domingo, 29 de novembro de 2009

Brasil melhora na Economia mas Desigualdade persiste

A mais abrangente pesquisa sobre a realidade brasileira feita antes da crise econômica mundial revela o retrato de um Brasil com economia estável, mais empregos e renda, mas que ainda convive com problemas de desigualdade social, falta de infraestrutura e analfabetismo.

Os dados da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), a mais completa e detalhada pesquisa domiciliar realizada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), foram coletados em setembro de 2008. O levantamento é importante porque serve tanto para avaliar resultados de políticas públicas no país quanto para planejar o futuro, destinando investimentos de acordo com áreas que merecem maior atenção do governo. No balanço geral, a pesquisa revelou aumento de brasileiros no mercado de trabalho e crianças matriculadas na escola. Por outro lado, temos ainda problemas como analfabetismo, falta de saneamento básico (um em cada quatro lares brasileiros não possui rede de esgoto), trabalho infantil (reduziu 3,3% entre crianças de 5 a 13 anos, mas 993 mil ainda trabalham) e baixo acesso à internet (5,3 acessos em cada 100 mil habitantes, contra uma média de 30 em países da Europa).

Com respeito à população, a Pnad apresentou pelo menos dois dados novos. Pela primeira vez, a taxa de fecundidade atingiu o menor nível, com 1,89 filho por mulher, resultado de uma população mais bem informada sobre métodos contraceptivos e do acesso da mulher ao mercado de trabalho. Outro dado importante é que, pela primeira vez na história, mais da metade da população (50,6%) dos habitantes se declara parda ou preta, o que pode ser consequência de ações afirmativas da condição racial.

Mercado de trabalho
Mesmo não refletindo os efeitos da crise econômica mundial, os dados mais positivos da Pnad mostram que, no ano passado, o Brasil estava no ápice dos avanços econômicos (considerando um período de cinco anos). É uma importante constatação porque confirma a estabilidade econômica do país, que passou - até quase a metade da década de 1990 - por sucessivos planos, alterações na moeda e inflação em alta. O equilíbrio financeiro e monetário atrai investimentos e possibilita uma melhor distribuição de renda. De acordo com a pesquisa, o número de empregos formais registrou aumento de 7,1%, o maior desde 2001, o que corresponde a 2,1 milhões de pessoas a mais com carteira assinada. Isso representa mais brasileiros sindicalizados, contribuindo com a Previdência Social. A redução da taxa de desemprego foi a menor desde 1996, passando de 8,2%, em 2007, para 7,2% no ano passado. São 2,5 milhões de ocupados a mais no país. Já a renda média do trabalhador era de R$ 1.041 em 2008, menor do que uma década atrás: R$ 1.074 em 1998. Porém, segue uma escala contínua de aumento de renda nos últimos nove anos, o que é um bom indicativo. A renda média dos domicílios, que incluem todos brasileiros, não somente os que estão empregados, apontou um crescimento de 2,8%, passando de R$ 1.915, em 2007, para R$ 1.968, mantendo também um ritmo de crescimento. Os dois dados juntos - principalmente a renda domiciliar - significam uma melhoria na condição de vida da população mais pobre e maior acesso a bens de consumo.


Distribuição de renda
Se a parcela mais pobre da população tem mais dinheiro no bolso, seria natural que se esperasse uma redução da distância que a separa dos brasileiros mais ricos, o que de fato aconteceu. Ainda assim, a desigualdade social é vergonhosa. Em 2008, a parcela 10% mais rica da população brasileira concentrava 42,7% dos rendimentos do trabalho (43,3% em 2007), enquanto os 10% mais pobres ficaram com 1,2% restante, contra 1,1% em 2007. Além disso, há desníveis entre as regiões do país. A região Centro-Oeste teve a maior renda média do trabalho, de R$ 1.261, influenciada pelo Distrito Federal e seus altos salários no funcionalismo público, ao passo que o Nordeste teve a menor, com R$ 685. São as regiões com maior desigualdade na distribuição de renda. A medida de desigualdade de um país é feita por meio do chamado coeficiente Gini (nome que se refere ao estatístico italiano Corrado Gini, que desenvolveu o cálculo em 1912). A medida varia de 0 a 1, onde 0 corresponde a uma situação em que todos têm a mesma renda e 1, a uma desigualdade total. Portanto, quanto menor o indicador, melhor. No rendimento médio do trabalho, o índice Gini no Brasil foi de 0,521, com queda de 0,007 ponto percentual em relação a 2007: 0,528. Na renda média dos domicílios, caiu de 0,521 para 0,515 em 2007 (0,006 ponto percentual). Avançamos, mas em ritmo lento.

Educação
Em educação, a taxa de escolarização cresceu, passando de 97% (o percentual de matriculados em 2007) para 97,5% em 2008, entre alunos de 6 a 14 anos, e de 82,1% para 84,1%, na faixa etária de 15 a 17 anos. Em números absolutos, caiu o número de jovens estudantes, o que se explica, segundo o IBGE, pelo envelhecimento da população. A despeito dos números positivos na educação, o país ainda tem 12,4% da população com 25 anos ou mais que não sabe ler nem escrever. Entre jovens entre 18 anos ou mais, a taxa é de 10,6%. O analfabetismo praticamente se manteve estável em 9,2%, em comparação com 2007 (9,3%). Em números absolutos, aumentou de 14,687 milhões para 14,736 milhões o número de analfabetos. O Nordeste tem a maior taxa de analfabetismo, de 17,7%. Programas sociais do governo, como o Bolsa Família - que beneficia famílias com renda mensal de até R$ 140, desde que os filhos estejam matriculados na escola -, assim como o aumento da renda, tiveram reflexos positivos na área da educação.

Conclusões
O resultado da Pnad, no geral, é favorável. Mais gente entrando no mercado de trabalho e o brasileiro ganhando mais são conquistas de boas políticas econômicas que controlaram a inflação e geraram aumento real do salário mínimo. No entanto, entraves como taxa de analfabetismo, desigualdade social, disparidade entre regiões mais pobres e mais ricas e falta de recursos básicos, como rede de esgoto, irão exigir maior comprometimento dos governantes com políticas públicas mais efetivas e menos eleitoreiras. A próxima pesquisa da Pnad, feita em setembro de 2009 para ser divulgada em 2010, deve apresentar um diferencial: o impacto da crise econômica no Brasil.
Fonte: Uol Educação

Muro de Berlim - 20 anos depois

Há 20 anos, a queda do Muro de Berlim (1961-1989) abriu caminho para a reunificação da Alemanha, acelerou o fim dos regimes comunistas no Leste Europeu, colocou um ponto final na Guerra Fria (1945-1989) e foi um dos fatores que contribuíram para o surgimento do mundo globalizado.

