sábado, 20 de julho de 2013

Série: 50 Anos da Renúncia de Jânio Quadros

Fonte: A série 50 anos da renúncia de Jânio Quadros foi publicada num especial da Revista Veja e a publico aqui de forma direta  para leitura de vestibulandos tendo em vista a importância do fato nesse ano de 2013.


  "A renúncia do ex-presidente Jânio Quadros completa 50 anos em 25 agosto. Para explicar os acontecimentos daquele tempo, as dificuldades de um país que mal entrara na democracia e já namorava o caos e o autoritarismo que culminariam no golpe militar de 1964, a equipe de VEJA preparou uma reportagem especial em três plataformas: na internet, em tablets e também na edição impressa. A unir esses três universos, estão os textos do jornalista Augusto Nunes, colunista do site de VEJA e um profundo conhecedor das desventuras do imprevisível Jânio.  Foram três meses de pesquisa em acervos de fotos, vídeos e áudios, revistas, biografias de Jânio, documentos históricos e entrevistas com especialistas - um passeio multimídia pela história do político da “vassourinha” e pelos sete meses que marcaram sua breve presidência." VEJA

*Primórdios

O populismo como religião

Em campanhas sucessivas, o professor de geografia que não fizera sucesso como advogado atraiu eleitores para um caminho que dispensou projetos políticos e programas ideológicos. Nascia o janismo

Julho de 1948 - Como vereador, fiscaliza o desperdício de verduras em feiras livres da cidade de São Paulo. Jânio, que tinha sido eleito como suplente, tomou posse depois que os mandatos dos políticos do Partido Comunista Brasileiro foram cassados
Julho de 1948 - Como vereador, fiscaliza o desperdício de verduras em feiras livres da cidade de São Paulo. Jânio, que tinha sido eleito como suplente, tomou posse depois que os mandatos dos políticos do Partido Comunista Brasileiro foram cassados - Acervo Iconographia

  Dezembro de 1951 - Deputado estadual mais votado por São Paulo, com quase 18 mil votos, Jânio concede entrevista à imprensa
Dezembro de 1951 - Deputado estadual mais votado por São Paulo, com quase 18 mil votos, Jânio concede entrevista à imprensa - Acervo Iconographia

 Abril de 1953 - Prefeito por São Paulo, Jânio dá entrevista durante visita ao Rio de Janeiro. Ele ganhou a eleição para a prefeitura com 285 mil votos, o dobro do número de todos os outros candidatos
Abril de 1953 - Prefeito por São Paulo, Jânio dá entrevista durante visita ao Rio de Janeiro. Ele ganhou a eleição para a prefeitura com 285 mil votos, o dobro do número de todos os outros candidatos - Acervo Iconographia.

 20 de outubro de 1954 - Recém-eleito governador por São Paulo, é fotografado em momento descontraído enquanto se recupera da campanha, na qual teve 660 mil votos
20 de outubro de 1954 - Recém-eleito governador por São Paulo, é fotografado em momento descontraído enquanto se recupera da campanha, na qual teve 660 mil votos - UH/Folhapress

 6 de janeiro de 1955 - Nos estúdios da BBC inglesa, Jânio posa para foto antes de conceder entrevista ao Serviço Brasileiro da emissora em Londres, cidade que admirava como poucas
6 de janeiro de 1955 - Nos estúdios da BBC inglesa, Jânio posa para foto antes de conceder entrevista ao Serviço Brasileiro da emissora em Londres, cidade que admirava como poucas - Divulgação
  31 de janeiro de 1955 - Jânio recebe os cumprimentos de eleitores e convidados durante a comemoração da posse como governador de São Paulo
31 de janeiro de 1955 - Jânio recebe os cumprimentos de eleitores e convidados durante a comemoração da posse como governador de São Paulo - Acervo Iconographia

 Julho de 1956 - Governador de São Paulo, fala à imprensa depois de retornar de viagem ao exterior, feita durante uma licença-saúde de sessenta dias
Julho de 1956 - Governador de São Paulo, fala à imprensa depois de retornar de viagem ao exterior, feita durante uma licença-saúde de sessenta dias - Acervo Iconographia

  18 de julho de 1958 - Manifestação dos moradores da periferia de São Paulo em agradecimento ao governador por obras realizadas na cidade
18 de julho de 1958 - Manifestação dos moradores da periferia de São Paulo em agradecimento ao governador por obras realizadas na cidade - UH/Folhapress


