quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Segurança Alimentar - Parte II

 Fatores naturais que atrapalham a produção agrícola

Fatores naturais que atrapalham a produção agrícola
Secas, enchentes, pragas e doenças nos rebanhos provocaram graves quebras de safra na China, na Europa e Austrália, reduzindo a oferta de comida. A Austrália, segundo maior exportador de trigo, teve forte seca. Projeções oficiais dão conta de uma redução de 10% nas chuvas até 2030, o que deve se traduzir na queda de 10% da produção de trigo, carne bovina, lácteos e açúcar, além de uma queda de 63% das exportações desse conjunto de commodities. Nos últimos três anos, o Brasil teve secas tão profundas no sul que perdeu 40 milhões de toneladas de grãos. Os estoques de milho, trigo e arroz, os cereais básicos para a alimentação do mundo, estariam em 70% das marcas de 1999.
Escassez de alimentos já provoca mais conflitos
De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), uma família dedica aproximadamente 15% de sua renda à comida nos países ricos, mas essa proporção pode chegar a 60%, 70% e até 75% do orçamento familiar nos países em desenvolvimento. Um bom exemplo desse delicado quadro são as conseqüências do aumento do trigo, cujo preço saltou 130% em apenas um ano. Para uma família pobre do Iêmen, isso significa comprometer um quarto de sua renda apenas com a compra de pão. A falta de comida afeta essas populações de tal forma que cresce até mesmo o risco de conflitos civis.

Má-alimentação: barreira à saúde e à educação
A subnutrição materna e infantil é a causa de mais de um terço das mortes de crianças menores de 5 anos ao redor do planeta. Ao todo, a desnutrição é responsável por cerca de 3,5 milhões de mortes infantis ao ano, e também por 11% das doenças desenvolvidas por mães e crianças. Gestantes subnutridas correm o risco de que seus filhos apresentem problemas de desenvolvimento ainda no útero. Já a desnutrição, quando ocorre em crianças, se não for tratada até os 2 anos de idade, causa danos irreversíveis, como retardo no crescimento, além de déficit de vitaminas e minerais essenciais para o desenvolvimento humano. O Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) já alertou para a possibilidade de o aumento dos preços dos alimentos agravar ainda mais essa situação, já que as famílias terão de reduzir seus gastos com comida. Para o Unicef, a atual crise também provoca "um risco grande de que as famílias de países pobres tirem as crianças da escola, porque estas precisarão trabalhar". No Camboja, o programa de alimentação escolar da ONU atendia 450.000 crianças, para muitas das quais a refeição na escola era a única equilibrada do dia. Esse programa teve de ser interrompido porque o Programa Mundial de Alimentos da ONU não tinha verba suficiente para mantê-lo após o aumento dos preços.
América Latina - A ONU alertou os governos dos países latino-americanos para que adotem medidas a fim de evitar que a alta global no preço dos alimentos agrave o problema de desnutrição na região. De acordo com a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), há um risco de que cada vez mais pessoas deixem de ter condições de adquirir alimentos básicos, aumentando a subnutrição nessa área do planeta. Os países americanos de baixa renda e importadores de alimentos - a maior parte deles na América Central - são os mais vulneráveis.

Os conflitos violentos provocados pela fome
A alta no preço dos alimentos causou uma onda de protestos desde a África até a América Central. Houve revoltas populares contra a fome no Zimbábue (que mergulhou em profunda crise política), Mauritânia, Camarões, Costa do Marfim, Burkina-Faso, Senegal, Coréia do Norte e Haiti. Nesse último, a violência dos protestos deixou uma marca lamentável: cinco mortos e 60 feridos. Sobre os conflitos no continente africano, o comissário europeu para o Desenvolvimento, Louis Michel, disse: "Delineia-se uma crise alimentar mundial, menos visível que a crise do petróleo, mas com o efeito potencial de um verdadeiro maremoto econômico e humanitário na África". A situação já provocou uma mobilização dos países ricos em prol das nações mais pobres. O primeiro-ministro da Grã-Bretanha, Gordon Brown, escreveu uma carta pedindo que a questão seja discutida durante a próxima cúpula do G8. "O aumento do preço dos alimentos ameaça anular os avanços em matéria de desenvolvimento obtidos nos últimos anos. Pela primeira vez em décadas, o número de pessoas que sofrem com a fome aumenta", alertou o premiê.
O presidente do Banco Mundial, Robert Zoellick, propôs um "novo contrato" alimentar em nível mundial para enfrentar o aumento dos preços dos produtos agrícolas. O objetivo da idéia é enfrentar tanto as emergências alimentares como estimular o necessário desenvolvimento a longo prazo da agricultura. Um dos alertas mais preocupantes foi dado pelo diretor-gerente do FMI, Dominique Strauss-Kahn, para quem a crise alimentar pode levar a guerras. Ele garante que "não se trata de assustar, mas de enxergar a realidade". Strauss-Kahn explicou que, quando há situações "tão dramáticas", a população critica seus governos mesmo que eles tenham feito tudo o que era possível - os líderes democraticamente eleitos podem cair em função de golpes de estado. "A história está cheia de guerras que começaram por causa de problemas deste tipo", concluiu.

Haiti - Com 8,5 milhões de habitantes, o Haiti é o país mais pobre do continente americano, e 80% de sua população vive com menos de 2 dólares por dia. Esse foi um dos países que sentiu de forma mais intensa os efeitos da crise dos alimentos. Isso porque os haitianos importam a maior parte da comida que consomem, como resultado de políticas de livre mercado que sufocaram a produção nacional. Em 1994, o Fundo Monetário Internacional (FMI) criou um plano que reduziu as tarifas alfandegárias do arroz importado de 35% para 3% no país. Em um ano, as importações do produto dobraram. Enquanto Washington subsidiava seus próprios produtores, o do Haiti era proibido de fazer o mesmo pelo acordo com o FMI. Durante os últimos 20 anos, a produção de arroz haitiana se reduziu pela metade, enquanto as importações dominaram o mercado. A importação acabou se tornando uma ameaça à subsistência dos agricultores haitianos e torna os efeitos do súbito aumento de preços dos alimentos ainda mais graves.

Coréia do Norte - A situação dos norte-coreanos também é bastante grave. As devastadoras inundações que o país sofreu em 2007, somadas ao aumento mundial do preço dos alimentos, levaram a Coréia do Norte à beira de uma crise perigosíssima. Relatórios do Programa Mundial de Alimentação estimam que 6,5 milhões de norte-coreanos (de uma população de 23 milhões) não comem o suficiente.

Fonte: Veja.com

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