quinta-feira, 26 de maio de 2011

Romanceiro da Inconfidência - Cecília Meireles

No livro  Cecília Meireles nos leva direto para a Inconfidência Mineira, trazendo em forma de poesia todos os acontecimentos da época, como se estivesse vivendo cada estante a qual escreveu. Surpreendente em detalhes e em argumentos que provam a veracidade dos acontecimentos, ela se destaca mais uma vez no seu estilo, trazendo não só a história para todos, mas sim introduzindo Cecília Meireles em nossas vidas.

Para entender este livro se faz necessário um conhecimento prévio à respeito da história da  Inconfidência Mineira   e autores do arcadismo como Tomás Antonio Gonzaga,Cláudio Manuel da Costa

Tematicamente, pode-se localizar a ambientação da narrativa nos primeiros 19 romances. A descoberta do ouro, o início de uma nova configuração social com a chegada dos mineradores e toda a estrutura formada para atendê-los, os costumes, os “causos”, como o da donzela morta por uma punhalada desferida pelo próprio pai (Romance IV), ou os cantos dos negros nas catas (VII), o folclore, a história do contratador João Fernandes e de sua amante Chica da Silva e o alerta sobre a traição do Conde de Valadares (XIII a XIX). A ênfase recai na cobiça do ouro, que torna as pessoas inescrupulosas.

Vila Rica é o “país das Arcádias”, numa alusão direta ao neoclassicismo brasileiro, com seus principais poetas e suas pastoras: Glauceste Satúrnio e Nise, Dirceu e Marília (Tomás Antônio Gonzaga). No belo Romance XXI, as primeiras idéias de liberdade começam a circular.

A partir do Romance XXIV, a insatisfação, a revolta contra a corte portuguesa é explicitada com a confecção de uma bandeira (Libertas quae sera tamen). Do XXVII ao XLVII, há a atuação do alferes Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, que procurava atrair mais gente para a conspiração, em longas cavalgadas pela estrada que levava ao Rio. Contudo, os planos são abortados antes de ser efetivamente colocados em prática por causa dos delatores, principalmente Joaquim Silvério dos Reis (XXVIII).

Segue-se uma devassa completa, prisões, confisco de bens, falsos testemunhos, a morte de Cláudio Manuel da Costa, o Glauceste Satúrnio, sob condições misteriosas (XLIX), a execução de Tiradentes, antecipada na fala do carcereiro (LII) e explicitada nos romances LVI a LXIII.


Após um período como magistrado, Tomás Antônio Gonzaga, o Dirceu, é também preso, julgado e condenado ao exílio em Moçambique (LIV e LV). Lá, longe de sua ex-noiva e agora inconsolada Maria Dorotéia Joaquina de Seixas, a Marília (LXXIII), casa-se com Juliana de Mascarenhas (LXXI).

Os romances finais falam do poeta Alvarenga Peixoto, sua esposa, Bárbara Eliodora, e sua filha, Maria Ifigênia (LXXV a LXXX); o retrato de Marília idosa; lamentos pela calamidade mineira; e a loucura e morte de D. Maria I (LXXXII e LXXXIII). A obra é concluída com a “Fala aos
Inconfidentes Mortos”:

E aqui ficamos
todos contritos,
a ouvir na névoa
o desconforme,
submerso curso
dessa torrente
do purgatório...
Quais os que tombam,
em crimes exaustos,
quais os que sobem,
purificados?

Um dos romances mais significativos, o XXIV, relaciona o ato da confecção da bandeira dos inconfidentes com todo o movimento que eles preparavam em Ouro Preto.

  • Primeira parte: a “Fala Inicial”, o primeiro “Cenário” e os romances I — XX.
  • Segunda parte: Romances XXI — XLVII.
  • Terceira parte: Romances XLVIII — LXIV.
  • Quarta parte: Romances LXV — LXXX.
  • Quinta parte: Romances LXXXI — LXXXV, mais a Fala aos Inconfidentes Mortos.

Portanto ,há  três estruturas que se alternam no poema:

  • Romances - a obra apresenta-se estruturada em 85 romances, além de outros poemas, como os que retratam os cenários. Total de 95 textos. Em sua composição, é utilizada principalmente a medida velha, ou seja, a redondilha menor, verso de cinco sílabas poéticas (pentassílabo) e, predominantemente, a redondilha maior, verso de sete sílabas (heptassílabo), além de versos mais curtos, tercetos, quadras, sextilhas, refrões e versos decassílabos. Os romances não são dispostos na seqüência cronológica dos acontecimentos; ora aparecem isolados, ora constituem-se em verdadeiros ciclos (o de Chica da Silva, o do Alferes, o de Gonzaga, o da Morte de Tiradentes, o de Gonzaga no exílio, o de Bárbara Heliodora, o da Rainha D. Maria);
  • Cenários- situam os ambientes, marcando as mudanças de atmosfera e localizando os acontecimentos: Imaginária serenata e Retrato de Marília.
  • Falas - representam uma intervenção do poeta-narrador, tecendo comentários e levando o leitor à reflexão dos fatos referidos: Fala inicial, uma Fala à antiga Vila Rica, uma Fala aos pusilânimes, uma Fala à comarca do Rio das Mortes e pela Fala aos inconfidentes mortos.

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