Ele foi uma coleção de singularidades e paradoxos. Jânio Quadros segundo a certidão de batismo, o filho do médico Gabriel Nogueira Quadros e da dona de casa Leonor Silva Quadros resolveu, ainda menino, acrescentar um “da Silva” e juntar o mais comum dos sobrenomes ao prenome inspirado em Janus, o deus bifronte. Virou Jânio da Silva Quadros. Nascido em Campo Grande, inventou, quando estudante em Curitiba, um estranhíssimo sotaque sem parentesco com Mato Grosso, com o Paraná ou com qualquer região. O acento personalíssimo só pode ser encontrado na voz dos imitadores.

A política no rádio
Numa época em que a televisão ainda engatinhava, os jingles radiofônicos eram uma forte arma de convencimento. Jânio teve vários, além do célebre e excelente Varre, Varre, Vassourinha.
A vocação política e o estilo sublinhado pelo absurdo emergiram na Faculdade de Direito do Largo São Francisco. O candidato a primeiro-secretário do Centro Acadêmico XI de Agosto já exibia trajes desleixados e cabelos em desalinho, parecia pouco asseado, bebia com muita competência, apreciava frases empoladas e surpreendia concorrentes ortodoxos com métodos extravagantes. Passou boa parte da campanha sentado num barril, com chapéu de palha na cabeça circundado por uma faixa com três palavras: “Vote em Jânio”.

Vitorioso, o caçador de votos permaneceu adormecido até 1947, quando os alunos do Colégio Dante Alighieri decidiram conseguir uma vaga na Câmara Municipal para o professor de geografia que não fizera sucesso como advogado criminalista nem ingressara na carreira diplomática “por não corresponder aos padrões estéticos”. A direção dos ventos mudou em 1948, quando o suplente de vereador assumiu uma cadeira na Câmara Municipal.

O discurso que prometia varrer a bandalheira, punir os desonestos e enquadrar os ineptos encontrou um adversário perfeito: Adhemar de Barros, que consolidara a hegemonia regional e, simultaneamente, a imagem de corrupto. Como toda religião populista, o janismo  dispensou projetos políticos ou programas ideológicos. Bastavam frases de efeito valorizadas pela voz do único deus. “É a luta do tostão contra o milhão” ou “É preciso acabar com tudo isso que aí está”.

Em campanhas sucessivas, o domador das multidões com vassouras desfraldadas elegeu-se deputado estadual, prefeito de São Paulo, governador, deputado federal e presidente da República. Em apenas 13 anos, Jânio foi tudo. 
Adhemar de Barros (1901 - 1969)
ADHEMAR DE BARROS (1901-1969)
Ao longo dos anos 50, a vassoura de Jânio e o trevo de Adhemar de Barros protagonizaram o Fla-Flu da política paulista. Hegemônicos desde 1938, quando o filho de fazendeiros de Piracicaba foi nomeado interventor por Getúlio Vargas, os ademaristas não conseguiram resistir ao inimigo que prometia varrer a corrupção. “Rouba, mas faz”, retrucavam os partidários de Adhemar, que voltariam ao poder depois da renúncia. “Sinto saudade dele”, contou Jânio em 1980. “Era a minha referência.”

Fonte: VEJA

Série:50 anos da renúncia de Jânio Quadros

Fonte: Veja.abril

* Retórica

A coreografia de um gênio do palanque

Ao personagem popular, de cabelos desalinhados e terno amarrotado, somavam-se discursos inteligentes, nos quais enfileirava raridades gramaticais pinçadas dos desvãos do dicionário

Walter Firmo/Agência JB
17 de julho de 1961 - Jânio discursa em inauguração da Escola de Metalurgia, em Volta Redonda, no Rio de Janeiro
17 de julho de 1961 - Jânio discursa em inauguração da Escola de Metalurgia, em Volta Redonda, no Rio de Janeiro

"Naquele Brasil em que a televisão ainda engatinhava, os comícios eram uma espécie de novela das 8 e os principais atores políticos, tão populares quanto as estrelas da Globo hoje. Nenhum fez tanto sucesso quanto Jânio Quadros em 1960. Durante a temporada eleitoral, o candidato à presidência protagonizou em centenas de cidades apresentações em que se revelou um gênio do palanque.

