sábado, 1 de março de 2014

Saramago (1922- 2010)



Imagem: google.com
 Há quase quatro anos morria José Saramago, um dos maiores escritores de todos os tempos. Ele ficou conhecido pelo estilo próprio de texto, além de ser o primeiro escritor da língua portuguesa a ser agraciado com o Prêmio Nobel.Também ganhou, em 1995, o Prêmio Camões, o mais importante prêmio literário da Língua Portuguesa. Nasceu na aldeia de Azinhaga, concelho de Golegã, no dia 16 de Novembro de 1922, embora o registo oficial mencione o dia 18. e Faleceu hoje dia 18 de junho de 2010

"Uma das características mais marcantes da criação romanesca do escritor português José Saramago é a reconstituição da oralidade em sua escrita. Como ponto de partida, podemos tomar um raciocínio do próprio Saramago, para quem as características de sua técnica narrativa 

"...provêm de um princípio básico segundo o qual todo o dito se destina a ser ouvido. Quero com isso significar que é como narrador oral que me vejo quando escrevo e que as palavras são por mim escritas tanto para serem lidas como para serem ouvidas. Ora, o narrador oral não usa pontuação, fala como se estivesse a compor música e usa os mesmos elementos que o músico: sons e pausas, altos e baixos, uns, breves ou longas, outras" (SARAMAGO, Cadernos de Lanzarote, 1997: 223).

A narrativa do escritor português reafirma a importância da voz dos excluídos e marginalizados para o entendimento humano. Porém, muito mais do que um mero recurso estilístico, trata-se de um projeto bem sucedido de recuperação da cultura popular na literatura.

A obra de Saramago é constituída por quatro elementos fundamentais:
1.a dúvida do homem moderno, diante do desafio de assumir uma posição crítica sobre o passado e, ao mesmo tempo, aprender com ele;
2.a introdução dos elementos fantásticos na narrativa, sem se distanciar do mundo real;
3.a tentativa de criar uma nova linguagem ao alterar a expressão gráfica e a pontuação, respeitando a sintaxe da narrativa comum;
4.por último, a viagem não só no mundo real, mas também no interior do Homem por meio da imaginação.

Com esses elementos - o tempo, o sobrenatural, a torrencialidade da narrativa e a viagem - os livros procuram a utopia por meio de alusões alegóricas, críticas e éticas.
Saramago busca a harmonia entre a realidade e a imaginação por meio de trabalhos que unem os planos expressivos da fala, do pensamento e da escrita. Para compreender suas obras, é importante atentar para essa relação de quase simbiose entre o narrador e a matéria narrada, o discurso interior e as tensões internas do discurso narrativo. O que se percebe facilmente em seus romances é o espírito renovador e experimental, e a criação de um estilo muito pessoal, solto e torrencial.

A escrita do autor português é marcada pelo uso de apenas vírgula e ponto final, não distinguindo discursos diretos e indiretos. O texto exige uma atenção especial dos leitores, dando-lhes a impressão de estarem envolvidos diretamente com o mundo real e, ao mesmo tempo, fictício.

Para além do elaborado trabalho de linguagem, Saramago aborda profundamente os problemas de Portugal e da identidade do povo lusitano. Além de apresentar o rumo que o país deve seguir e sua visão do mundo, o escritor procura a identidade do homem perdida na sociedade moderna.
Enfim, a grandeza das obras de escritor português reside no esforço de evocar a História e a identidade da 'pátria perdida', juntamente com a procura de uma nova linguagem literária."


Saramago ficou conhecido por utilizar frases e períodos compridos, usando a pontuação de uma maneira não convencional. Os diálogos das personagens são inseridos nos próprios parágrafos que os antecedem, de forma que não existem travessões nos seus livros: este tipo de marcação das falas propicia uma forte sensação de fluxo de consciência, a ponto do leitor chegar a confundir-se se um certo diálogo foi real ou apenas um pensamento. Muitas das suas frases ( orações) ocupam mais de uma página, usando vírgulas onde a maioria dos escritores usaria pontos finais. Da mesma forma, muitos dos seus parágrafos ocupariam capítulos inteiros de outros autores. Apesar disso o seu estilo não torna a leitura mais difícil, os seus leitores habituam-se facilmente ao seu ritmo próprio.

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