Os poetas e escritores costumam cantar em prosa e verso as belezas e importância dos rios. Um dos maiores escritores acreanos, Leandro Tocantins, no seu O Rio Comanda a Vida, foi um deles, enquanto um dos maiores poetas do mundo, Fernando Pessoa, dizia que o rio mais bonito era o rio da sua aldeia." Não mais bonito, todavia, que o meu Rio Acre."
Do ensaísta Leandro Tocantins é lícito esperar-se que venha escrever sobre a Amazônia obra que alcance a eminência da obra-prima. Essas palavras do proeminente sociólogo Gilberto Freyre vêm confirmar o que é o livro O Rio Comanda a Vida, uma obra-prima das letras amazônicas.
O Rio Comanda a Vida veio a público em 1952 pelas mãos de Cassiano Ricardo, então diretor da extintaEditora A Noite, com o subtítulo “Panoramas da Amazônia”. Em edições posteriores a obra ganharia novos capítulos-ensaios e permutaria o subtítulo para “Uma Interpretação da Amazônia”.
É seu autor aquele que é considerado um dos mais importantes intérpretes da Amazônia, Leandro Tocantins, com toda uma vida de estudos e dedicação à cultura amazônica. Tendo nascido em Belém (PA), aos nove meses de idade viajou para o Acre onde seus pais, Van Dyck Amanajás Tocantins e Iraídes Góes, se estabeleceram, mais precisamente no rio Tarauacá, seringal Foz do Muru, de onde administravam seringais, herança da liquidação da Casa Aviadora Barbosa & Tocantins, da praça de Belém, afetada pela crise econômica da borracha. Tocantins publicou inúmeros livros, desde ensaios a poesias, e tornou-se uma referência importante para todos aqueles que se debruçam em estudar, acuradamente, a Amazônia e seus complexos.
Os 28 capítulos-ensaios (edição de 1972) que compõem O Rio Comanda a Vida podem ser lidos aleatoriariamente, sem prejuízos de compreensão para o leitor, uma vez que cada ensaio possui temáticas diferentes e independentes, embora, seja necessário ressaltar que o livro forma um todo coerente, sob o prisma de dois ângulos: o do seu substrato sociológico e histórico em quadro livro, e o da sua projeção para o futuro. O primeiro capítulo denomina-se “A água doce que entra no mar” e trata basicamente dos descobridores do caudaloso e imponente Rio Amazonas. E finaliza o livro o texto “O rio comanda a vida” que aborda a dinâmica dos rios na vida dos povos amazônicos. Em edições posteriores à primeira, o autor achou por bem incluir alguns apensos, isto é, conferências por ele pronunciadas.
O livro pretendeu ser, na época em que foi escrito, uma evocação e um testemunho de alguém que conheceu tradições, lendas, viu panoramas, observou fatos sociais. E como ressalta o próprio autor, no primeiro momento, a obra nasceu a partir de “impressões pessoais, pesquisas históricas e geopolíticas, trajetórias humanas, idéias e fatos, a que procurei dar forma e vibração, sem me afastar do real, da verdade, no intuito de fazer conhecida honestamente a Amazônia e chamar a atenção dos poderes governamentais para os problemas do vale e as necessidades de seu povo”. Nesse sentido, o livro nasceu de um sentimento brasileiro de integração da Amazônia no processo social e econômico do país.
Nas palavras do escritor, a unidade do livro se justifica na ideia de que a natureza absorve e prende o homem em suas malhas, apesar do lento e continuado esforço para humanizá-la. Daí o rio – uma das mais poderosas forças do meio – dominar a vida, que ainda é, nesta época de revolução técnica, marcada profundamente pelos fatores geográficos.
O que O Rio Comanda a Vida se pretende é interpretar algumas partes integrantes da área cultural luso-cristã, área que se distingue no extremo norte pela marca da exploração humana ditada pelo extrativismo e profundamente influída, no seu processo sócio-econômico, pela água e pela floresta. Interpreta alguns aspectos regionais, apresentando um conjunto de sugestões para a caracterização da vida amazônica.
Muitos dos anseios projetados por Tocantins em seu livro, hoje, são uma realidade. Sua obra abriu novas perspectivas para Amazônia ao chamar a atenção para a importância da integração amazônica conciliando desenvolvimento e preservação, numa conquista ampliada pelo desenvolvimento social e econômico da região, alertando as autoridades para a cobiça internacional pelo qual vinha sofrendo a Amazônia e colocando-a não só na pauta nacional, mas em discussão a nível internacional.
O Rio Comanda a Vida une a virtude literária de expressão clara e atraente ao honesto saber histórico, à acuidade na interpretação sociológica. O autor de Casa Grande e Senzala não diria essas palavras ao acaso. Portanto, ressoa mais como convite do que como testemunho, pois penetrar em estudos profundos e sérios acerca da Amazônia é semelhante a penetrar em sua própria selva.
Prezada Professora,
ResponderExcluirantes de tudo parabéns pelo blog e trabalho.
Fico feliz que meu texto tenha alguma utilidade. Bom proveito. Leandro Tocantins é realmente um autor fascinante. Uma observação: ele nasceu no Pará, com quase um ano de idade chegou ao Acre, depois, já na adolescência, retornou ao Pará novamente. Bem ele costumava dizer que era um acreano-paraense.
Um fraterno abraço!
Obrigada, professora! :D
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