A coreografia e o roteiro se repetiram em todos os comícios. Ele chegava no fim da festa, suando sob o terno de suburbano salpicado pela caspa e empunhando um sanduíche que simulava a falta de tempo para refeições normais. Convocado pelo locutor, passeava o olhar estrábico pelo oceano de vassouras antes de começar o discurso, sempre melhor na forma do que no conteúdo.

Sem cometer um único erro gramatical, enfileirava mesóclises e ênclises, abusava dos pronomes oblíquos e colecionava raridades pinçadas dos desvãos do dicionário para comunicar que chegara a hora de enquadrar os corruptos, os maus funcionários públicos, os empresários gananciosos, os adversários em geral e o presidente da República em particular. Dado o recado, Eloá se aproximava para, abraçada ao marido, endossar em silêncio a fala de encerramento.

“Minha mulher pediu-me que dirigisse as últimas palavras à mulher brasileira, a verdadeira dona da vassoura”, sublinhava o sotaque inconfundível. “Àquela que sofre no trabalho permanente do lar, que deve equilibrar as contas de salários de miséria.” Encerrado o espetáculo, as eleitoras exibiam o sorriso de quem descobrira que, olhando bem, Jânio Quadros, além de tudo, não era tão feio quanto diziam.

Para o povo
No dia da posse, uma multidão se reuniu na Praça dos Três Poderes, em frente ao Palácio do Planalto, para ouvir a despedida de JK e receber o novo presidente


Na posse, momento acompanhado por todo o país, Jânio foi mais Jânio do que nunca. Dois dias antes da cerimônia, Oscar Pedroso Horta, ministro da Justiça do presidente eleito, contou ao poeta Augusto Frederico Schmidt que o novo presidente pretendia responsabilizar JK por entregar-lhe “um país falido, um vendaval de insânias e um reinado de nepotismo”. Ao ouvir a informação, Juscelino prometeu reagir com um soco no rosto do desafeto.

Da mesma forma que o primeiro, feito no Congresso, o segundo discurso do dia, depois da transmissão da faixa presidencial, não fez referências a JK. Jânio só cumpriu a promessa à noite, num pronunciamento de 40 minutos em cadeia nacional de rádio. O agredido já não podia reagir. A bordo de um avião, cruzava o Atlântico em direção à Europa. "

Da Revista VEJA

Série: 50 anos da Renúncia de Jânio Quadros

Fonte: Veja.abril

*A presidência breve

Sete meses na montanha-russa

O governo de Jânio tangenciou o penhasco com perturbadora frequência, alternando freadas bruscas com acelerações vertiginosas. O abandono prematuro do governo foi uma das cenas desse mesmíssimo roteiro

31 de janeiro de 1961 - Jânio Quadros discursa durante a cerimônia de diplomação no Tribunal Superior Eleitoral
31 de janeiro de 1961 - Jânio Quadros discursa durante a cerimônia de diplomação no Tribunal Superior Eleitoral - Acervo Iconographia

Em 1° de fevereiro de 1961, 24 horas depois da posse de Jânio, a maioria oposicionista no Congresso ameaçou-o com a convocação de uma sessão especial da Câmara e do Senado caso continuasse hostilizando o antecessor. O novo presidente reagiu com a criação de cinco comissões de sindicância, chefiadas por militares e incumbidas de investigar “focos de corrupção” que dizia ter herdado de JK. Nos 204 dias seguintes, o Brasil viajou numa montanha-russa monitorada por um quarentão que obedecia a impulsos ditados pelo instinto. Sempre dera certo.

Tangenciando o penhasco com perturbadora frequência, alternando freadas bruscas com acelerações vertiginosas, entre uma crítica a Juscelino e um ataque ao Poder Legislativo, Jânio aumentou de seis para oito horas o expediente dos servidores públicos, tornou obrigatório o cartão de ponto, exonerou todos os contratados nos cinco meses anteriores, suspendeu nomeações por um ano, reduziu o orçamento das Forças Armadas e o soldo dos militares em serviço no exterior, diminuiu o número de funcionários em todas as embaixadas, tabelou o preço do arroz e do feijão, solidarizou-se com Fidel Castro no episódio da invasão de Cuba financiada pelos Estados Unidos, baixou medidas de combate ao monopólio, desvalorizou a moeda, determinou ao Itamaraty que apressasse o restabelecimento de relações diplomáticas com a União Soviética, proibiu biquíni na praia, maiô em concurso de miss, lança-perfume, corridas de cavalo em dias úteis, veiculação de comerciais no cinema e brigas de galo, ordenou a prisão de um general que presidira a Petrobras e tirou do ar por três dias a Rádio JB para puni-la por críticas ao governo, mobilizou o Exército para reprimir uma greve de estudantes em Recife, brigou com a UDN, afastou-se dos demais partidos que tentavam ampará-lo, instituiu o governo itinerante, regulamentou a remessa de juros para o exterior, enviou o vice João Goulart à China em missão oficial, condecorou Che Guevara e rompeu com Carlos Lacerda.

