Fonte: A série 50 anos da renúncia de Jânio Quadros foi publicada num especial da Revista Veja e a publico aqui de forma direta para leitura de vestibulandos tendo em vista a importância do fato nesse ano de 2013.
"A renúncia do ex-presidente Jânio Quadros completa 50 anos em 25 agosto.
Para explicar os acontecimentos daquele tempo, as dificuldades de um
país que mal entrara na democracia e já namorava o caos e o
autoritarismo que culminariam no golpe militar de 1964, a equipe de VEJA
preparou uma reportagem especial em três plataformas: na internet, em
tablets e também na edição impressa. A unir esses três universos, estão
os textos do jornalista Augusto Nunes, colunista do site de VEJA e um
profundo conhecedor das desventuras do imprevisível Jânio. Foram três
meses de pesquisa em acervos de fotos, vídeos e áudios, revistas,
biografias de Jânio, documentos históricos e entrevistas com
especialistas - um passeio multimídia pela história do político da
“vassourinha” e pelos sete meses que marcaram sua breve presidência." VEJA
*Primórdios
O populismo como religião
Em campanhas sucessivas, o professor de geografia que não fizera sucesso como advogado atraiu eleitores para um caminho que dispensou projetos políticos e programas ideológicos. Nascia o janismo
Julho de 1948
- Como vereador, fiscaliza o desperdício de verduras em feiras livres
da cidade de São Paulo. Jânio, que tinha sido eleito como suplente,
tomou posse depois que os mandatos dos políticos do Partido Comunista
Brasileiro foram cassados - Acervo Iconographia
Dezembro de 1951 - Deputado estadual mais votado por São Paulo, com quase 18 mil votos, Jânio concede entrevista à imprensa - Acervo Iconographia
Abril de 1953
- Prefeito por São Paulo, Jânio dá entrevista durante visita ao Rio de
Janeiro. Ele ganhou a eleição para a prefeitura com 285 mil votos, o
dobro do número de todos os outros candidatos - Acervo Iconographia.
20 de outubro de 1954
- Recém-eleito governador por São Paulo, é fotografado em momento
descontraído enquanto se recupera da campanha, na qual teve 660 mil
votos - UH/Folhapress
6 de janeiro de 1955
- Nos estúdios da BBC inglesa, Jânio posa para foto antes de conceder
entrevista ao Serviço Brasileiro da emissora em Londres, cidade que
admirava como poucas - Divulgação
31 de janeiro de 1955
- Jânio recebe os cumprimentos de eleitores e convidados durante a
comemoração da posse como governador de São Paulo - Acervo Iconographia
Julho de 1956
- Governador de São Paulo, fala à imprensa depois de retornar de viagem
ao exterior, feita durante uma licença-saúde de sessenta dias - Acervo
Iconographia
18 de julho de 1958
- Manifestação dos moradores da periferia de São Paulo em agradecimento
ao governador por obras realizadas na cidade - UH/Folhapress
Ele foi uma coleção de singularidades e paradoxos. Jânio Quadros
segundo a certidão de batismo, o filho do médico Gabriel Nogueira
Quadros e da dona de casa Leonor Silva Quadros resolveu, ainda menino,
acrescentar um “da Silva” e juntar o mais comum dos sobrenomes ao
prenome inspirado em Janus, o deus bifronte. Virou Jânio da Silva
Quadros. Nascido em Campo Grande, inventou, quando estudante em
Curitiba, um estranhíssimo sotaque sem parentesco com Mato Grosso, com o
Paraná ou com qualquer região. O acento personalíssimo só pode ser
encontrado na voz dos imitadores.
A política no rádio
Numa época em que a televisão ainda engatinhava, os jingles radiofônicos eram uma forte arma de convencimento. Jânio teve vários, além do célebre e excelente Varre, Varre, Vassourinha.
Numa época em que a televisão ainda engatinhava, os jingles radiofônicos eram uma forte arma de convencimento. Jânio teve vários, além do célebre e excelente Varre, Varre, Vassourinha.
A vocação política e o estilo sublinhado pelo absurdo emergiram na
Faculdade de Direito do Largo São Francisco. O candidato a
primeiro-secretário do Centro Acadêmico XI de Agosto já exibia trajes
desleixados e cabelos em desalinho, parecia pouco asseado, bebia com
muita competência, apreciava frases empoladas e surpreendia concorrentes
ortodoxos com métodos extravagantes. Passou boa parte da campanha
sentado num barril, com chapéu de palha na cabeça circundado por uma
faixa com três palavras: “Vote em Jânio”.
Vitorioso, o caçador de votos permaneceu adormecido até 1947, quando os
alunos do Colégio Dante Alighieri decidiram conseguir uma vaga na
Câmara Municipal para o professor de geografia que não fizera sucesso
como advogado criminalista nem ingressara na carreira diplomática “por
não corresponder aos padrões estéticos”. A direção dos ventos mudou em
1948, quando o suplente de vereador assumiu uma cadeira na Câmara
Municipal.
O discurso que prometia varrer a bandalheira, punir os desonestos e
enquadrar os ineptos encontrou um adversário perfeito: Adhemar de
Barros, que consolidara a hegemonia regional e, simultaneamente, a
imagem de corrupto. Como toda religião populista, o janismo dispensou
projetos políticos ou programas ideológicos. Bastavam frases de efeito
valorizadas pela voz do único deus. “É a luta do tostão contra o milhão”
ou “É preciso acabar com tudo isso que aí está”.
Em campanhas sucessivas, o domador das multidões com vassouras
desfraldadas elegeu-se deputado estadual, prefeito de São Paulo,
governador, deputado federal e presidente da República. Em apenas 13
anos, Jânio foi tudo.
ADHEMAR DE BARROS (1901-1969)
Ao longo dos anos 50, a vassoura de Jânio e o trevo de Adhemar de Barros protagonizaram o Fla-Flu da política paulista. Hegemônicos desde 1938, quando o filho de fazendeiros de Piracicaba foi nomeado interventor por Getúlio Vargas, os ademaristas não conseguiram resistir ao inimigo que prometia varrer a corrupção. “Rouba, mas faz”, retrucavam os partidários de Adhemar, que voltariam ao poder depois da renúncia. “Sinto saudade dele”, contou Jânio em 1980. “Era a minha referência.”
Fonte: VEJA
Ao longo dos anos 50, a vassoura de Jânio e o trevo de Adhemar de Barros protagonizaram o Fla-Flu da política paulista. Hegemônicos desde 1938, quando o filho de fazendeiros de Piracicaba foi nomeado interventor por Getúlio Vargas, os ademaristas não conseguiram resistir ao inimigo que prometia varrer a corrupção. “Rouba, mas faz”, retrucavam os partidários de Adhemar, que voltariam ao poder depois da renúncia. “Sinto saudade dele”, contou Jânio em 1980. “Era a minha referência.”
Fonte: VEJA