão. Mas nem as lendas aplacam sua dor. “O medo se intrometeu na saudade que eu sentia de Dinaura”, Arminto diz. Numa visita tardia à fazenda do pai, ele entende a origem de seu mal. “Não era o lugar que me perturbava, era a lembrança do lugar.” Portanto, no centro da trama tem-se a paixão louca de Arminto por Dinaura, uma menina criada pelas freiras carmelitas e cuja história guarda um segredo, que só ao final vai, em parte, se revelar. Paixão que, no dizer de Florita, o deixa “com o demônio no coração”.

Quando Arminto Cordovil cruza seus olhos com os de Dinaura, reconhece que sua vida mudaria. E mudou. Toda a novela de Milton Hatoum é a história dessa mudança. Mas uma mudança que não consegue extirpar o passado: ele prossegue, resiste, prolonga-se pelas artimanhas da memória. Depois de uma noite de amor com Arminto, a moça desaparece. Sua ausência é encoberta por lendas de mulheres que, seduzidas por botos, cobras e sapos, foram arrastadas para uma cidade mágica, submersa no Amazonas. A vida de Arminto se esfarela. Um desastre lhe tira o cargueiro alemão Eldorado. A falência, o palacete branco, em Vila Bela, última herança do pai. Traz o pensamento inchado pelo silêncio de Dinaura. “Eu me acostumei com o silêncio e com a voz que eu só ouvia nos sonhos.” Resta-lhe suportar a inconstância da moça e os estragos que provocou em seu coração. Eternamente apaixonado pela mesma mulher, vive em sua busca, e, em cada passo pelas trilhas errantes das matas ou cidades vizinhas, sofre com as conseqüências das falcatruas do velado pai, homem frio e desconhecido.

O desencanto provocado pelas irrealizações o deixa à beira da loucura, mas, auxiliado por Estiliano, melhor amigo de seu pai, o protagonista suporta as muitas perdas e alcança a paciência proporcionada pela maturidade. Antes de morrer, Arminto encontra forças para narrar sua inconstante história, aludindo sutilmente ao sentimento de abandono do homem contemporâneo.Na casa elegante em Manaus ou no palacete de Vila Bela, Amando nutre fantasias de proprietário e armador, que seu filho único, Arminto, teima em minar. Entre esses extremos que mal se tocam, uma galeria notável de mulheres. Angelina, a mãe morta; Florita, o anjo da guarda morena; Estrela, a bela sefardita e os homens de Estiliano, o advogado grego, a Denísio Cão, o barqueiro infernal que vivem na própria pele o fausto e os conflitos do ciclo da borracha nos anos que antecedem a Primeira Guerra Mundial. E, no centro de tudo, Dinaura, corpo estranho entre as órfãs das Carmelitas em Vila Bela, moça que parece filha do mato, lê romances, enfeitiça Arminto e sonha com a Cidade Encantada, a Eldorado submersa de que tanto se fala à beira do rio Amazonas.

Nota-se, portanto, que Órfãos do Eldorado é inspirado no mito amazônico da cidade encantada de Eldorado, um paraíso que existiria no fundo de algum dos rios da região, segundo lendas locais. Na novela de Milton Hatoum, Eldorado é também um barco da companhia da família Cordovil que afunda e leva a firma à falência. Os dois Eldorados - o fictício, que representa um lugar ideal, e o real, que é uma grande tragédia material - constituem uma presença forte na vida dos personagens, em sua busca pela felicidade. Uma busca sempre frustrada, pois o percurso que leva ao idílio da cidade desaparecida (representada pelo amor romântico e pela harmonia filial) exige a provação de uma catástrofe. Arminto, em sua narrativa repleta de lacunas e pontos obscuros, torna-se refém dessas contradições de Eldorado. A história em que todos se enredam é a crônica de violência, fausto e tragédia na Amazônia entre a Cabanagem e o fim do ciclo da borracha. O que há de mais interessante no novo livro de Hatoum são os paralelismos que se podem apreender da narrativa. A tragédia grega de Arminto se confunde, e muito, com o fim da pujança do extrativismo da borracha, então a nova riqueza do país, e a desilusão de uma nação próspera, saqueada por interesseiros e corruptos oportunistas. Amando, o pai, enriquece com as conveniências oferecidas pela primeira corrida da história provocada não por um minério, mas por uma planta. Dono de uma empresa de navegação, colabora com as tramóias de homens oportunistas enquanto distribui esperanças à população de Vila Bela, cidade ficcional inspirada na verdadeira Parintins.

