* por Marcos Teixeira
Estamos nos avizinhando do momento definitivo para o pleito que irá definir nossos mandatários municipais pelos próximos quatro anos. Entre muitos erros e nem tantos acertos, olhamos para nossa cidade e vemos um horizonte que transita entre a poeira e as queimadas do verão e os intermináveis aguaceiros, buracos e lamaçais dos invernos. Por décadas temos assistido à mesma rotina e ás mesmas explicações para a inércia e a falta de realismo das promessas e ações daqueles que nos governam.
O momento atual deixou marcas profundas, para o bem e para o mal. Nos dois últimos quadriênios a cidade passou por transformações notáveis. Tomemos por exemplo as curvas demográficas. Em 1990 a população de Porto Velho era de 228.652 habitantes. Já no Censo de 2000 éramos 334.661 habitantes vivendo no município de Porto Velho. Em 2009, segundo dados publicados pela Secretaria de Saúde do Município, o total de moradores de Porto Velho era estimando em 383.425 habitantes.
Este número foi elevado para 428.527 pessoas no Censo de 2010, sendo que deste total, cerca 380.000 cidadãos, segundo estimativa da COBRAPE, vivem hoje na área urbana da cidade de Porto Velho.
Esse impressionante crescimento demográfico sempre foi “puxado” por situações de oportunismo e tem “explodido” regularmente em momentos de forte atrativo econômico, como nos casos da construção da EFMM, do extrativismo da borracha, da cassiterita, do ouro e por ocasião da elevação do Território de Rondônia á condição de Estado.
O último grande processo é este que vivemos na atualidade. Impulsionados pelas promessas de trabalho, dignidade e inclusão socioeconômica milhares de cidadãos de todas as partes do país, além de grupos estrangeiros, como no presente momento os haitianos, têm migrado para Rondônia e mais exatamente para Porto Velho, palco de construção das hidrelétricas de Jirau e Santo Antônio.
Essas gigantescas obras do PAC por sua vez produzem efeitos diretos em outros segmentos da economia como a construção civil, o comércio, a prestação de serviços além dos indesejáveis aumentos de criminalidade, prostituição, tráfico de drogas e outros ilícitos. A cidade é um turbilhão e esse frenesi se reflete em todos os aspectos da vida urbana.
O trânsito de Porto Velho faz inveja ao da índia, tamanha é a sua desorganização. A saúde tem sido constantemente causa das piores manchetes nacionais e a educação sofre com a precariedade dos serviços oferecidos. Por outro lado a cidade iniciou a implantação de sua rede de esgotos, melhorou sensivelmente a regularização dos imóveis urbanos e foi capaz de oferecer milhares de empregos a seus cidadãos.
A atual situação com certeza gera tensão, conflitos e enorme angústia aos administradores. Se por um lado os políticos vêm nesse crescimento oportunidades ímpares para seu desempenho nas urnas, por outro lhes sobra o “abacaxi” de ter que administrar situações caóticas e potencialmente conflituosas e geradoras de tensões de todos os tipos.
Ora, acontece que esse período nirvânico de pleno emprego, dinheiro fácil e ampliação de consumo, serviços e oportunidades tende a se reverter com o término das grandes obras.
Nossa próxima administração municipal, com certeza, não encontrará ventos tão favoráveis como os que sopraram para a atual gestão municipal, que pode contar com um volume de recursos “nunca antes vistos na história desse” município.
Essa foi uma década de ouro, com empregos abundantes, crescimento em taxas elevadas, fim do longo período recessivo que se inaugurou com o fechamento dos garimpos, o término das obras da Hidrelétrica de Samuel e a demissão de milhares de servidores estaduais que residem na capital de nosso estado. Vivemos um momento de grande prosperidade, embora isso nem sempre tenha se traduzido em melhorias públicas ou em uma cidade melhor para se viver.
