Leia mais sobre o Enem
O fortalecimento do Enem tem mudado a rotina dos estudantes. Por todos os Estados, escolas particulares tratam de arrumar uma forma de preparar melhor os seus alunos. É comum encontrarmos as famosas aulas extras para o vestibular, fora do horário convencional, agora destinadas ao Enem. Cursinhos pré-vestibular transformam-se em cursos “Pré-Enem”. As livrarias, as bancas e os sites de venda foram invadidos com novos materiais prometendo preparar o aluno para a prova.
Estudantes preocupados em ocupar uma destas vagas agora se dedicam a estudar para o Enem. Uma rápida busca pela palavra “Enem” no twitter demonstra que muitos candidatos levam a sério a necessidade de estudar para a prova. Alguns preferem estudar por conta própria. É importante lembrar que parte significativa dos candidatos já saiu do ensino médio.
Isto demonstra que a sociedade compreende ser o Enem uma prova diferente do vestibular convencional. Se não a reconhecesse como diferente, não existiriam tantas iniciativas dizendo-se “especializadas” no exame. Isto vem ao encontro com a idéia central do novo Enem, que é induzir mudanças no ensino médio. O esperado é que as iniciativas favoreçam uma educação focada na compreensão de fenômenos, na resolução de problemas, na construção de argumentação e na elaboração de propostas éticas pelo educando, tal qual será cobrado nas questões que aparecerão na prova.
Apesar de reconhecer a prova como diferente, o conjunto da sociedade, e até mesmo a maioria dos educadores, não sabe o que significa esta diferença. As aulas extras das escolas particulares, as aulas de reforço para o Enem oferecidas por algumas prefeituras, os novos materiais didáticos, os cursos pré-Enem e várias outras iniciativas, fora raras exceções, estão repletas do conteúdismo e da “decoreba” inútil do Ensino Médio e com pouquíssimo dos eixos cognitivos propostos pelo exame.
A prova cobrará sim alguns conteúdos. Eles são aqueles relacionados ao domínio das linguagens da natureza, da matemática e das humanidades. Para ficar mais fácil de entender, o Enem considera importante que você tenha o domínio dos conteúdos mínimos necessários para que possa aprender outros conteúdos, quando isto for necessário.
Vamos a alguns exemplos. Você, todos os dias precisa ler algum texto, conversa com outras pessoas, vê placas com símbolos e escuta música. Para entender tudo isso é importante conhecer os códigos criados pelo homem, como o português e outras formas de se comunicar.
Você acompanha quantos votos o seu candidato teve, quantos pontos seu time acumulou no campeonato, a quantidade de caixas de leite no armário, calcula quantos azulejos serão necessários para a reforma da cozinha e quanto irá gastar se precisar usar seu cheque especial. Para isto, é necessário conhecer os números, ler gráficos e tabelas e saber os conceitos de metro cúbico e juros compostos.
Aí você recebe um dinheiro extra e resolve fazer umas compras. Entre duas TVs de mesmo preço, resolve comprar a que gasta menos energia. Para isso, precisa conhecer ou ter a capacidade de aprender o conceito de KW/H e o de comparação de medidas. Vai para casa e, com sede, resolve tomar água. Para o bem da saúde pública de sua comunidade é importante que compreenda o ciclo da água.
Estes são alguns dos conteúdos exigidos. São, somente, aqueles necessários para aprender outros conteúdos. Isto é muito menor do que os programas curriculares das escolas de ensino médio. Estudar mais do que isto não faz sentido. Em relação ao conteúdo, o Enem quer saber se você é capaz de aprender, e não se você conhece todos os conteúdos existentes no mundo. Quem aprende certa quantidade de conteúdos prova que é capaz de aprender outros, quando isto for preciso. Esses conteúdos mínimos, que serão cobrados, estão listados na matriz de Competências e Habilidades do Enem.
O Enem divulgou também uma outra matriz, a de Conteúdos, que só serve para confundir educadores e estudantes. Sem sentido dentro da perspectiva de indução de mudanças no ensino médio, essa matriz é basicamente a cópia dos índices de materiais didáticos e de sistemas de ensino. A confusão aumenta por que o próprio ministro da Educação deu declarações, no ano passado, dizendo que o que ia cair na prova era o que se aprendia dentro das salas de aula.
Ele até tem razão se pensarmos que toda questão tem um conteúdo. O que falta o Ministério deixar claro para todos é que a maior parte dos conteúdos que vão aparecer na prova não precisa ter sido acumulado pelos candidatos. Na maior parte das questões, o conteúdo só servirá de pano de fundo para a interpretação, para a resolução de problemas ou para a demonstração da postura ética do examinado.
Existe um alento para aqueles que vão prestar o Enem e que até aqui estudaram conteúdos desnecessários e não fizeram atividades que desenvolvessem os eixos cognitivos capazes de orientar a resolução de situações-problema. Até agora existe uma enorme correlação entre as notas obtidas nos vestibulares convencionais e no Enem. Isto quer dizer que, na maioria dos casos, quem tem notas altas nos vestibulares convencionais tem nota alta no Enem e quem tem notas baixas nos vestibulares tem nota baixa no Enem.
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