Durante 28 anos, o muro foi o maior símbolo da divisão do planeta em dois blocos, o capitalista e o socialista. A disputa entre os Estados Unidos e a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) envolveu quase todo o mundo em guerras, golpes de Estado, corrida armamentista e ameaças de conflito nuclear. Por fim, o colapso dos regimes comunistas abriu espaço para reformas e protestos populares. O ápice desse processo foi a derrubada do Muro de Berlim na noite de 9 de novembro de 1989. Os próprios berlinenses ajudaram a demolir a construção, que representava a opressão dos governos totalitários do século 20.

Cortina de FerroTudo começou no fim da Segunda Guerra Mundial (1939-1945). A Alemanha foi dividida em duas zonas políticas, econômicas e ideológicas distintas. Em 1949, as áreas controladas pelos Aliados (Estados Unidos, França e Reino Unido) formaram a República Federal da Alemanha, ou Alemanha Ocidental. No outro lado, sob domínio da URSS, foi instaurada a República Democrática da Alemanha (RDA), a Alemanha Oriental. A capital, Berlim, também foi separada em Ocidental e Oriental. Mas enquanto a Alemanha Ocidental progredia com a economia capitalista, o regime estatal da RDA dependia de empréstimos da vizinha para subsidiar serviços públicos e manter o setor industrial. Para os alemães orientais, a escassez de produtos básicos era tão comum quanto a falta de liberdades políticas e individuais. Por isso, eles fugiam para o lado ocidental, em busca de melhores oportunidades. O muro surgiu em 13 de agosto de 1961, por determinação do líder soviético Nikita Kruschev (1953-1964), como uma solução para as constantes escapadas de alemães, fato que ameaçava desestabilizar a RDA. Em média, mil refugiados por dia atravessavam a fronteira, que de início era composta apenas por fios de arames farpados e sem vigilância armada. Com o fechamento das fronteiras, a Alemanha Oriental, com seus 17 milhões de habitantes, virou uma verdadeira prisão. O muro tinha 3,60 metros de altura e 155 quilômetros de extensão. Guardas de fronteiras armados e com cães patrulhavam a edificação. Havia 302 torres de vigília, minas, fosso e casamatas com metralhadoras para impedir a aproximação de eventuais "turistas". Os guardas tinham ordens para atirar e matar qualquer pessoa que se arriscasse a romper a barreira. Pelo menos 192 foram mortos ao tentar pular o muro. Mil morreram na tentativa de atravessar outros pontos da fronteira. O muro também cortou redes de transportes, comunicação e esgotos. Famílias inteiras ficaram separadas por 28 anos, sem terem o direito a viajar para se reencontrarem. Para os comunistas, o projeto funcionou bem: enquanto 2,5 milhões de alemães orientais fugiram de 1949 a 1962, apenas 5 mil deixaram o país entre 1962 e 1989. Isolados no bloco oriental, os alemães eram vigiados pela polícia secreta, a Stasi, que coagia e subornava as pessoas para delatarem parentes e amigos acusados de subversão (como mostra o filme A vida dos outros, indicado abaixo). Para os europeus que cresceram à sombra do Muro de Berlim, não havia esperanças de que a situação mudasse.

Gorbatchev:
A ruína da economia e o consequente desgaste político do império socialista, no entanto, mudaram o cenário no final dos anos 1980. Nesse contexto, dois fatores foram preponderantes para a queda do muro: a ascensão do líder soviético Mikhail Gorbatchev (1985-1991), em 1985, e as reformas políticas na Hungria e na Polônia. Quando chegou ao poder, Gorbatchev viu que o regime não tinha mais condições de arcar com os altos custos da Guerra Fria. Os gastos militares consumiam as riquezas do país, cujas indústrias estavam tecnologicamente defasadas, e os bens de consumo eram inacessíveis à maior parte do povo. A única saída era a abertura, que ficou conhecida por dois nomes: a glasnost (transparência), de âmbito político, e a perestroika (reestruturação), na esfera econômica. O conjunto de medidas levaria, em 1991, à dissolução da URSS. Gorbatchev também se aproximou de líderes da Europa Ocidental e dos Estados Unidos. Entretanto, mais importante que a diplomacia externa foi a postura em relação aos países que viviam sob influência política e militar de Moscou. Eles teriam, dali por diante, que escolher as próprias trilhas para sair do labirinto a que o socialismo os conduzira. A posição do Kremlim foi decisiva para as mudanças, uma vez que todas as revoltas anteriores contra os Estados comunistas - Berlim (1953), Budapeste (1956), Praga (1968) e Varsóvia (1981) - foram esmagadas com ajuda das tropas soviéticas. Com o Exército Vermelho fora do jogo, a história seria diferente.

Eleições:
O primeiro movimento em direção à abertura aconteceu na Polônia. Naquele final dos anos 1980 o país estava em crise, com inflação crescente e um terço da população vivendo na pobreza. Para o governo, a saída encontrada foi negociar com o partido de oposição, o Solidariedade, que depois de sete anos na ilegalidade seria autorizado a participar de eleições parlamentares. O fundador do Solidariedade, Lech Walesa, ganhador do prêmio Nobel da Paz em 1983, tinha apoio e financiamento dos Estados Unidos e da Igreja Católica. Ele assinou um acordo com seu antigo algoz, o líder comunista Wojciech Jaruzelski, para viabilizar as eleições históricas de 6 de fevereiro de 1988, o primeiro pleito eleitoral livre no Leste Europeu desde o fim da Segunda Guerra Mundial. O resultado das urnas foi claro: os poloneses repudiavam os comunistas. Além disso, o pleito foi considerado limpo e a vitória da oposição foi aceita pelo Partido Comunista. Isso possibilitou a formação do primeiro governo não comunista na Europa Oriental pós-guerra. A Polônia provara para aos europeus que era possível derrubar ditaduras por vias democráticas, inclusive negociando com o inimigo.

Piquenique
Mas na Hungria, que passava por situação econômica e política semelhante à Polônia, os abalos seriam causados por forças internas. Partiu do próprio governo, mais especificamente do primeiro-ministro Miklós Németh (1988-1990) e seus aliados, a proposta de desmantelar o sistema comunista abrindo as fronteiras. No dia 2 de maio de 1989, o governo húngaro anunciou que, por motivos financeiros, não poderia mais manter a cerca eletrificada em sua fronteira com a Áustria. Foi o primeiro "buraco" aberto na Cortina de Ferro, pelo qual os alemães orientais poderiam escapar. Mesmo assim, não ocorreu a fuga em massa esperada. Os húngaros fizeram então uma nova tentativa com a promoção de um piquenique pan-europeu, na fronteira com a Áustria, em 19 de agosto do mesmo ano. Mais de 600 refugiados atravessaram as barreiras levantadas, no período de três horas em que ocorreu o evento. Políticos húngaros cortavam pedaços da cerca de arame farpado e distribuíam como souvenirs. Na última manobra, em 10 de setembro, a Hungria anunciou que as fronteiras seriam totalmente abertas. Assim, os alemães puderam fugir pela Hungria e, via Áustria, chegar até a Alemanha Ocidental. Foi o início da fuga em massa de alemães da RDA. Milhares debandaram para rever parentes, fazer compras, buscar empregos melhores ou simplesmente viajar ao exterior, coisa que até então eram proibidos de fazer.


