quarta-feira, 2 de novembro de 2011

NÃO FUI AO VELÓRIO E FESTEJEI SUA MORTE


Por: Sá de Freitas

      Muitos poderão me condenar por  confessar ter festejado a morte de alguém, após mandar matá-lo. Contudo, creio que após contar minha desdita não me censurarão. Era ele um cara insuportável, teimoso insistente e mau, que vivia a me perturbar,  tomando posse da minha vontade e da minha maneira de agir, por mais que eu reagisse. Sempre procurou estar perto de mim, desde  a minha adolescência. Toda vez que o sentia se me  aproximando, meu coração disparava, a adrenalina se agitava, a minha alma doía, espécie de tempestade desabava, conturbando-me o íntimo, além de me aconselhar à prática de atos não condizentes  com o bem. Muitas vezes, dominado pela sua vontade, cometi erros que, por pouco não mudaram a minha vida para pior.
     Difícil é descrevê-lo, por ter sido algo monstruoso, medonho, infecto, nauseante, poderoso e quase invencível em sua maldade. Era um câncer, cujas metástases se espalhavam e se fortaleciam cada vez mais. Não dominava somente a mim, pois tentava apoderar-se de todos sem cerimônia. Os mais fortes ignoravam-no, outros se deixavam dominar e outros ainda, travavam com ele terríveis batalhas a fim de o eliminar, mas nada conseguiam. Era tão maléfico e tão convincente, que muitas pessoas morriam nas mãos de seus seguidores. Eu, graças a Deus, nunca cheguei a tanto, a não ser quando mandei alguém acabar com ele.
     Já estava  cansado e resolvi  lutar pela minha liberdade, disposto  a tudo. Precisava matá-lo a qualquer custo. Entretanto, sentia-me impotente diante da sua força e  agilidade . Resolvi procurar alguém que muitos diziam ser assassino eficaz de todos que praticavam  o mal e pedi-lhe ajuda, contratando-o para eliminá-lo. De pronto veio em meu socorro, mas impôs-me a condição de ser ele o dominador da minha vida, o que aceitei sem relutância, por ter alguém me garantido que se tratava de um personagem que somente dava, a quem o aceitasse, bons conselhos. Sábio, seguro e mais poderoso do que o  miserável que me perseguia, começou a grande peleja. Aos poucos foi ganhando terreno, enquanto a tudo eu assistia, procurando fazer a minha parte com os parcos recursos que possuía. Por fim, o velho dominador caiu vencido, estrebuchou-se agonizante e, deu seu último suspiro. Ninguém mais estava ali para destemunhar o assassinato sem ser eu e o contratado.  Depois disso pude, então, encontrar um novo rumo sem  pedir perdão a Deus e sem sentir remorso algum pelo que mandei fazer.
      Não fui ao velório e festejei sua morte sim e, embora sabendo que as suas raízes ainda se estendiam de maneira assustadora por todos os cantos e recantos, resolvi comemorar o aniversário da sua partida, escrevendo-lhe inclusive um epitáfio com os seguintes dizeres:

                                        
                                            Samuel Freitas de Oliveira
                                                   Avaré-SP-Brasil

Que pena que minha mãe e tantas outras não conseguiram vencer essa doença...

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