A forma que
as letras assumem quando lançadas ao papel fisgou o poeta desde cedo,
quando a infância rompia em uma cidade do interior de Minas Gerais. Este
mesmo escritor mais tarde falaria com presteza sobre a vida, ora
colocando uma pedra no meio do caminho, ora advertindo as limitações
físicas e filosóficas do homem logo na primeira linha de um verso:
“tenho apenas duas mãos”. Considerando ou não os problemas de uma vida
dedicada às artes, para tirar o peso das costas, ele colocou a culpa de
sua escolha no anjo torto que lhe disse “Vai Carlos, ser gauche nessa
vida!”. E assim cumpriu sua missão na Terra: ser um dos maiores poetas
da língua portuguesa.
Carlos Drummond de Andrade é unânime, suave e profundo, indispensável quando o assunto é poesia brasileira. Se ainda estivesse vivo, hoje completaria 110 anos. Restam homenagens àquele cuja alma apreendeu o sentimento do mundo, e munida da escrita, parece nunca ter sido pequena. Farmacêutico por formação, Carlos Drummond de Andrade nasceu em Itabira (MG), no dia 31 de outubro de 1902. De família de fazendeiros, o gado e os negócios nunca o interessaram. No filme biográfico “O Fazendeiro do Ar”, de Fernando Sabino e David Neves, o poeta deixa claro que seu desejo de expressar-se pelas letras era inerente à sua existência, coisa de quem tem nas veias o amor pela literatura. “Confesso que desde a infância tive uma espécie de fascinação inconsciente pelas palavras. Quando aprendi a ler devorava jornais e revistas”, diz Drummond em depoimento ao documentário.
Carlos Drummond de Andrade é unânime, suave e profundo, indispensável quando o assunto é poesia brasileira. Se ainda estivesse vivo, hoje completaria 110 anos. Restam homenagens àquele cuja alma apreendeu o sentimento do mundo, e munida da escrita, parece nunca ter sido pequena. Farmacêutico por formação, Carlos Drummond de Andrade nasceu em Itabira (MG), no dia 31 de outubro de 1902. De família de fazendeiros, o gado e os negócios nunca o interessaram. No filme biográfico “O Fazendeiro do Ar”, de Fernando Sabino e David Neves, o poeta deixa claro que seu desejo de expressar-se pelas letras era inerente à sua existência, coisa de quem tem nas veias o amor pela literatura. “Confesso que desde a infância tive uma espécie de fascinação inconsciente pelas palavras. Quando aprendi a ler devorava jornais e revistas”, diz Drummond em depoimento ao documentário.
Mesmo sendo considerado um ícone do modernismo literário, o autor é considerado atemporal e inclassificável por muitos estudiosos, como a professora paraense e especialista em literatura Amarílis Tupiassú. “A poesia de Drummond quebra a rigidez do gênero. Ele escreveu sobre todos os temas, brincou com a métrica porque gostava de experimentar a palavra. Não há como fazer cercos a este grande poeta”.
E a propriedade que Amarílis tem para falar de Drummond não foi fundamentada somente nos livros autorais do poeta ou em publicações teóricas. Na década de 1970, quando estudou mestrado e doutorado no Rio de Janeiro, a professora morava a alguns metros do escritor e o encontrava diariamente, em seus passeios entre Ipanema e Copacabana.
A escrita foi ofício e antiga paixão
“Drummond tinha o forte hábito de se corresponder com pessoas por cartas e a loja dos Correios que ele frequentava ficava em frente ao meu prédio. Por causa disso, forcei muitas coincidências planejadas (risos). Até que um dia nos conhecemos e descobri o homem encantador e doce que de fato ele era”, relembra, saudosa. Como trunfo dessa corriqueira amizade, Amarílis guarda uma versão da novela “O Gerente”, primeira obra de Drummond a apresentar um lado ficcional do escritor. “Um dia, mostrei a ele minha edição desta obra. Ele se espantou, perguntou porque comprei o livro, que na época tinha sido lançado em uma edição mais luxuosa, por isso mais cara, e pediu meu exemplar emprestado! Dias depois ele me devolveu com uma série de correções a lápis!”, conta Amarílis Tupiassu.
Quando faleceu, em 1987, aos 87 anos, Carlos Drummond de Andrade, por ser considerado um dos maiores poetas do país ainda em vida, já devia imaginar que sua obra atravessaria o tempo. Tanto que mesmo em época de efemeridades virtuais, sua concepção poética ainda serve de ponto de ponderação para muitos escritores. É o caso do paraense Ney Ferraz Paiva. “O espaço da literatura na atualidade dispensa as influências totalizantes de outrora: de uma Cecília Meireles a Drummond, por exemplo. Mas não podemos negar a força de sua palavras sobre nós”, diz o poeta que comumente utiliza ferramentas tecnológicas como escoamento de sua produção.
Mesmo apesar dos vários convites para ingressar na Academia Brasileira de Letras, Drummond nunca quis concorrer uma cadeira na entidade. O que não impediu diversas homenagens à sua importância para a literatura nacional, tanto as vindas pelo viés institucional, como as que emergiram de seus admiradores anônimos. Para seus leitores, tanto faz. A obra de Drummond se imortalizou por sua própria força e promete perdurar por mais tantas e tantas centenas de anos. Não dá para enxergar pedras nesse caminho.
MANANCIAL INESGOTÁVEL
A pedido do Caderno VOCÊ, escritores, pesquisadores e, sobretudo, admiradores de Drummond, indicam leituras indispensáveis dentro da vastidão da obra do poeta:
“Acho a ‘Rosa do Povo’ (1945) uma das melhores obras de Carlos Drummond de Andrade. É uma referência tanto pela proposta estética, como pela libertação de seus poemas que se tornam mais extensos, mas com maior conteúdo politico, social e permeado de metáforas. Talvez a obra mais complexa dele”.
Vasco Cavalcante, jornalista e membro fundador do grupo de poesia ‘Fundo de Gaveta’
“Entres as importantes obras de Drummond destaco ‘Sentimento do Mundo’, de 1940, um dos livros mais impressionantes de sua bibliografia. O livro enfileira poemas clássicos como ‘Sentimento do mundo’ e ‘Poema da necessidade’, que precisam ser lidos por qualquer um que se interesse pela obra deste grande autor”.(Nilson Oliveira, editor da Revista Literária Polichinello)
“Drummond tem muitas crônicas fáceis para qualquer leitor. Mas o caráter político de “Rosa do Povo” é incrível. É um livro que deve ser lido porque tem muita vinculação com o tempo de guerra e violência que vivemos hoje”.(Amarílis Tupiassú, professora especialista em literatura)
“Eu indico para leitura o livro ‘A biografia de um poema’, em que Drummond fala do seu famoso ‘No meio do caminho’. Ele passou a vida colecionando matéria e crÍticas sobre esse poema e reuniu tudo nesta obra, que é muito interessante por mostrar o modo como ele lidava com sua escrita”.
(Carlos Correia Santos, dramaturgo e jornalista)
“A obra ‘Claro Enigma’ (1951) para mim é um mistério. É um livro praticamente inabordável se retirado do contexto do modernismo brasileiro. E se tirado, podemos revelar uma poesia ainda muito latente e com muitos mediadores, sobretudo o Kafka”.
(Ney Ferraz Paiva, poeta)
FONTE: Diário do Pará