Revolta popular
O abandono diário de milhares de cidadãos da Alemanha Oriental (25 mil num único final de semana) ameaçou o funcionamento de serviços básicos e acabou gerando uma crise no país. Os comunistas contra-atacaram bloqueando a passagem na fronteira com a antiga Tchecoslováquia. Parte dos alemães buscou refúgio na embaixada da República Federal da Alemanha em Praga, capital tcheca. No final de setembro, o governo de Erich Honecker (1971-1989) adotou uma segunda decisão equivocada. Ele transferiu, de trem, os refugiados da embaixada para a Alemanha Ocidental, passando por dentro da RDA. Os demais alemães orientais, revoltados com o fechamento da rota de fuga pela Hungria, amontoaram-se nas estações e foram reprimidos com violência pelas forças policiais. Os protestos cresceram por todo país e levaram, em outubro, à renúncia de Honecker, pressionado pelos membros do Partido Comunista. Egon Krenz, o segundo homem no partido, assumiu o poder e decidiu conceder passes livres para todos alemães da RDA que quisessem viajar ao exterior. O plano era liberar os passaportes a partir de 10 de novembro. Porém, o porta-voz do governo, Günter Schabowski, em pronunciamento na TV no final da tarde do dia 9, disse por engano que as novas regras valeriam "de imediato". Foi o suficiente para milhares de berlinenses correrem para o muro e exigirem a abertura dos portões. Então, por volta das 23h, guardas desorientados e sem ordens do alto escalão sobre como controlar o caos cederam à pressão dos manifestantes. O povo alemão comemorou, então, a vitória depois de 40 anos de bloqueio. Desse modo, foi derrubada a primeira peça do dominó socialista da Europa Oriental, que mudaria por completo o traçado geopolítico do mundo.

Fonte: Uol Educação

O Apagão

O blecaute que atingiu 18 estados e afetou 70 milhões de brasileiros entre a noite de 10 e a madrugada de 11 de novembro de 2009 foi considerado o mais grave nos últimos dez anos. O apagão, cujas causas são investigadas, também levantou suspeitas sobre eventuais falhas no sistema de distribuição de energia no país.

Energia elétrica é um dos fatores que garantem o desenvolvimento de uma nação. Dela depende o funcionamento da indústria, do comércio, das comunicações e do transporte. Além disso, nunca o ser humano esteve tão ligado a aparelhos eletrônicos para trabalho, estudo, lazer e convívio social. A pane que deixou boa parte do país às escuras durou entre quatro minutos, em Sergipe, e 7h17, no Rio de Janeiro. Os Estados mais afetados foram Rio de Janeiro, São Paulo, Espírito Santo e Mato Grosso do Sul. Outros tiveram blecaute apenas parcial. O Paraguai ficou meia hora sem energia. Somente em São Paulo, 41,8 milhões de pessoas ficaram sem luz, o que equivale a mais da metade do total de brasileiros atingidos pelo incidente. Em março de 1999, um blecaute abrangeu mais de 60% do território nacional, incluindo 10 estados. A causa teria sido a queda de um raio na subestação de energia elétrica da Companhia Energética de São Paulo (Cesp) em Bauru (SP). Em 2001, a falta de chuvas e investimentos no setor trouxe risco de novos apagões. Por isso, o governo promoveu um racionamento de energia, suspenso em 2002. Com os reservatórios das usinas hidrelétricas cheios e a situação econômica estável, o país foi pego de surpresa pelo apagão da semana passada. O que o teria provocado? E por que o sistema de energia elétrica brasileiro continua vulnerável?

Como funcionaA energia elétrica no Brasil é gerada em usinas hidrelétricas, que aproveitam a água de rios, e termelétricas, movidas a diesel, óleo, gás, carvão ou biomassa. Ela é distribuída por linhas de transmissão até subestações e, depois, para as cidades. De acordo com dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), a capacidade de produção no país é de aproximadamente 105,9 mil MW. Desse total, as hidrelétricas fornecem 75,2 mil MW (71%) e as termelétricas, 25 mil MW (23,6%). O modelo de distribuição adotado no país é chamado Sistema Interligado Nacional (SIN). Como o Brasil tem regiões com climas diversos, com períodos de secas e chuvas em diferentes regiões, as usinas são interligadas por meio de redes de transmissão. Assim, se um período de seca no Sul afetar a produção de uma hidrelétrica, a região Norte pode suprir a demanda com a produção de suas usinas. O SIN, em proporção, é único no mundo. Ele se divide em dois subsistemas: o Sul/Sudeste/Centro-Oeste e o Norte/Nordeste. Somente uma parcela da região Norte do país, que corresponde a 3,4% da capacidade de produção elétrica, não faz parte do SIN. Em tais localidades, a energia é gerada por termelétricas movidas a diesel, que são mais poluentes (emitem gás carbônico) e encarecem as contas de luz. O maior benefício do SIN, portanto, é a economia. Cidades do Nordeste, por exemplo, podem receber energia de usinas hidrelétricas do Sudeste no período de seca. Do mesmo modo, as termelétricas do Nordeste são acionadas quando há risco de faltar água nos reservatórios das hidrelétricas. Por outro lado, a conexão facilita a propagação de blecautes no sistema, num "efeito dominó". Uma pane em determinada estação pode se espalhar rapidamente para as demais, afetando todo o território nacional. Foi isso o que aconteceu no apagão de novembro de 2009.
CausasSegundo o Ministério de Minas e Energia, o blecaute ocorreu em razão de um curto-circuito que desligou três linhas de transmissão da hidrelétrica de Itaipu, por volta das 22h13 do dia 10 de novembro. Duas linhas ligam as subestações de Ivaiporã (PR) a Itaberá (SP) - e outra de Itaberá a Tijuco Preto (SP). Como o sistema nacional é interligado, a pane em Itaipu, que gera 19,3% de toda energia elétrica do país, levou ao desligamento das subestações. De acordo com o governo, a principal hipótese para a causa do curto-circuito nas linhas de transmissão teria sido a queda de raios. Havia fortes chuvas na região de Itaberá, na noite do apagão. A falha afetou o sistema de segurança que deveria impedir a queda das demais usinas e linhas de transmissão de energia. Quando há um problema em determinado ponto das linhas de transmissão, o sistema de segurança bloqueia o ramal e isola o blecaute, evitando o "efeito dominó". Como a energia continuou sendo transmitida, mesmo com a pane, Itaipu desligou para evitar sobrecarga. E como todo o sistema é conectado, isso afetou a subestação do Norte/Nordeste. Portanto, somente o relatório final das investigações irá atestar os motivos do incidente.