Milton Hatoum não abandona as mazelas sociais. Ao narrar a utopia de uma elite indigna, o autor acaba retratando o desenredo de uma sociedade. “Queria ser diferente, mas uma sombra do meu pai estava dentro de mim, como um caroço numa fruta podre”, diz o protagonista.Pela divagação psicológica, pode-se enxergar, guardadas as devidas proporções, uma similaridade entre Arminto Cordovil e Bentinho (Dom Casmurro). Ambos são homens velhos que recontam seu passado. O estilo de Hatoum tem um eco machadiano: narrativa clássica, precisa e escorreita. Mas, se fosse possível fazer uma aproximação, Órfãos do Eldorado lembra muito Fogo morto, saga épica e clássico de José Lins do Rego - embora o Hatoum refute o conceito de que sua obra seja regionalista, pois ao contrário, há, na obra, um efeito que se costuma encontrar nos grandes livros: o movimento do particular para o universal. E essa transição do individual para o coletivo se realiza por meio do mito.

Como personagem de fundo, o Rio Amazonas, que, com seu peso e obscuridade, lhe serve de cosmos. E ainda a cidade de Manaus, desde os primeiros colonizadores confundida com o Eldorado. A Amazônia é um mundo em que as palavras fracassam. Em que elas só resistem na forma mole dos mitos.

Fonte: passeiweb

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Fez gabarito Enem inverso? Peça correção invertida

Se você respondeu a primeira prova do ENEM de forma inversa, preencha o requerimento no línk abaixo solicitando a correção invertida:

http://sistemasenem2.inep.gov.br/correcaoprova/




GABARITO OFICIAL DO ENEM NO LINK ABAIXO:


http://www.enem.inep.gov.br/provas.php



Enem 2010
Correção de acordo com cabeçalho do cartão já pode ser solicitada

Os participantes do Enem 2010 que desejarem optar pela correção de acordo com o cabeçalho do cartão-resposta das provas aplicadas no sábado, dia 6/11, já podem acessar o requerimento em http://sistemasenem2.inep.gov.br/correcaoprova/. Para isso, será necessário informar o CPF e a senha, cadastrados no ato de inscrição. Uma vez confirmado o requerimento de correção, não será possível cancelar ou refazer a solicitação. O sistema estará disponível até às 23h59 do dia 19/11, e todos os pedidos serão atendidos.
Ao digitar os dados requeridos, serão mostrados na tela do computador o nome completo do candidato, o CPF e o número de inscrição, com a mensagem “solicito que meu cartão-resposta seja corrigido considerando a marcação dos itens de 01 a 45 como questões de Ciências da Natureza e suas Tecnologias e a marcação dos itens 46 a 90 como questões de Ciências Humanas e suas Tecnologias”.

Saiba mais:
Em que caso devo preencher o requerimento solicitando correção de acordo com o cabeçalho do cartão-resposta?
O requerimento deve ser preenchido se você, no primeiro dia de prova, sábado, preencheu o cartão-resposta considerando seus cabeçalhos e não a ordenação numérica da prova.

O que vai acontecer se eu preencher o requerimento?
Se você preencher o requerimento, seu cartão-resposta será corrigido considerando as questões de 01 a 45 como de Ciências da Natureza e suas Tecnologias e as questões de 46 a 90 como de Ciências Humanas e suas Tecnologias.

Eu posso preencher o requerimento e depois reconsiderar?
Não. Uma vez preenchido o requerimento, ele não poderá ser cancelado ou reconsiderado. Por isso, bastante atenção na hora de preencher.

Eu preenchi o cartão-resposta seguindo a ordem numérica do caderno de questões. Preciso fazer alguma coisa?
Não. Seu cartão-resposta será corrigido normalmente, considerando a numeração dos itens no caderno de questões.

Eu recebi a prova amarela com defeito ou tive algum outro problema no dia da aplicação. Devo preencher o requerimento?
Não. O requerimento é exclusivo para solicitar a correção de acordo com o cabeçalho do cartão-resposta. Outras eventuais ocorrências serão tratadas pelo Inep, a partir dos registros dos aplicadores nas atas de sala.

Fonte: Assessoria de Comunicação Social - Inep

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

FARO - Vestibular 2011

Vestibular 2011 da Faculdade de Rondônia (FARO) – Inscrição



Continuam abertas as inscrições para o Processo Seletivo 2011 da  Faculdade de Rondônia – FARO. Os interessados deverão realizar suas inscrições até o dia 19 de novembro, através do site da FARO, ou de forma presencial, tanto no Campus da Faro, quanto na Central de Relacionamento. O valor da taxa de participação é de R$ 20,00.
As oportunidades são para os cursos de Administração, Ciências Contábeis, Direito, Enfermagem, Engenharia  Civil, Engenharia Florestal e Pedagogia.

Ressalte-se que as provas estão previstas para serem aplicadas no dia 21 de novembro, na sede da Faculdade em Porto Velho-RO.
Maiores informações poderão ser obtidas através do site: www.faro.edu.br