No 207° dia de governo, renunciou à Presidência da República.
 

As decisões histriônicas e as decisões sérias de Jânio Quadros

Em Brasília, Jânio alimentou sua inclinação por medidas idiossincráticas, exageradas e muito esquisitas. Por outro lado, o presidente fez decretos de algum bom senso para aquela época 

1.Brigas de galo

 
4 de novembro de 1959 - Apostadores em rinha de galo em São Paulo aguardam o começo da briga
Em 18 de maio de 1961, Jânio decretou a proibição das rinhas em todo o país. Em um tempo em que o politicamente incorreto inexistia e os cuidados com animais soavam como bizarrice, o veto virou manchete de jornal. E também provocou gritaria: o esporte de péssimo gosto movimentava uma dinheirama em aposta.

2. Hipnotismo

 
1º de outubro de 1959 - Pessoas em profundo sono hipnótico durante espetáculo no Colégio Diocesano, em São Paulo, promovido pelo irmão marista Vitricio, a maior autoridade brasileira em letargia
Decreto de 22 de julho de 1961. No início dos anos 60, os espetáculos de mesmerismo faziam imenso sucesso. Jânio resolveu proibi-los para impedir o uso falsamente medicamentoso dos truques. O problema é que ninguém estava muito interessado no assunto.

3.Concurso de miss

 
8 de junho de 1961 - A Miss Brasil Staël Maria Rocha Abelha posa de maiô acompanhada de outras misses no último concurso antes da proibição de Jânio
Moralista e mulherengo, o presidente decidiu que as participantes dos concursos de beleza não podiam se apresentar em "trajes de banho, sendo tolerado o uso de saiote". A regra nunca foi aplicada, embora tenha sido revogada apenas em 1991. Para fazê-la funcionar, foi criada a polícia de costumes, outro exotismo dispensável da era janista.

4.Preservação ambiental

 
Década de 50 - Integrante da expedição Roncador-Xingu, organizada pelos irmãos Villas Boas, entrega roupas para índios cuicuru na região do Alto Xingu. Num ato pioneiro de cuidado com o ambiente, Jânio criou vários parques nacionais e reservas florestais. O Parque Nacional do Xingu foi o primeiro nascido com a ideia de preservar a "área como reserva florestal e campo de estudo de riquezas naturais brasileiras", em 14 de abril de 1961.


5.Política externa independente

 
1° de janeiro de 1961 - Mao tsé-Tung aproveita para descansar enquanto viaja de trem para a Montanha de Lushan. O comunista chinês recebeu o vice-presidente João Goulart quando de sua viagem oficial à China. Jango esteve lá quando Jânio renunciou Jânio resolveu retomar as relações com a China, que estavam estremecidas desde a instalação de Mao tsé-Tung no poder, em 1949. A aproximação com a China e outras nações comunistas, como Cuba e a antiga União Soviética, fazia parte do plano de política externa independente, coordenado pelo ministro das Relações Exteriores Afonso Arinos, que procurava estabelecer relações comerciais e diplomáticas com todas as nações.

6.Restrições econômicas

 
7 de maio de 1961 - O ministro da Fazenda, Clemente Mariani, foi o grande responsável pela implementação das medidas econômicas do governo janista
Na tentativa de equilibrar a balança comercial, Jânio acabou com subsídios ao câmbio que beneficiavam determinados grupos econômicos importadores. O presidente também limitou e regulamentou a remessa de lucros para o exterior das empresas multinacionais, ideias de seu ministro da Fazenda, Clemente Mariani.