Soluções:
Para especialistas, a solução para evitar novos apagões seria melhorar a segurança. Isso poderia ser feito construindo linhas "reservas" ou descentralizando o sistema de geração e transmissão de energia elétrica. O problema é que isso encareceria os serviços e o consumidor acabaria pagando contas de valores mais altos. Ou seja, o brasileiro teria que arcar com as despesas de um sistema mais seguro. Outra saída envolve o investimento em energias alternativas, como solar ou eólica (dos ventos). Uma cidade que possuísse uma usina baseada nesses tipos de energia poderia manter a geração e distribuição de energia elétrica no caso de um apagão. A queda de investimentos no setor também teria contribuído para a fragilidade do sistema. De acordo com a ONG Contas Públicas, houve uma redução correspondente a 0,27% do Produto Interno Bruto (PIB), em 1999, para 0,13%, em 2008. O governo bloqueou também R$ 5,8 bilhões do orçamento de R$ 24 bilhões do Ministério de Minas e Energia para este ano, o que corresponde a 24,2% do total destinado ao setor elétrico. Em resumo, o sistema energético brasileiro é bom: gera energia limpa e econômica. Mas possui falhas que provocam apagões de tempos em tempos. Corrigir essas falhas exige mais investimentos, qualidade de gestão e políticas públicas, isto é, uma clara visão do governo do que precisa ser feito e de em quais áreas as verbas devem ser aplicadas.

Fonte: Uol Educação

sábado, 21 de novembro de 2009

ANATEL


Perfil Institucional



Segunda agência reguladora a ser criada no País, a Agência Nacional de Telecomunicações(Anatel)foi a primeira a ser instalada, em 5 de novembro de 1997. Concebida para viabilizar o atual modelo das telecomunicações brasileiras e para exercer as atribuições de outorgar, de regulamentar e de fiscalizar esse importante setor de infra-estrutura, a Anatel foi dotada de inovadora personalidade institucional.

Conforme a Lei Geral de Telecomunicações (LGT), Lei nº 9.472/1997, a Anatel é uma autarquia vinculada ao Ministério das Comunicações, mas administrativamente independente e financeiramente autônoma. Seu processo decisório caracteriza- se como última instância administrativa e suas decisões só podem ser contestadas judicialmente. A composição colegiada da direção superior da instituição favorece a transparência, a tomada de decisões por seus membros e evita personalismos.

Essas características institucionais conferiram à Anatel condições de liberdade, de agilidade, de autonomia e de dinamismo no cumprimento de suas atribuições, mesmo tempo em que lhe permitiram dar respostas rápidas a questões operacionais, estruturais e administrativas. Coube à Anatel preparar todos os regulamentos que balizaram a privatização das empresas estatais do Sistema Telebrás, ocorrida em julho de 1998, e desenvolver o esforço de regulação que preparou nosso País para receber os investimentos e a tecnologia que elevaram as telecomunicações brasileiras, nos anos recentes, a patamares comparáveis aos experimentados por países mais desenvolvidos.

Ao longo de seus nove anos de existência e como comprovam fatos e números desta prestação de contas à sociedade, desenvolveu a Agência, com a dedicação de seus servidores, amplo trabalho com foco em sua missão de:

Promover o desenvolvimento das telecomunicações do País de modo a dotá-lo de uma moderna e eficiente infra-estrutura de telecomunicações, capaz de oferecer à sociedade serviços adequados, diversificados e a preços justos, em todo o território nacional.”

Ao apoiar suas atividades nos princípios da universalização e da competição, dois dos pilares de sustentação do atual modelo das telecomunicações brasileiras, a tem como objetivo finalístico corresponder às necessidades e aos direitos dos consumidores, em todos os estratos sociais, mesmo nos pontos mais isolados do território nacional. Afinal, é dever do Poder Público favorecer o desenvolvimento social econômico, contexto em que as telecomunicações desempenham relevante papel como componente de infra-estrutura.

Missão, atribuições e características

A missão da Anatel é promover o desenvolvimento das telecomunicações do País de modo a dotá-lo de uma moderna e eficiente infra-estrutura de telecomunicações, capaz de oferecer à sociedade serviços adequados, diversificados e a preços justos, em todo o território nacional.

Autarquia especial criada pela Lei Geral de Telecomunicações Lei 9.472, de 16 de julho de 1997), a Agência é administrativamente independente, financeiramente autônoma, não se subordina hierarquicamente a nenhum órgão de governo - suas decisões só podem ser contestadas judicialmente. Do Ministério das Comunicações, a Anatel herdou os poderes de outorga, regulamentação e fiscalização e um grande acervo técnico e patrimonial. Compete à Agência adotar as medidas necessárias para o atendimento do interesse público e para o desenvolvimento das telecomunicações brasileiras, atuando com independência, imparcialidade, legalidade, impessoalidade e publicidade.

Dentre as atribuições da Anatel, merecem destaque:
*implementar, em sua esfera de atribuições, a política nacional de telecomunicações;
*expedir normas quanto à outorga, à prestação e à fruição dos serviços de telecomunicações no regime público;

*administrar o espectro de radiofreqüências e o uso de órbitas, expedindo as respectivas normas;
*expedir normas sobre prestação de serviços de telecomunicações no regime privado;
*expedir normas e padrões a serem cumpridos pelas prestadoras de serviços de telecomunicações quanto aos equipamentos que utilizarem;
*expedir ou reconhecer a certificação de produtos, observados os padrões e normas por ela estabelecidos;
*reprimir infrações dos direitos dos usuários; e exercer, relativamente às telecomunicações, as competências legais em matéria de controle, prevenção e repressão das infrações da ordem econômica, ressalvadas as pertencentes ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).

fONTE: pORTAL DA ANATEL

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Exemplo de Questões discursivas

TEMA:"A Agência Nacional de Telecomunicações (ANATEL) foi a segunda reguladora a ser criada no país e a primeira a ser instalada. Ela foi concebida para viabilizar o atual modelo de telecomunicações brasileiras, sendo dotada de inovadora personalidade institucional.A composição de sua direção favorece a transparência, a tomada de decisões de seus membros e evita personalismos. Já as suas características permitem dar respostas rápidas a questões operacionais, estruturais e administrativas, sendo as suas atividades apoiadas nos princípios da universalização e da competição."
Considerando que o texto acima tem caráter unicamente motivador, redija um texto dissertativo acerca do seguinte tema."
O PAPEL DA ANATEL NA SOCIEDADE BRASILEIRA