Fatores negativos não podem ser deixados de lado. A explosão dos preços imobiliários, o elevado custo de vida e a precariedade dos serviços sociais são apenas algumas das mazelas desses tempos dourados. A cidade que explodiu em seu adensamento populacional, não superou situações historicamente constrangedoras como o problema da pavimentação asfáltica, sempre muito precária, a sujeira crônica de suas ruas, os buracos que aumentaram seu número em proporções galáticas entre tantos outros problemas.
A situação exige dos cidadãos e dos nossos potenciais candidatos muita reflexão. Os problemas já existentes são de uma ordem tão vultuosa, que só eles já ocupariam severamente a agenda e as propostas de governo de nosso próximo gestor municipal. No entanto, nosso próximo prefeito ou prefeita ainda deverá conviver com uma questão muito mais intensa, o fim das obras da UHE Santo Antônio e logo a seguir a conclusão das obras em Jirau.
Esses fatos implicarão em grande desemprego e desaquecimento da economia municipal. Como ocorreu no passado com o término das obras de Samuel e como ocorre em todos os locais o desenvolvimento é aliado das circunstâncias e não de um planejamento consistente, certamente teremos que enfrentar um período de adversidades e retração da economia. Assim necessitaremos, mais do que nunca de gestores capazes e preparados para lidar com o fenômeno.
Não poderemos esperar que as coisas aconteçam, e o correto seria que o município se antecipasse e desenvolvesse, em conjunto com as empreiteiras das UHEs e com os próprios consórcios que as administram, planos para o período do “pós usinas”.
Historicamente esse período de desempregos e retração é marcado pelo aumento da violência e criminalidade e pela enorme dificuldade que os trabalhadores terão de se reinserir no mercado de trabalho.
Alternativas existem, é possível prevenir e desenvolver alternativas que permitam a reinserção dos trabalhadores que forem demitidos. Associativar e cooperativar são procedimentos sensatos para as áreas periféricas, que poderão ser preparadas para gerir negócios com apoio do setor público e orientações de parcerias diversas, minimizando a pobreza e assegurando a reinserção socioeconômica. Instituições como a Universidade, as Faculdades, Igrejas e outros grupos da sociedade civil podem e devem ser chamados a pensar em conjunto com a nova administração as saídas possíveis e capazes de minimizar os impactos negativos desses tempos futuros.
É preciso escolher um candidato ou candidata competente, seriamente compromissado com desenvolvimento e sustentabilidade, capaz de nos conduzir de forma digna pelo movediço período do “pós usinas”. Essa pessoa deverá ser competente o suficiente para dar uma feição minimamente urbana, limpa e condizente à nossa capital e com certeza, realizar uma administração capaz de reaquecer a economia e gerar segurança, bem estar e satisfação dos cidadãos em residir em Porto Velho.
Portanto, estamos no momento de começarmos a nos organizar, barrando tentativas espúrias de manipulação dos votos municipais através de discursos vãos que nunca se sustentam e que deixam como herança as mazelas urbanas em que nos encontramos. A hora de uma escolha séria, coerente e transformadora se aproxima. Que possamos eleger o melhor, um prefeito ou prefeita digno/a, compromissado/a com todos os segmentos sociais e, principalmente capaz de nos conduzir pela aridez dos difíceis tempos em que as grandes obras não mais estarão assegurando empregos e a circulação de serviços e capitais em nossa cidade.
Em tempo: gostaria de registrar um elogio às equipes da SEMA/ Porto Velho, IBAMA, Polícia Ambiental de Rondônia pela realização da campanha educativa e preventiva contra as queimadas urbanas. Este é um trabalho oportuno e adequado às nossas mais urgentes necessidades.
*Escrito por Marcos Teixeira
Marco Antônio Domingues Teixeira, ou simplesmente, Marco Teixeira é professor da Universidade Federal de Rondônia, Mestre em História e Doutor em Ciências do Desenvolvimento Socioambiental. Escreveu “História Regional” e “O Rio e os Tempos”.
fONTE: RONDONIAOVIVO.COM
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