Série: 50 anos da Renúncia de Jânio Quadros

"Foi o maior erro que cometi"

A confissão tardia, pouco antes da morte, não absolve Jânio. Com a desistência abrupta, a democracia brasileira começou a agonizar em 25 de agosto de 1961

                                        Agência Estado
25 de agosto de 1961 - Jânio Quadros acena do carro no qual segue para a Base Aérea de Brasília após a renúncia
25 de agosto de 1961 - Jânio Quadros acena do carro no qual segue para a Base Aérea de Brasília após a renúncia
                                                                    

Irritado com o discurso em que Carlos Lacerda o acusara de tramar um “golpe de gabinete”, Jânio Quadros atravessou sem dormir a madrugada de 25 de agosto. E desceu para o café da manhã com Eloá, ao lado da piscina do Palácio da Alvorada, resolvido a tirar o sono do Brasil. Ao erguer-se da mesa, sobressaltou a primeira-dama com outra frase dramática: “A conspiração está em marcha, mas vergar, eu não vergo!”. Chegou ao Planalto às 6 horas, convocou os chefes da Casa Civil e da Casa Militar para uma reunião de emergência e, acariciando o bigode de dono de botequim, surpreendeu-os com a manchete da próxima edição de todos os jornais: “Comunico aos senhores que renuncio, hoje, à Presidência da República”.

Foi para o desfile do Dia do Soldado, convocou os três ministros militares para um encontro no Planalto e deixou-os atônitos com a notícia. Replicou aos apelos para que mudasse de ideia com outro palavrório solene, encerrado com a  identificação do culpado: “Ajustem o novo Brasil às exigências do Brasil novo. Com esse Congresso, eu não posso governar”. Ordenou ao ministro da Justiça, Oscar Pedroso Horta, que entregasse a carta redigida seis dias antes ao presidente do Senado, Auro de Moura Andrade. Na hora do almoço, embarcou rumo à Base Aérea de Cumbica para a demorada escala que precedeu a partida para a Europa a bordo de um navio cargueiro. No dia 26, o país mergulhou na crise provocada pelo veto militar à posse do vice João Goulart.

Notícia urgente
Boletim extraordinário do Repórter Esso, o programa de jornalismo mais famoso da época, comunica a renúncia de Jânio
“Foi o maior erro que cometi”, confessou ao neto Jânio John meses antes da morte. “Com a renúncia, pedi um voto de confiança à minha permanência no poder. Imaginei que o povo iria às ruas, seguido dos militares, e que seria chamado de volta. Deu tudo errado.” O grande intuitivo naufragou ao peso de equívocos bisonhos. Auro de Moura Andrade informou que a renúncia é um ato de vontade unilateral e empossou o presidente da Câmara. Preocupados com Jango, os militares esqueceram Jânio. E o povo só poderia ser mobilizado por um partido janista que o líder jamais permitiu que existisse.
Três anos mais tarde, o golpe que derrubou Goulart e varreu a liberdade confirmou que a democracia, ainda em sua infância, começou a agonizar em 25 de agosto de 1961. 

O relato da jornada que mudou o Brasil

Momento a momento do 25 de agosto de 1961


5h Jânio telefonou para Quintanilha Ribeiro, chefe da Casa Civil. As ligações foram constantes desde que ouvira pelo rádio a denúncia de Carlos Lacerda de que ele estaria articulando um golpe de estado. O presidente disse a Quintanilha que havia tomado uma decisão. Pediu que convocasse o general Pedro Geraldo, chefe da Casa Militar, e que ambos o encontrassem às 6 horas, no Planalto.
5h20 Tomou o café da manhã ao lado de Eloá enquanto lia o Correio Braziliense. Conversou por telefone com Oscar Pedroso Horta, ministro da Justiça. Ao desligar, dobrou o jornal, levantou-se e proferiu uma frase dramática: “A conspiração está em marcha, mas vergar, eu não vergo!”.
6h No Palácio do Planalto, comunicou a Quintanilha Ribeiro e a Pedro Geraldo que renunciaria à Presidência da República. Em seguida, ligou para Eloá e lhe pediu que preparasse as malas, porque deixariam Brasília naquela manhã.
8h Participou da cerimônia do Dia do Soldado