" A natureza jurídica da Agência Nacional de Telecomunicações (ANATEL) é de uma autarquia em regime especial. Sendo a natureza jurídica da Agência classificada dessa forma, a ANATEL possui algumas características que diferem de autarquias comuns: autonomia administrativa e financeira e ausência de hierarquia em relação ao Ministério ao qual ela está vinculada (no caso da ANATEL, ao Ministério das Comunicações). Essas características permitem à Agência maior autonomia para que ela possa agir com mais eficiência e eficácia no setor que ela regula (Setor de Telecomunicações), dando respostas rápidas a questões operacionais, estruturais e administrativas.Dentre algumas atribuições da ANATEL, encontram-se a delegação de serviços de telecomunicações (concessão, permissão e autorização) a empresas que queiram atuar no setor; aplicações de sanções para as que estejam delegadas a oferecer serviços públicos e manter políticas para criar maior competitividade no mercado de telecomunicações.. Rogério Araújo



segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Em Liberdade - Silviano Santiago - UNIR

Em Liberdade, de Silviano Santiago, publicado em 1981, é um diário (ficcional) de Graciliano Ramos, uma espécie de biografia-confissional que se refere alegoricamente ao “biógrafo” (Silviano).O livro deveria ser publicado vinte e cinco anos após a morte do autor de Memórias do Cárcere, para que a mítica de um Graciliano Ramos, absolutamente verossímil, como se o narrador de Vidas Secas pudesse ser questionada em Em Liberdade, como o ex-detento que jamais superou a dor de ser excluído, sendo como maior e melhor amigo, o cigarro causador da sua morte por câncer.

ação ficcional se dá no final da década de 30, ou seja, na fase imediatamente anterior à Segunda Guerra Mundial. Silviano Santiago nos mostra o Brasil sob o regime ditatorial de Getúlio Vargas. A cidade é a do Rio de Janeiro nos anos de 1936 / 1937.Para tanto, transforma o escritor Graciliano Ramos, representante de uma corrente literária que visava retratar o Brasil através da representação de suas reais condições sociais, em personagem de uma ficção onde uma trajetória pessoal marcada pela profunda consciência, dialoga com a realidade.No livro podemos encontrar a busca de continuidade do livro de memórias de Graciliano Ramos, Memórias do cárcere, publicado inacabado após sua morte em 1953, onde o autor escreve sobre os dez meses e dez dias em que ficou preso (3 de março de 1936 a 13 de janeiro de 1937

Quando morreu Graciliano Ramos, faltava apenas a escrita de um capítulo dessas memórias, tal como nos informa a nota explicativa de seu filho, Ricardo Ramos, apresentada ao final do segundo volume. Ricardo conta uma conversa que teve com o pai sobre esse último capítulo. Graciliano lhe dissera ser tarefa de uma semana a redação do capítulo que faltava; “pretendia escrever das sensações de liberdade, a saída, uns restos de prisão a acompanhá-lo em ruas quase estranhas”: “Um fim literário”. Em janeiro de 1937, Graciliano teria escrito um diário no calor do momento, cheio de esperança e frustração, com críticas a amigos e inimigos. Mais tarde, percebendo que essa introdução destoava completamente do conjunto da obra Memórias do Cárcere, Graciliano teria resolvido sacrificá-la, entregando-as a um amigo que brodianamente as teria repassado ao editor Silviano Santiago. Fica assim construída a ficção da ficção. É isso que faz Silviano Santiago em 1981.

Santiago deseja capturar são os meses imediatamente posteriores à sua libertação. Silviano Santiago coloca em diálogo o poeta Cláudio Manuel da Costa (poeta e rebelde do século XVIII que participou da rebelião de Vila Rica em 1789), o romancista Graciliano Ramos (na década de 1930), o jornalista Wladimir Herzog (morto em fins da década de 1970) e ele mesmo. Temos então uma conversa onde o papel do intelectual brasileiro frente a regimes autoritários e intolerantes ecoa durante o livro todo. Nesse livro tudo é verídico e tudo é ficção e, portanto, as relações entre literatura, história e biografia são objetos de constante questionamento. Tanto no plano geral quanto no mais específico, o romance coloca em questão a discussão sobre identidade e fragmentação, nas duas dimensões de identidade, a identidade coletiva de um país, o Brasil, e a identidade pessoal do autor, do personagem e do próprio leitor em vários lugares e em vários momentos.Em uma literatura rica em sátiras e paródias, Em Liberdade talvez seja o mais importante pastiche da literatura brasileira.

Santiago incorpora o estilo característico de Graciliano não para simplesmente imitá-lo, ou criticá-lo, ou trazê-lo para o presente, mas para incorporá-lo, para através dele empreender uma reflexão sobre o papel do escritor diante das ditaduras.Na narrativa de Silviano Santiago, a grande vedete é a própria mensagem, o foco narrativo e ficcional de Silviano sobre um Graciliano Ramos humanista e visceral, um homem que antes do cárcere era um escritor, mas ao sair, saiu como prisioneiro da elite e do seu desconforto em saber demais. Silviano, que compõe o prólogo do livro como um processo de metalinguagem, compartilhando com o leitor a composição temático-formal do seu livro, faz uma crítica ao sistema da elite que mal sabe ler os enunciados dos livros de literatura aos escritores que se submetem para usar palavras para ser compradas por essas elites.A subjetividade de Silviano é aludida alegoricamente (ele se apresenta apenas como “editor” do manuscrito de Graciliano) e só pode ser recuperada pelo leitor contando com a sua bagagem de informação contextual.Alegórica ou metonimicamente, a subjetividade do autor-narrador se coloca no texto através de um mergulho numa outra subjetividade com a qual o narrador estabelece um jogo. E em ambos os casos o que relaciona essas duas subjetividades é um trauma: o trauma dos intelectuais na ditadura, num caso, e o trauma da morte no outro.E esses traumas estão inscritos na História brasileira, o que dá à experiência individual uma dimensão nacional.Dizemos que ao se narrar a subjetividade do outro, faz-se referência à subjetividade do narrador / autor e este procedimento se repete no interior de Em liberdade, no projeto de Graciliano de escrever um conto sobre Cláudio Manoel da Costa: “Cláudio será Graciliano... O desespero dele, ao saber que todos os seus planos vão por água abaixo, porque não existe pujança para concretizá-los, é meu”.

No texto a exposição da subjetividade está mediada por uma estrutura complexa que desconstrói a possibilidade de se ler um suposto “sujeito confissional”. Além de problematizar o discurso confessional, o romance recusa o discurso da victimização. O “Graciliano” de Em Liberdade se sente permanentemente incomodado com a situação de ser visto como herói-mártir, figura que se tornara lugar comum no memorialismo dos anos 80. A recusa a narrar a experiência do cárcere, e em troca narrar os dias em liberdade, afasta o romance daqueles escritos sob o “síndrome da prisão”.

Na obra Em liberdade, Silviano Santiago faz uma reescritura que pode ser pensada como elaboração do passado. Uma experiência traumática se configura como uma máquina de tempo, que relaciona momentos da história nacional. O passado não deixa de retornar na estrutura em abismo, na qual um tempo contém o passado o futuro.É uma obra que fala de liberdade de maneira absolutamente não lúdica, porque a liberdade no livro é tratada por um autor que sabe muito bem o que ela deva ser, por tê-la perdido de maneira arbitrária e de conquista por um movimento repressor. Respostas bem pouco civilizadas. Elas utilizam a linguagem mais convincente por aquelas bandas e talvez por todo o Brasil: a da violência de Estado.

A perseguição ao inimigo torna-se idéia fixa na cabeça dos poderosos do momento, que sim acreditam poder neutralizar, reduzir a pó toda força de discórdia, conseguindo uma unanimidade que só existe pelo terror que amedronta e cala. Todo governo, mesmo o que não se diz autoritário, reclama da unanimidade.O autor, que narrava a saída de Fabiano, Sinhá Vitória e os meninos, além e Baleia, não é o mesmo narrador da efeméride de Em Liberdade, do diário de relatos de um Graciliano sob ponto de vista menos eloqüente, menos verossímil e mais humanista, uma vez que a sua vida fora exposta como num diário íntimo e cronológico. Em Vidas Secas, narrava a história como um Deus que pairava onipotente sobre as dificuldades do cenário de horror e de seca e de determinismo e de clausura de soluções.

Na obra Em Liberdade, o autor estava sob a força de Deus e o seu pré-juízo.Neste livro temos o Brasil em época da primeira República em choque de militarismo dominante como garantia para uma República de domínio também ideológico e absolutamente prepotente. No Nordeste esse quadro se confirmava com maior seriedade porque se configurava e se justificava, uma justiça tenentista violenta e de reprimenda dos ativismos mais exaltados, inclusive o de Graciliano. Graciliano fora perseguido pela sua super-exposição ou análise sociológica feita em livros como: São Bernardo.Havia uma super-exposição do seu caráter de análise sociológico comparada a sua narrativa com a de Dostoiévsi (conhecido por seu livro Crime e Castigo e por sua narrativa impressionista e de submundo, onde o foco de análise era sempre o lado obscuro do ser humano e a difusão de suas idéias humanistas, como a teoria da liberdade de que o super-homem era aquele capaz de cometer assassinatos, e se dispor da vida de outrem).

Graciliano era capaz de estabelecer com louvor e frieza de detalhes a super exposição irrisória da condição humana, ou melhor desumana das grandes estruturas. Ele não acreditava na composição social, não acreditava na benevolência de regimes imperialistas, não acreditava na bondade humana, quanto mais na bondade divina, por ser absolutamente cético ou apenas crente na concepção da adversidade como elemento primordial do homem e das relações humanas.Vingança, perseguição, violência, cadeia e assassinatos são as armas utilizadas pelos mandões como mecanismo de persuasão. Ver reduzidas até a morte as nossas possibilidades de atuação política, acabamos por acreditar nas manhãs do destino ou nas mãos todas-poderosas de Deus. Se destino houver, ele é trançado pelas artimanhas da vingança dos homens.Graciliano e o seu clássico antropomorfismo (concepção de que Deus tem defeitos absolutamente humanos), com um discurso magoado e agnóstico como a condição de adversidade nordestina, na qual ele submete o Nordeste e ao nordestino. Numa narrativa cumulativa de ódios e de passionalidades, onde ele expunha seus postulados, uma vez que se expunha como uma ferida ou marca social do estigma da ditadura.

O livro narra por datas, as anotações de Graciliano feitas quase em expurgo depois da saída da prisão (onde ele é o principal personagem, o epicentro da construção da narrativa ficcional de Silviano Santiago), é uma construção antes de tudo sentimental e absolutamente articulada pela narrativa de autor. Até a chegada de Graciliano a pensão no Catete, a luta pela reconquista da liberdade, a reconstrução ou ressignificação da sua vida pós-cárcere, a luta por sobrevida numa sociedade de capas, de elite, de unanimidade e que proíbe que as dissonâncias sobrevivam com a mesma dignidade.O ponto alto do livro, momento anacrônico de articulação perfeita de todos esses vetores, é quando Graciliano / Santiago está pesquisando sobre a vida de Cláudio Manuel e, de um livro de história do Brasil que ele não nomeia nunca mas diz que sempre carrega, ele pinça o seguinte comentário sobre o pretenso suicídio do inconfidente: Tudo leva a crer que foi levado ao tresloucado gesto por ter se conscientizado da sua situação, e estar arrependido da sua militância.Ao nos depararmos com esta obra em especial, não podemos nos esquecer de que o personagem Graciliano Ramos, cunhado na pessoa do escritor Graciliano Ramos, esteve preso na Colônia Correcional Dois Rios, na Ilha Grande, estado do Rio de Janeiro, tendo permanecido antes alguns dias no porão do navio Manaus, rumando nele para a Ilha.

Por si só, este episódio biográfico já se prestaria a variadas interpretações simbólicas, o que, no entanto, não será feito, a não ser quando tais circunstâncias estejam mencionadas dentro do texto ficcional de Em liberdade.ResumoO personagem Graciliano Ramos, vai, logo de seu livramento do cárcere, viver como hóspede do escritor José Lins do Rego.Ele, o personagem Graciliano Ramos, narrador que inicia o diário dizendo que não sente, nem deseja sentir seu corpo, vai retomar sua capacidade física e, junto com seu desejo, seu corpo e a capacidade de trabalho.São as caminhadas na praia, e as experiências à beira da água ou com água que, desde sua primeira menção, acompanham esta retomada.O mar, a areia, o ar que ele respira começam a coadjuvar seu regresso ao domínio pleno de sua força.No poema de Baudelaire citado pelo personagem, os abismos humanos são comparados às riquezas íntimas do mar. Mar e homem são tenebrosos e discretos. O personagem confessa o desejo de "levantar âncoras", "ir à deriva", "navegar de encontro ao desconhecido". Mas não tem forças e se pergunta onde está sua seiva. Constata que não sabe ainda conviver com seu corpo doente, no calor úmido do Rio de Janeiro. Está preso dentro das quatro paredes do quarto em que é hóspede. Diz "não me lavo em rio, lavo-me na pia.Em seguida, reporta uma cena passada na cadeia em que identifica a paixão com o ato de lavar voluptuosamente as mãos, de entrega total. Lava as mãos como se mantivesse uma relação sexual, intensidade percebida e criticada pelo colega de prisão.Depois de dias de chuva, ele sai para passear à beira-mar. Encontra um jardim onde uma fonte jorra formando uma gaiola líquida e dentro da prisão um pássaro. A água do desejo, da vitalidade, o pássaro como símbolo do falo, aprisionado no corpo doente. A visão do repuxo se anula por um corpo de mulher que ele segue. Com crescente satisfação percebe a excitação chegando, e tem uma fabulosa ereção enquanto segue a moça que vai à praia.Com a retomada do desejo vem a mudança, da casa do amigo para um quarto de pensão.