O ÚLTIMO ATO OFICIAL
Cinejornal mostra Jânio em seu último ato como presidente

10h Retornou ao Palácio do Planalto e convocou uma reunião com os assessores civis e os ministros militares. Comunicou a renúncia e entregou a carta destinada ao Congresso.
10h30 Deixou o Palácio do Planalto e encontrou Eloá no Palácio da Alvorada. A primeira-dama já estava na porta, com as malas na mão.
11h Embarcou para São Paulo. Na escada do avião, testemunhas o ouviram dizer: “Cidade amaldiçoada, espero nunca mais vê-la”.
13h A renúncia foi noticiada pelo Repórter Esso.
13h30 Chegou à Base Aérea de Cumbica, em São Paulo, depois de passar trinta minutos estacionado na pista de Congonhas para o reabastecimento do avião. Ficou 22 horas na residência do comandante da base, coronel Roberto Faria Lima.
14h Uma multidão saiu às ruas de São Paulo em busca de mais notícias sobre a renúncia.
15h O deputado Dirceu Cardoso leu a carta de renúncia na Câmara.
15h15 O senador Auro de Moura Andrade recebeu o ministro Oscar Pedroso Horta em seu gabinete e tomou conhecimento da decisão de Jânio.
15h40 Moura Andrade interrompeu o orador na tribuna, o senador Nogueira da Gama. Os trabalhos foram suspensos. Uma sessão extraordinária foi convocada para dali a uma hora.
16h55 Moura Andrade abriu a sessão extraordinária do Congresso. O presidente do Senado leu os documentos da renúncia e convidou os presentes a comparecerem à posse do presidente da Câmara, Ranieri Mazzilli, às 17 horas, no Palácio do Planalto. Participaram da sessão 46 senadores e 230 deputados.

LEITURAS NO CONGRESSO

O presidente do Senado, Auro de Moura Andrade, comunicou a renúncia e fez a leitura de um trecho da carta com as explicações de Jânio

Comunicado da renúncia

Leitura de carta
17h05 Moura Andrade encerrou a sessão extraordinária.
17h15 Ranieri Mazzilli foi empossado presidente interino.
17h45 Sentado ao lado da mulher no Aeroporto de Cumbica, Jânio murmurava, insistentemente, a mesma frase: “E o povo, onde está o povo que não se levanta?”.
18h Tropas ocuparam a Esplanada. Para garantir a posse de Jango, começou a Campanha da Legalidade, liderada pelo governador gaúcho Leonel Brizola.








Série:50 Anos da Renúncia de Jânio Quadros

por: Augusto Nunes 

O gesto que antecipou a ditadura militar

 

Otavio
Charge Jânio

"Sete anos depois do suicídio de Getúlio Vargas, sete meses depois da posse, o presidente Jânio Quadros precipitou, com sete linhas manuscritas, a sequência de crises que conduziria, sete anos mais tarde, ao Ato Institucional n° 5 — e à instauração da ditadura sem camuflagens. Na manhã de 25 de agosto de 1961, a democracia, ainda em sua infância, viu-se forçada a renunciar à maturidade, que só seria alcançada caso fossem cumpridos integralmente dois mandatos consecutivos. O Brasil civilizado pareceu mais distante do que nunca no dia em que o presidente sumiu.

Abrupto e inesperado, o último ato foi um fecho coerente para a ópera do absurdo composta desde o primeiro dia de gestão. “Ele foi a UDN de porre no governo”, resumiu Afonso Arinos de Mello Franco, ministro das Relações Exteriores.  “Faltou alguém trancá-lo no banheiro”, lastimou. 
Só se fosse para sempre, sabe-se hoje. Algumas horas de cárcere privado só adiariam a tentativa de instituir o presidencialismo autoritário que o deixaria livre para agir.

Na carta da renúncia, o signatário informou que deixara com o ministro da Justiça as razões do seu gesto. O segundo texto confiado a Oscar Pedroso Horta é um amontoado de queixas difusas, alusões a “forças terríveis”, declarações de amor ao Brasil e juras de apreço ao Povo (com maiúscula). Ele só contou a verdade alguns meses antes de morrer, em 16 de fevereiro de 1992, numa conversa com Jânio John Quadros Mulcahy, o único filho homem de Tutu Quadros.

Em 25 de agosto de 1991, 30 anos depois da renúncia, o paciente internado no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, foi acometido de um surto de sinceridade provocado pela curiosidade do neto. 
“O vice João Goulart era uma espécie de Lula, completamente inaceitável para a elite”, comparou. “Eu o mandei para a China para que estivesse longe de Brasília no dia da renúncia, sem condições de reivindicar o cargo e fazer articulações políticas. Achei que iriam implorar-me para que ficasse.”
O intuitivo genial só se esqueceu de combinar com os adversários, com os militares e com o povo. “Fiquei com a faixa presidencial até o dia 26”, contou ao neto. “Deu tudo errado. E o país pagou um preço muito alto.” Jango acabou engolido pelos quartéis, mas seria expelido três anos mais tarde. A tentativa de implantação de uma ditadura civil resultou no advento de uma ditadura militar ortodoxa.