A esposa viajou por mar para Maceió. Ele constata, antes de mergulhar numa pesquisa que também o libertará, que desejava ter o corpo solto no ar do Rio de Janeiro, travando uma relação sexual com a brisa marinha. Na rua, sente-se como um navio, abrindo caminho entre ondas humanas.Mergulhado em trabalho, as últimas reflexões de seu diário dizem "saltei do trampolim", "mergulhei", "em golfos de esperança flutuando mil vezes busco a praia", "abro as comportas", "volto à superfície".

O diário do personagem começa no dia 14 de janeiro de 1937:Não sinto o meu corpo. Não quero senti-lo por enquanto. Só permito a mim existir, hoje, enquanto consistência de palavras....A caminhada matinal com Heloísa pela praia de Ipanema me fez bem. Não acredito que estaria escrevendo estas linhas se não me tivesse alheado do mundo e das pessoas esta manhã. Se não tivesse finalmente voltado os olhos para o estado lastimável em que se encontra o meu corpo....Pisar a areia. Ver o mar. Sentir a brisa úmida de encontro à pele do meu rosto recém-escanhoado. Dia quente, céu azul, o sol brilhando sem tréguas....Caminhando em direção à praia, já de longe sentia o cheiro agridoce do mar e antes de enxergar o areal branco de Ipanema, com os olhos semi-cerrados pelo excesso de claridade, revia ilusoriamente praias nordestinas como se tivesse assistindo a um filme. A tela era o azul que o funil de casas configurava lá no fundo. Estava com a cabeça aqui e a mente lá....Larguei por minutos o braço de Heloísa e apressei o passo para chegar logo e sentir-me tão forte como antes da cadeia....Respirava fortemente e aproximava-me do corpo de Heloísa percebendo quão indispensável era sua presença ali. O cheiro do mar se confundia com o seu cheiro....O cheiro do mar confundiu-se de novo com o cheiro feminino, ativado que estava pelos corpos das moças que ondeavam correndo em direção ao mar. O sol cintilava contra as águas, lá no fundo, ferindo a minha vista já cega pela luminosidade do verão. Escondemo-nos por alguns minutos debaixo de uma amendoeira, seguindo sugestão minha. Abraçados como estávamos, parecíamos um casal de namorados em encontro furtivo. Agora, dava descanso à Heloísa, amparando-me contra o tronco da árvore. Era sólido e firme e invejei-o. Invejei a seiva que corria por dentro do seu cerne e alimentava galhos e folhas. Com palavras impensadas, lamentei a frustração da minha vida em liberdade. Heloísa levou a mão até os meus lábios e fez-me calar.

Agradeci-lhe mentalmente o gesto e, em retribuição, recitei-lhe uns versos de Baudelaire, sem saber em que armadilha caía:"Vous êtes tous le deux ténébreux et discrets:Homme, nul n'a sondé le fond de tes abîmes,O mer, nul ne connaît tes richesses intimes,Tant vous êtes jaloux de garder vos secrets!"("Sois todos os dois tenebrosos e discretos:Homem, ninguém sondou o fundo dos teus abismos,Ó mar, ninguém conhece tuas riquezas íntimas,Tão ciumento que sois de guardar vossos segredos!")Repeti em seguida as rimas, procurando um jogo de significados que a estrofe escondia: "discrets secrets", "abîmes intimes".Segredos discretos, abismos íntimos. Heloísa me olhava e me escutava. Os segredos discretos jazem para sempre em abismos íntimos. Do fundo dos abismos os segredos exalam odores semelhantes às flores do jardim protegidas por grades intransponíveis. Do jardim, no entanto, saía o perfume da mocidade em ruído e alegria. Os corpos bronzeados femininos dançavam em direção ao mar. "Quand tu as balayant l'air de ta jupe large / Tu fais semblant d'un bateau Qui prend le large." (quando vais varrendo o ar com a saia rodada /Pareces um navio que avança para o alto-mar.) Levantar âncoras. Soltar-me. Abrir as velas, ir à deriva, navegar em direção ao desconhecido, seguir com os olhos, com as narinas com o corpo, alcançá-las. Acariciar a pele tafetá de serpente. Heloísa devia perceber a minha sofreguidão, a minha ânsia de vida. Queria amparar-me e conduzir-me. Dar-me-ia o seu próprio corpo, se fosse possível. Vi que me contemplava penalizada, julgando-me um enfermo sem forças para poder ir até o fim do desejo. Percebia que a chama acesa da paixão se acendia apenas nos meus olhos e era logo apagada pelo desgaste corporal. Onde a seiva? Não quis que tivesse pena de mim. Larguei a amendoeira. Perguntei se continuávamos.Sátiro, disse de mim para mim, com grande felicidade. Descobria que os meus sentidos não tinham sido embotados pela escrotidão da cadeia. O meu corpo pesava e me deixava triste, paralisado. Era preciso conduzi-lo à sua alegria de antes, ao seu ardor de buscas e encontros, de fugas e rompantes.Heloísa, os segredos não exalam odores, os segredos são narinas que se revelam ao capricho dos odores. O cheiro do mar, o cheiro de Heloísa, o perfume de flores encarceradas, a essência dos corpos. Por mais que estivessem escondidos no fundo dos abismos, por mais que os julgasse mortos e sepultados nos corredores e celas escuras e tenebrosas, os desejos voltavam a trabalhar à superfície da nossa caminhada matinal em direção ao mar. Os desejos encaminhavam-me para uma jovialidade de sensações que considerava coisa do passado.Alguns dias depois, num fragmento identificado como "Sem data", encontrado na narrativa após às páginas correspondentes ao dia 18/02/98, encontramos o seguinte:O meu corpo, no entanto, está doente. Não sei ainda como conviver com este calor úmido do Rio de Janeiro e com as possibilidades (magníficas em outra ocasião) de um caminhar sem rotas marcadas, como este que é propiciado pela liberdade numa grande cidade.O périplo entre as quatro paredes deste quarto dá às pernas a rotina da marcha dentro de limites estreitos, calculada e reticente, econômica. No cubo protetor deste quarto, as pernas atrofiam-se, o corpo compraz-se com a horizontal, ou dobra-se ao meio no conforto da cadeira. Não piso terra, piso o chinelo; não vejo sol, vejo a lâmpada; não me lavo em rio, lavo-me na pia. ...A paixão requer o desperdício. Requer que se gaste sem economias, sem o espírito de poupança. Requer o corpo e espírito em toda a sua plenitude. Sem perspectiva de futuro, existe o presente.Outro dia, na cadeia, riam de mim enquanto lavava voluptuosamente as mãos. Alguém, às minhas costas, queria que eu não gastasse o sabonete como estava gastando. Depois queria que eu me apressasse, pois desejava usar também a pia, o sabão e a água. "Está gastando demais, vai acabar", "usa e abusa", "deixa para os outros, seu egoísta" – eram os pedaços de frases que se escutava, repetidos até a exaustão. O meu companheiro de cadeia queria que economizasse o sabão, a água e a pele das minhas mãos. Que até mesmo – quem sabe – economizasse a minha energia. Quanto `a mim, só sentia que queria interromper-me na metade. Tornar rotina o ato de lavar as mãos. Deixar-me sem a satisfação, frustrado. Entreguei-me com mais sofreguidão à água e ao sabão, ao esfregar. A voz sem rosto visível não soava mais. Fechara os ouvidos. De repente, eis que uma frase, precisa como um golpe de martelo na cabeça de um prego, abre os meus ouvidos e fura os tímpanos:Ele lava as mãos como se estivesse fodendo.Em 22/01/1937, o personagem sai de casa, após dias de chuva que impediam-no de caminhar e se dirige à praia de Botafogo:Chegando ao destino, parei por alguns instantes junto a um repuxo que fica defronte à baía. É um repuxo onde, se não colaborou a mão do artista original, entrou a do artesão hábil e sentimental, desses que conseguem, se fazem filme ou escrevem peça de teatro, arrancar lágrimas de comoção da platéia. Sua intenção, bem lograda por sinal, foi a de fazer que os jatos circulares de água desenhassem no espaço uma gaiola líquida, dentro da qual se banhava uma ave em mármore. Um cisne, penso, pois tinha o bico voltado contra as penas da asa. Estava admirando a precisão e, por certo, a delicadeza da composição, quando de repente a imagem do repuxo é anulada pela do perfil de uma garota dos seus vinte anos. Atravessava a avenida, escapando dos carros. Ia bronzear-se neste dia de sol ralo, que se sucedeu aos dias chuvosos.

A areia da praia, já tinha reparado, nem seca estava.Admirei o corpo e o andar, o torneado das coxas e a rigidez da carne, as curvas esculturais do traseiro, o vigor no busto e a limpidez de pensamentos no rosto e no olhar. Admirei o corpo e o andar e, sem o sentir, já estava amarrado à corrente da concupiscência, como se fosse o mais fiel dos cachorrinhos. A moça deixava atrás de si um rastro de perfume silvestre, impregnando o ar com doçura e severidade. Deixava-me absorver por aquela atmosfera cálida e esquecia passantes, trânsito, barulhos, vozes. Apenas os dois. Caminhava ela na direção do Morro da Viúva, e lá ia eu atrás.Nisso passou-se o inesperado: mais caminhava, mais sentia o meu membro enrijecer-se. Como tinha saído de paletó, não tive receio do escândalo que poderia causar. "Sátiro", "tarado", "ridículo" – foram palavras que nem passaram pela minha cabeça na hora. Passam agora, quando não posso impedir-me de rever moralmente a cena, encontrando dificuldade em narrar, de maneira singela e verdadeira, o que aconteceu. Enfiei a mão esquerda no bolso das calças e arranjei-o de tal forma que ficaria todo o tempo protegido da curiosidade alheia pelas abas do paletó que se entrecruzavam.Obrigado a abotoar o paletó, já não sentia a aragem que circulava pelo seu interior, esfriando com a umidade da manhã as axilas. O suor ameaçava empapar a camisa.O membro enrijecido – e sensação era extraordinária, tenho de confessar – inchava e subia. Ao subir, levava literalmente consigo o meu corpo, dando-me a nítida experiência de estar em ascensão. Flutuava no espaço. Levitava, como diria um amante das ciências ocultas. Era tomado por uma força que vinha da junção das pernas, da fricção operada pelo movimento cadenciado delas, como se ali estivesse um dínamo que transmitia energia para o membro e toda a parte superior do corpo, esquentando-a, dando-lhe vigor. Tomava conta do tórax, deixava a transpiração solta e forte como um fole, atingia o esôfago, esquentava a boca, iluminava o rosto, fechava os ouvidos, clareava a vista, atiçava os cabelos curtos. Inchava como se fosse um balão de São João. Subia pelos ares. Após alguns dias, em 25/01/1937, o personagem acompanha a esposa ao cais, onde ela embarca para Maceió. Duas semanas depois, ele se muda para uma pensão, onde reflete, em 15/02/1937:Tenho o esqueleto tenso, tenho os músculos tensos. Gostaria de aprender a soltá-los, como que para deixar que o meu corpo exista sem os constantes enredos, mandos e desmandos da cabeça. Queria o meu corpo solto no ar do Rio de Janeiro, fazendo brincadeiras coma brisa marinha, como se travasse com ela uma relação sexual. Quando passo pela rua, sinto que abro caminho no ambiente como se fosse um navio torpedeiro, antagonizando o ritmo natural das ondas humanas. Viver no ar como se bóia na água.A partir de então, já de novo pesquisando e escrevendo ficção, o personagem lança-se ao trabalho em seu quarto de pensão. Uma pesquisa sobre o inconfidente Cláudio Manuel da Costa passa a ocupá-lo por inteiro. Quase ao final da narrativa, na data de 20/03/1937 ele nos conta:Há dias saltei do trampolim. Há dias mergulhei. Retenho a respiração por dias seguidos; retive-a enquanto não explodiam os meus pulmões. Não agüento mais a pressão da água. Tenho de voltar à superfície para respirar.Quando mergulhar de novo, Cláudio já existirá na folha de papel em branco, onde jogarei as suas palavras. Não serei mais eu....Fui eu quem escreveu: em golfos de esperança flutuando mil vezes busco a praia desejada; e a tormenta outra vez não esperada ao pélago infeliz me vai levando....Sinto a energia e a intensidade que existem reprimidas na frase de Cláudio. Abro as comportas. Deixo que se espichem, se robusteçam, exercitando-se por algumas páginas mais.Volto à superfície.O final da narrativa se dá em 26/03/1937, quando o personagem vai ao cais buscar a esposa.

Fonte: passeiweb