Como o país, Jânio pagou caro pela renúncia ao mandato conferido por mais de 5,6 milhões de eleitores. Transformado numa caricatura de si próprio, tentou a ressurreição impossível antes e depois da cassação, em 1964. Fracassou em 1962 e em 1982, na tentativa de voltar ao governo paulista, e elegeu-se prefeito da capital em 1985. Aos 75 anos, morreu pensando na presidência. Aparentemente, a frustração pela morte política não foi compensada pela fortuna depositada num banco suíço.

Cinquenta anos depois da renúncia, o Brasil parece bem menos primitivo, a democracia tem solidez e Jânio figura na galeria presidencial como outro ponto fora da curva. Mas tampouco parece suficientemente moderno para considerar-se livre de reprises da farsa. Países exauridos pela corrupção endêmica serão sempre vulneráveis a aventureiros que, com um discurso sedutoramente agressivo, prometam varrer a bandalheira. "

Fonte: VEJA

sábado, 13 de julho de 2013

Cartão Postal de PVH

O Maior Cartão postal de PORTO VELHO

            A MAIOR riqueza de Rondônia.


estrada-de-ferro 
                                                        Foto: Ilustrativa/fonte- google

Há algum tempo  poderíamos apostar nas Três Caixas d’agua, ou mesmo na Estrada de Ferro Madeira Mamoré – tão famosa por seu belo pôr do sol.
O fato é que a cidade de Porto Velho cresceu as margens de uma ferrovia abandonada, feita as custas de vidas, as custas de lagrimas. Já ouvi dizer que para cada prego, um osso.
Muitos dos desbravadores que aqui chegaram, vieram na esperança de encontrar o “El Dourado” uma cidade toda feita de ouro e minérios nobre que segundo a lenda está escondida em algum ponto dessa região do norte. E naquela época, chegar aqui (na região norte) era o primeiro passo para abraçar todas as riquezas e ser dono de todo ouro.
Muitos perderam suas vidas nessa busca, muitos apenas se perderam.
E cada homem e mulher que chegou aqui, trouxe consigo uma vasta cultura, rica em peculiaridades e costumes – mesmo que não soubesse. E esses costumes e essas peculiaridades se misturaram com tantas e mais tantas outras que nasceu a cultura Porto-velhense, mas qual seria essa cultura. Bom é ai que está, não pode ser definida.
De tão rica, tão nobre a cultura porto-velhense não pode ser definida em parâmetros, e justamente por isso a cada dia, perdemos mais e mais, e ao mesmo tempo agregamos mais e mais.
Um bom exemplo disso é ir em um domingo a tarde na Estrada de Ferro Madeira Mamoré e ver jovens sentados na grama (entenda muitos jovens, muitos mesmo, de várias tribos urbanas, de vários nichos, meios, classes – todos sentados juntos, como iguais, fazendo uma única coisa...) escutando música, em um evento promovido por eles, para eles. Um estilo americano, mas que também é porto-velhense.
Não se pode limitar o poder da cultura Rondoniense, nem muito menos como as pessoas expressam isso.
Os desbravadores não sabiam naquela época o que é bem obvio hoje; o “Eldorado” não estava fora, estava dentro, dentro das pessoas, dentro deles mesmo, eles eram a riqueza que iriam compor a cidade.
Conversando com um hippie por nome Javier, ele me disse: - “Porto Velho está em um ponto estratégico, onde todos nós (hippies, nômades, ciganos...) passamos, e da mesma forma que deixamos um pouco de nós, levamos um pouco da cidade, absorvemos muito e as pessoas absorvem muito também”
Então, chego a minha própria conclusão – e o incentivo a chegar a sua -, o cartão postal da cidade de Porto Velho, somos nós, as pessoas que compõem essa cidade. E essas mesmas pessoas, de todas as cidades, são as maiores riquezas de Rondônia.
Já não existem mais obras que podemos usar como símbolos, nem muito menos ruas ou prédios...
Mas temos nós; você, eu, somos o símbolo...
Fonte: Francisco Silva.